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Pode alguém ser quem não é?

Os sinais estão aí, à vista desarmada. Um pouco por todo o mundo. Do Brexit à eleição de Donald Trump, passando pela Itália de Salvini, a Hungria de Orban e pelo crescimento dos movimentos xenófobos por toda a  Europa central e de leste. Contudo o fenómeno Zeitgeist (espírito do tempo), deste terreno de areias movediças, expande-se além do “Ocidente”. Teve expressão com Duterte nas Filipinas e agora de forma particularmente preocupante para o mundo lusófono em Bolsonaro no Brasil. Não obstante as diferenças entre os intérpretes destes fenómenos, une-os o populismo, a demagogia, uma retórica anti-liberal e até anti-intelectual. Trata-se de uma reação contra a globalização, pontuada por nacionalismo,  autoritarismo, xenofobia, em certos casos até de homofobia ou negacionismo (face ao impacto do homem nas alterações climáticas). A era das redes sociais e da proliferação das notícias falsas gera terreno fértil para testemunharmos a ascensão de “homens providenciais” – escolhidos pelo povo em sistemas de democracia eleitoral. 

No caso de Jair Bolsonaro, estamos perante alguém que corporiza quase todos os ingredientes desta nova era, mas que também, pela sua natureza errante e inconsistente, se torna ainda mais perigoso que os seus congéneres da direita radical populista europeia e norte-americana. Todavia, ficar por este diagnóstico e por campanhas de boas consciências de rejeição nas ruas ou nas redes sociais poderá acabar por ser relativamente inconsequente. Compreender como chegámos aqui é fulcral. Seja na Europa, nos Estados Unidos ou no Brasil. E perceber o que leva as massas a eleger ou dar força política a estes movimentos e figuras.  Foram anos ou até décadas em que questões ligadas ao emprego, segurança social e pública, educação, saúde, desigualdades, transparência e honestidade no exercício de cargos públicos foram ou ignoradas ou subavaliadas. Se o Brasil vier mesmo a escolher Bolsonaro como presidente, talvez seja reconfortante presumir que no Palácio do Planalto Jair Messias se torne “presidenciável”. Também havia essa esperança com Trump e o resultado é o que se vê. Vem-nos à memória uma frase/pergunta batida cantada por Sérgio Godinho: “Pode alguém ser quem não é?”  

José Carlos Matias 12.10.2018

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