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Os sabores de Macau

Macau é um destino gastronómico de excelência nos panoramas nacional e internacional. A Plataforma de Sabores quer dar a conhecer e contribuir para a preservação e afirmação da gastronomia macaense.

Antonieta Manhão (Neta), macaense, nascida e criada em Macau, é chefe de gastronomia macaense. Começou a ensinar por acaso há oito anos, e é assim que promove os sabores de Macau. Para Neta, cozinhar é também uma forma de relembrar as anteriores gerações.

Uma família, uma receita

A cozinha macaense passou a fazer parte da lista de património cultural intangível de Macau em 2012. Mas nem o título deixa Neta mais descansada, que diz que a qualidade da culinária local está em declínio. A chefe alerta para a urgência em preservar os sabores autênticos uma vez que vários restaurantes alteram as receitas originais para ir ao encontro do gosto dos clientes e contribuem para que autenticidade se vá perdendo.

“Todas as famílias têm as receitas da casa, não existe só uma forma de cozinhar o mesmo prato”, esclarece Neta, habituada, desde pequena, a ver a mãe como a chefe da família e à volta dos tachos para preparar os pratos típicos. A galinha à portuguesa, a capela, o minchi e o balichão de porco estão nessa lista de memórias. Neta diz que a maior parte das receitas de cada família é mantida em segredo e por isso muitas acabaram por desaparecer.

A memória do sabor

Mas afinal o que levou a que Neta começasse a promover a cozinha macaense? “O desejo de preservar a memória destes sabores”, diz. Quando se prova um prato, acrescenta, fica na memória o sítio onde o comemos, seja em casa ou num restaurante, e até a pessoa que o cozinhou. “Se estes pratos desaparecerem, as próximas gerações não saberão o que os seus antepassados comiam, só conhecerão gastronomia portuguesa e chinesa, porque não tiveram contacto com nenhum prato típico macaense. Quero que as próximas gerações possam provar estes sabores, e que sirva como uma ligação aos antepassados”, salienta.

O futuro

Apesar de Macau fazer parte da lista de “Cidades Criativas da UNESCO em Gastronomia”, Neta confessa que teme que os pratos típicos desapareçam se a cidade não der o devido destaque à gastronomia macaense.

No ano passado, o Governo começou a criar uma base de dados com receitas típicas, uma medida que Neta considera positiva, mas insuficiente. “O Governo deve comunicar mais com pessoas das gerações mais velhas enquanto ainda estão vivas, tanto as que vivem em Macau como noutras partes do mundo, para recolher o máximo de receitas. Espero que assim se possa consultar e respeitar as tradições das gerações mais antigas. A chefe deu ainda um exemplo: “Só para o minchi, existem mais de 100 receitas. Podemos votar e escolher as 10 melhores”, sugere.

Como forma de impedir que desapareçam, a chefe defende ainda que as receitas macaenses deveriam ser ensinadas às crianças e sugere que as escolas abram aulas sobre gastronomia local, aproveitando os três ou quatro chefes em Macau dispostos a ensinar. “Mas não pode ser feito apenas com negócio ou o dinheiro em mente, mas sim como forma de preservar a história”, realça.

Meimei Wong 28.02.2020

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