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A China agradece

Sobretudo na Ásia, mas também na Europa, há um permanente debate entre os valores supostamente globais projetados pelos Estados Unidos e a desconfiança face à sua ambição hegemónica, domínio económico e poder militar. Até mesmo Obama, teoricamente diferente, sentiu necessidade de se despedir dizendo que a nação continua a ser “a maior e mais ponderosa” do mundo. A democracia – e os direitos humanos – pese a sua perversidade prática, continua a ser “a pior forma de governo, à exceção de todas as outras”, na sábia expressão de Churchill. Trump terá as suas razões para esbanjar esse capital com um discurso xenófobo e protecionista, mas com isso abandona de mão beijada o terreno a novas correntes de liderança global. Pequim tem razões para sorrir.
Ninguém diria! No Fórum de Davos, Xi Jinping surgiu esta semana como rosto da esperança no comércio livre, mas também da paz e do progresso que lhe estão associados. Afinal, essa é a base do multilateralismo e dos negócios que, beneficiando todas as partes, alimentam o progresso e contêm o conflito. Em plena crise económica – profunda e durável – o nacionalismo exacerbado e o protecionismo económico podem até conquistar votos em casa, mas contrariam a vontade da civilização global. África, América Latina, e mesmo a Europa, precisam de parcerias e de soluções – não de ameaças e de pressões. E é isso que a China oferece, apesar do óbice da ditadura ou do ego nacional que alimenta a sua afirmação internacional.
Há muito que a agenda dos direitos humanos saiu da boca dos líderes ocidentais, mais preocupados com os direitos económicos, como sempre pretenderam os tigres asiáticos. Contudo, ao ver os direitos económicos como um exclusivo do seu próprio umbigo, ainda por cima de mãos dadas a outro império de valores nada universais – a Rússia de Puttin – Trump abandona o terreno onde se jogam todas as outras alianças. Tem um poder militar imbatível, mas a médio prazo vai sofrer retaliações económicas. E já perdeu o capital mais caro à América hegemónica: simpatia e representatividade global.

Paulo Rego 

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