Macau paga caro a paralisia económica. Apostou todas as fichas na luta contra o novo coronavírus – e ganhou o primeiro round da saúde pública. Contudo, a pandemia não se vai com a tempestade; tira o tapete a quem espera sentado pela normalidade perdida; atira ao chão quem paralisa. O Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, merece elogios pela presciência com que fechou os casinos – e depois fronteiras – com pulso forte, autoridade e coragem. Mas enfrenta agora um desafio mais difícil: o jogo da reconstrução não tem regras definidas, não cai do céu nem se anuncia. Mas urge dar sinais, ter planos credíveis e recuperar a energia do fazer.
Ho Iat Seng está refém do sucesso na contenção pandémica. Já não pode perder o que ganhou na saúde, para agora ganhar a economia que perdeu. Líderes que não perceberam a tempo a prioridade da saúde pública, estão em maus lençóis, como Trump ou Bolsonaro. Mas quem não tiver unhas para a recuperação económica corre a seguir sérios riscos de implodir politicamente.
O centro das decisões está em Pequim. E, neste caso, não vale a pena dramatizar com a perda de autonomia. Primeiro, porque o combate pandémico só faz sentido à escala nacional e global; depois, porque nas fronteiras e nos vistos manda quem pode; finalmente, porque pensar em recuperação económica sem integração regional e apoio nacional é uma pura miríade.
O glamour do próprio Xi Jinping está cada vez mais em causa. E se Ho Iat Seng pensa que pode esperar… não pode. Muitos pensam que sim, que o sucesso no combate pandémico os protege; como outros pensaram há meses que protegerem a economia os protegeria… É no equilíbrio que está o ganho. Gostos, regimes e ideologias à parte, Xi Jinping e Ho Iat Seng têm de abraçar o ciclo da recuperação.
