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A cidade e o paradoxo do vazio

A cidade é comemoração, é vida, é lugar de encontros e desencontros.

A cidade é o local onde nos reconhecemos, que sentimos como nosso e ao qual pertencemos. Que fazer numa cidade vazia?

É na cidade que percebemos de onde viemos, onde estamos e para onde vamos.

A cidade é o lugar das memórias e do futuro.

Mas que fazer numa cidade vazia?

Cada um vê na cidade o seu universo, como diz Walter Rossa na colectânea “Fomos condenados à cidade”.

Sim, nestes tempos estamos condenados à cidade, no pior sentido dessa proibição fomos condenados ao recolhimento e ao vazio que nos custa preencher.

Confinados em quarentenas forçadas vemo-nos despojados de parte das nossas vivências, e, em Macau, um pouco por todo o lado a cidade vibrante deu lugar a uma cidade tristonha e vazia, a lembrar a cidade medieval no tempo das pestes e das cóleras.

Na cidade esvaziada são visíveis os resultados da redução de actividades. O ar leve e menos poluído convida aos passeios que nos estão parcialmente vedados. Os jardins com os acessos controlados obrigam a burocracias para que sejam percorridos. Nas ruas, munidos de máscara, cruzamo-nos e dificilmente identificamos os amigos. Os ajuntamentos são proibidos e a vida diária corre sem sabor, como numa refeição sem tempero.

Estamos na cidade privados da vida citadina.

No passado Domingo, no jornal Público, António Barreto dizia que as cidades desta epidemia são cidades sem vida, paradas no tempo, sem alegria, em oposição às cidades com vida, grandes criações humanas, quase obras de arte.

Entre muitos outros autores cita Lewis Mumford que enalteceu as cidades como obra do espírito e expoente da criação humana.

Não há cidades genéricas, são todas diferentes, obras do génio humano e que precisam de gente e de vibração para sobreviver, é nelas que nos descobrimos e aceitamos o outro. Como indivíduo, como grupo e como comunidade precisamos de uma cidade aberta para sobreviver.

Os problemas são oportunidades para renovação, assim refere Charles Landry. Saibamos, pois, aproveitar o momento para repensar a cidade de Macau.

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