Quatro anos depois de ter completado a sua última operação, a Central Térmica de Macau está desde maio a ser desmantelada, num processo que deverá estar concluído no terceiro trimestre de 2018. No seu lugar, irá erguer-se um complexo de habitação social composto por perto de mil frações, atualmente em fase de planeamento.
Quem passar agora pelo cruzamento da Avenida Venceslau de Morais com a Rua dos Pescadores irá encontrar um cenário de demolição. A Central Térmica de Macau, que ali se situava, está desde maio a ser desmantelada, num processo que deverá estar concluído no terceiro trimestre de 2018. A Companhia de Eletricidade de Macau (CEM) afirma que desde 4 de junho de 2013 que esta já não funcionava formalmente.
A Central Térmica de Macau existe desde 1905 e durante mais de 100 anos foi usada para gerar eletricidade. De início foi operada pela Macau Electric Lighting Company Limited (MELCO), passando a ser substituída pela CEM, em 1985.
Desde que a eletricidade passou a ser adquirida na China continental e também produzida na Central Elétrica de Coloane, a Central Térmica de Macau entrou “gradualmente (…) num estado de suspensão [2000] e começou a ser desmantelada formalmente em 2017, depois da sua última operação em 4 de junho de 2013”, segundo refere a CEM numa nota.
A atual Central Térmica de Macau contém seis geradores, ativados entre 1973 e 1985. Cinco unidades antigas a diesel, ativadas entre 1964 e 1971, estão fora de serviço mas ainda se mantêm no local do projeto, segundo a informação que consta na página da CEM.
A primeira fase de trabalhos para o desmantelamento teve início em abril de 2016 e terminou em agosto de 2016, com os trabalhos de preparação, que incluíram, por exemplo, um estudo de impacto ambiental e a aprovação desse pela Direção dos Serviços de Proteção Ambiental (DSPA).
O arranque da preparação para a demolição deu-se em janeiro de 2017, com “a remoção de materiais perigosos, tais como amianto”, conforme se lê na página da CEM. Em maio iniciou-se o desmantelamento e remoção do equipamento da Central.
O presidente da Associação para a Proteção Ambiental Industrial de Macau, António Trindade, refere que “faz todo o sentido” proceder ao desmantelamento, demolição e descontaminação da Central Térmica de Macau, dada a localização junto a um aglomerado populacional e atendendo ao material já “pouco eficiente” que ali se usa.
Uma fonte ligada às operações da CEM recorda que, quando a Central Térmica de Macau foi criada, ali “eram os arrabaldes de Macau, ficava longe de tudo, eram quintas e havia porcos à volta, não havia habitações”. Agora, por “estar dentro da cidade”, e “por questões ambientais e de eficiência”, a central é descontinuada.
No que toca aos cuidados a ter, António Trindade, também presidente da empresa CESL-Ásia, diz que “tem de haver uma avaliação específica”, dando-se grande ênfase “a considerações ambientais”, por o processo não ter impacto apenas atmosférico mas também nos solos. “Há que ter cuidados no desmantelamento da central por causa das emissões que podem ocorrer devido a esse mesmo desmantelamento e do próprio processo de remoção daquela zona para o sítio onde vão ser depostos os detritos em construção”, diz.
O relatório de estudo de impacto ambiental aprovado pela DSPA em 1 de setembro de 2016 conclui que com a execução deste projeto “não estão previstos impactos residuais adversos”, estabelecendo-se uma “monitorização ambiental e um programa de auditoria” para fiscalizar o andamento dos trabalhos.
CEM quer menor importação de energia
No que toca ao futuro do fornecimento de energia depois de desmantelada a central, a CEM destaca a importância do “fornecimento local de energia [e não importado da China Continental]”, considerando ser este “a chave para assegurar a segurança e estabilidade do abastecimento de energia em Macau, por conseguir ir ao encontro do pico da procura, manter o abastecimento quando o transporte de energia [da China] se encontra ferido de problemas técnicos ou outros, além de reduzir o custo de produção de energia quando o preço do combustível está baixo”.
Por isso, a empresa “tem estado em discussão com o Governo de Macau [para] a construção de unidades de geração com turbina a gás de ciclo combinado na Central Térmica de Coloane, de maior eficiência e amigas do ambiente, para substituir alguns geradores obsoletos”.
A CEM tem anunciado nas suas ações de promoção junto das escolas e de outras instituições que, em linha com o pedido do Governo para desativação da Central Térmica de Macau, a empresa de eletricidade propõe ao Executivo que se substituam algumas das unidades de geração a diesel por uma nova unidade de geração com turbina a gás de ciclo combinado. “O que querem é desmantelar grupos como este e mais alguns, que estão ultrapassados também nas outras centrais [de Coloane]”, explica fonte ligada às operações da CEM.
Por outro lado, “o Governo planeia efetuar [ali] a construção de habitação pública no terreno da Central Térmica de Macau, situado na Avenida de Venceslau de Morais”, conforme indicou por nota o Instituto de Habitação. A página de Internet deste organismo do Governo refere que está em andamento um projeto de quase mil frações de habitação social, cuja “concepção do projeto já foi adjudicada”.
Luciana Leitão