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Cooperação entre China e Europa passa pelo Cazaquistão

A cimeira da Organização para Cooperação de Xangai (OCX) no Cazaquistão teve lugar nos dias 8 e 9 de junho. No dia seguinte teve início a Expo Astana 2017, que deverá prolongar-se nos próximos três meses. Estes dois eventos são prova da crescente importância geopolítica e geoeconómica do Cazaquistão, assim como da Ásia Central.

A China e a Rússia são as maiores nações que fazem atualmente parte da OCX. Os restantes quatro países são todos Estados da Ásia Central: Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão e o próprio Cazaquistão.

Por isso, devido aos seus membros, por enquanto o foco da OCX incide sem dúvida sobre a Ásia Central. Esta é também uma região vital para a Faixa Económica da Rota da Seda, que constitui metade da iniciativa chinesa Faixa e Rota.

A rota terrestre da Faixa Económica da Rota da Seda para a Europa passa através da Ásia Central. Os aspetos mais importantes desta rota são sem dúvida as ligações ferroviárias. Até agora, o desempenho destas ferrovias tem sido estável, porém relativamente medíocre. Contudo, a situação deverá mudar à medida que a China coloca uma maior ênfase na conectividade ao longo da região eurasiática.

Durante uma recente conferência na Polónia, académicos da Universidade de Sichuan em Chengdu realçaram os avanços da ligação ferroviária China-Europa nos últimos meses. Segundo eles, em maio foram transportadas por comboio pela primeira vez maçãs polacas para os mercados de Chengdu. A entrega foi várias semanas mais rápida do que a via marítima, demonstrando o seu potencial.

As maçãs poderão parecer um artigo comercial insignificante, mas em termos da cooperação sino-europeia através da rota da Ásia Central, a entrega destas humildes frutas representa mais do que um simbólico passo em frente. Embora o número de comboios entre a China e a Europa tenha vindo a aumentar rapidamente, a maioria das carruagens enviadas da China têm até agora voltado vazias. O facto de os europeus estarem a começar a avistar as possibilidades de exportar certos produtos para a China de comboio traz uma nova dimensão à rota terrestre emergente ao longo da Rússia e do Cazaquistão.

Os académicos da Universidade de Sichuan assinalaram que a cidade de Chengdu está a construir um enorme “porto” ferroviário para abordar o comércio emissor e recetor com a Europa. Junto ao porto está um mercado que possui algumas secções estabelecidas para a venda de bens de luxo europeus e outros produtos. A ferrovia através da Ásia Central está claramente a assumir uma importância cada vez maior para a província interior de Sichuan.

O próximo passo, segundo afirmaram, consiste em persuadir as empresas europeias de que a nova rota comercial pode ser rentável, e de que existem clientes chineses que desejam comprar os seus produtos. Se tal acontecer, a Faixa Económica da Rota da Seda irá verdadeiramente começar a arrancar à medida que ganha dinâmica e mais empreendedores começam a perceber o potencial da rota.

Relativamente à Ásia Central, o crescente comércio entre a China e a Europa apenas constituirá boas notícias. À medida que a rota atravessa o seu território, os cidadãos da Ásia Central poderão também lucrar, recebendo uma percentagem das receitas geradas e estimulando as suas economias.

Incentivar uma interdependência económica cada vez maior entre países é um dos principais objetivos da Iniciativa Faixa e Rota. Melhorar as ligações de infraestruturas e de transportes entre países ao longo da nova Rota da Seda é por conseguinte a chave para  o sucesso da iniciativa.

Ao mesmo tempo, é importante lembrar que a Faixa Económica da Rota da Seda não tem por base sonhos irrealistas mas antes sólidos princípios económicos de oferta e procura. À medida que são criados novos mercados, haverá ganhos a realizar por qualquer um dos envolvidos. É esta a razão pela qual o Presidente Xi Jinping, de visita ao Cazaquistão para a cimeira da OCX e a abertura da Expo Astana, sublinha repetidamente que a Iniciativa Faixa e Rota pretende criar sinergias reciprocamente benéficas com as mais de 60 nações incluídas.

Como organização facilitadora, a OCX é também a chave do sucesso da nova Rota da Seda terrestre. Ao oferecer um fórum onde as partes interessadas podem trocar ideias e informação, ajuda a atenuar possíveis tensões e a criar uma atmosfera de confiança, principalmente entre a China e a Rússia.

Os cidadãos da Ásia Central, que possuem laços históricos com a Rússia, entendem a importância de manter uma relação pragmática com o seu gigantesco vizinho a norte. Encontrar sinergias entre a OCX e a União Económica Eurasiática da Rússia é por isso crucial para o sucesso da Faixa e Rota no que diz respeito às partes envolvidas.

Os europeus devem também perceber que é do seu interesse desejar resultados positivos da cimeira da OCX e melhores ligações com a China através da Ásia Central e Rússia. O mundo evolui através da aceitação da mudança e não da sua rejeição.

Explorar formas de integrar mercados europeus com mercados asiáticos irá também beneficiar os europeus. A rota para a China que atravessa o Cazaquistão e a Ásia Central deverá por isso tornar-se numa rota vital à medida que os mercados europeus e asiáticos continuarem a tornar-se economicamente interdependentes durante o resto do século XXI.

Jeremy Garlick* ‭ ‬

* Professor de Relações Internacionais no Centro Jan Masaryk de Estudos Internacionais da Universidade de Economia de Praga

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