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A maior tempestade de areia da última década

Gao Jing

Na manhã da passada segunda-feira, uma enorme tempestade encheu de areia os céus do norte da China, levando a que o Centro Nacional de Meteorologia aumentasse para a cor amarela o alerta de tempestade de areia

Esta é a maior tempestade do género a atingir a China na última década. Mas de onde vêm estas ondas de areia? Porquê numa dimensão tão grande?

“Esta tempestade afetou uma grande área e foi a maior tempestade de areia da última década”, afirma Zhang Bihui, diretor do Centro Meteorológico da Administração Meteorológica chinês.

Segundo o Centro Nacional de Meteorologia, entre os dias 14 e 15, as regiões de Pequim, Norte de Hebei, Norte de Shanxi, Centro e Oeste da Mongólia Interior e Oeste de Gansu foram atingidas pela tempestade, com um campo de visibilidade de apenas 500 metros. Satélites de monitorização meteorológica estimam que a tempestade tenha coberto uma área de 46,6 mil quilómetros quadrados.

Nas ruas de Guazhou, cidade de Jiuquan em Gansu, devido à poeira no ar, os carros andavam devagar e viam-se poucos peões na rua. Foram também aplicadas algumas restrições temporárias nas autoestradas.

O Observatório Meteorológico da Mongólia Interior durante a madrugada de dia 15 emitiu um alerta laranja de tempestade de areia. Nas regiões do Oeste de Alxa, Bayan Nur, Wuhai, Ordos, Baotou, Hohhot e Xilingol, as tempestades resultaram numa visibilidade de apenas 500 metros, ou até mais reduzida, até 200 metros, em algumas regiões. Nas ruas de Hohhot conseguia sentir-se o forte odor da areia no ar. Antes de sair de casa, toda a gente se protegeu, usando máscaras e lenços. Várias escolas em Hohot, Baotou e Alxa ajustaram o calendário escolar, suspendendo aulas e atividades ao ar livre.

Durante a tarde de dia 15, à medida que a principal onda de areia se aproximava do Norte da China, a qualidade de ar de algumas regiões deteriorou-se rapidamente. Por exemplo, no distrito 6, em Pequim, a concentração de PM10 atingiu os 8.108 microgramas por metro cúbico. 

De onde vem esta areia?

Zhang Bihui explica que as areias que atingiram o norte da China têm, na sua maioria, origem na Mongólia. Com o desenvolvimento de um ciclone na Mongólia, estas poeiras moveram-se em direção este e sul com a massa de ar frio, chegando então ao norte do país. Adianta que existem duas principais causas para o fenómeno: ao longo da última estação as temperaturas na Mongólia e na região do noroeste da China foram relativamente altas, com uma média entre os 5 e os 8 °C. Durante esse período, a precipitação também foi rara na região, criando as condições ideais para aparecimento de poeiras. De seguida, sob a influência do ciclone da Mongólia, a área desde a região norte de Xinjiang até ao centro-oeste de Gansu, grande parte da Mongólia Interior e norte da China, foram atingidas por ventos de nível entre 6 e 8, ou seja, aquelas condições térmicas e dinâmicas criaram o ambiente perfeito para uma tempestade de areia. 

Mais de 70% das tempestades de areia da China ocorrem entre os meses de março e maio. Zhang Bihui explica que a primavera é a estação com mais poeira. À medida que a temperatura vai subindo durante a primavera, o gelo derrete e dá origem a poeira. Ao mesmo tempo, durante a estação é mais comum surgirem ciclones, que criam tempestades de areia com as poeiras.

Irá tornar-se num fenómeno comum?

A população do norte da China tem sentido que ao longo dos últimos anos a frequência deste tipo de tempestades tem diminuído. Estudos revelam também que desde o ano de 1961 as tempestades de areia na China têm decrescido significativamente.

Wu Hongyi, chefe do departamento de meteorologia da Estação Meteorológica de Pequim, afirma que a última tempestade de areia na cidade foi há seis anos, no dia 15 de abril de 2015. A 18 de março de 2020 foi fustigada por ventos fortes de areia. Em março, o número médio de dias com altos níveis de poeira em Pequim é de 2,4. O máximo registado até ao momento foi de 12 dias (em 1954) e o máximo desde o início do novo século foi de nove dias, em 2001.

Zhang Bihui, afirma que os dois principais fatores do fenómeno este ano foram uma subida de temperatura, baixos níveis de precipitação e o ciclone forte na região da Mongólia. “Esta combinação não constitui condições meteorológicas normais”, assinala.

Conseguem as florestas evitar tempestades de areia?

Zhang Bihui explica que a principal razão para a plantação de florestas de proteção visa conseguir algumas alterações na vegetação da superfície, porque esta não causa grande impacto nas forças do vento. Todavia, para grandes fenómenos meteorológicos como este, estas florestas ainda têm um efeito quase nulo.

“Isto vem relembrar que devemos continuar a promover a arborização, prevenção de desertificação e controlo ambiental. Por seu turno, os departamentos meteorológicos devem continuar a melhorar a monitorização e prevenção de fenómenos como estes”, conclui.

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