O coronavírus afeta duramente a indústria do turismo à escala global e Macau aprendeu uma valiosa lição, espero.
A diversificação económica da RAEM, a procura de novos caminhos de desenvolvimento e a alteração da estrutura industrial nunca foi tão importante quanto é agora. No entanto, dando uma olhadela no projeto do Plano Diretor da RAEM 2020-2040 recentemente apresentado, ver-se-á que apenas 2% a 4% da área global de Macau, até 2040, aproximadamente 36,8 km3, incluindo os novos aterros urbanos, serão destinados às zonas comerciais e zonas de atividades industriais que produzem o desenvolvimento e promovem a diversificação económica. Entende-se que, não há grande diferença com o que temos agora. Por isso, acredito que, nos próximos 20 anos, ainda será difícil para Macau livrar-se dos grilhões da indústria dominante.
Além das atuais áreas comercias concentradas na Avenida de Almeida Ribeiro e na ZAPE, o projeto do plano diretor da RAEM também tentou incluir algumas áreas antigas nas zonas comerciais, como o Porto Interior. Embora o Porto Interior não esteja dentro da zona do centro histórico nem na zona de proteção de Macau, sempre foi o local historicamente importante que serviu como porta ao comércio exterior. Possui uma história e cultura profundas, e guardam, até ver, a memória coletiva dos séculos passados. Além disso, recentemente, uma peça de artilharia fabricada em Macau foi encontrada numa escavação no cais Ponte 23. Trata-se de uma peça de artilharia antiga que existiu pelo menos durante a Segunda Guerra Mundial, carregada de valor histórico.
Se puder ser renovada, através de uma profunda revitalização urbana, criando novos pontos de interesse, acredito que o Porto Interior pode tornar-se uma verdadeira zona de “cintura de turismo histórico costeiro”, além da área ao redor dos lagos Nam Van e Sai Van. Preservar este precioso património cultural não é apenas uma forma de preservar a tradição, mas é também uma obrigação num contexto histórico que só traz à cidade aspetos singulares.
Algumas pessoas dizem que “tudo no mundo é como xadrez”. Talvez. Mas para mim, num tabuleiro de jogo consigo ver milhares de mundos. Acredito que o planeamento urbano deve ser feito com pés e cabeça, tal como um jogo de xadrez. Jogar com o pensamento e com o enquadramento. E, clar, não descurar o posicionamento regional de Macau. Cada jogada deve ser cautelosa, mas ao mesmo tempo flexível, por forma a planear estratégias.