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Cuidado com a armadilha da corrida às armas

Realizou-se na nossa cidade vizinha de Zhuhai a 11ª Exposição Internacional de Aviação e Astronáutica da China (também conhecida como o Espetáculo Aéreo de Zhuhai). Este ano marca também o 20º aniversário do espetáculo aéreo, sendo por isso uma ocasião particularmente grandiosa. O Espetáculo Aéreo de Zhuhai é um evento bienal, realizando-se de dois em dois anos, mas o equipamento aeronáutico e astronáutico aí exibido é sempre o equipamento topo de gama mais avançado que a China possui. Este equipamento aeronáutico e astronáutico é também muitas vezes visto como uma exibição do nível avançado da China em termos de armamento, atraindo por isso a atenção de muitos especialistas ou aficionados do mundo das armas militares.
O Espetáculo Aéreo de Zhuhai deste ano, para além de mostrar os vários modelos chineses mais recentes de aviões de passageiros e de outro tipo de aeronaves civis, também exibiu muitas aeronaves avançadas da China. Para além do notável caça furtivo de nova geração Chengdu J-20, outros aviões tiveram também aí a sua estrondosa primeira exibição, como a nova versão do Chengdu J-10, o Xian H-6, o Xian Y-20, o CAIC Z-10K e o AVIC AG600, um avião anfíbio de grande porte.
Para além dos veículos acima mencionados, foram também mostrados no evento outros equipamentos de uso militar, incluindo: os drones WJ600A/D e Rainbow 5, a nova geração de radares OTH, os mísseis supersónicos anti-navios CM302, o tanque de combate principal VT4, o canhão de assalto de 105mm STI, o veículo blindado de combate de infantaria com lagartas VN12, o veículo blindado com rodas VN4 e o veículo leve com proteção contra minas VP11, entre outros.
Entre todo o armamento militar exibido nesta edição do Espetáculo Aéreo, o caça furtivo Chengdu J-20 e o drone Rainbow 5 foram os que mais atraíram as atenções. Aquando da exibição do Chengdu J-20, o general Ma Xiaotian, comandante da Força Aérea do Exército de Libertação Popular, surgiu no local e referiu que ainda não existem planos para a venda do J-20, e quanto ao Rainbow 5, segundo descrito, já foram produzidas bastantes quantidades.
Os dados revelados pelo Espetáculo Aéreo deste ano foram: quase 400.000 visitantes, incluindo mais de 250.000 do público geral, mais de 130.000 especialistas e um total de 40 mil milhões de dólares em aquisições durante os 6 dias da exposição. Pode dizer-se que o resultado foi bastante positivo.
No que diz respeito aos helicópteros em exibição, notei que o CAIC Z-10K, embora não possa ser considerado o melhor helicóptero armado da China, possui uma enorme capacidade de carga. Isto levou-me a recordar quando, durante as operações de socorro do sismo de Sichuan de 2008, o nosso país não possuía helicópteros de grande porte para transportar equipamentos volumosos para as zonas afetadas pelo terramoto e pelos desabamentos e aí efetuar operações de salvamento e drenagem. Posteriormente, foi necessário alugar helicópteros M-26 à Rússia para transportar equipamentos pesados até às áreas afetadas e aí executar as missões de socorro. Durante este período, um piloto de helicóptero do Exército de Libertação do Povo perdeu a vida nas operações de salvamento. Desde então, a necessidade da China possuir helicópteros de carga pesada tem sido alvo da atenção das autoridades competentes, tendo recentemente sido feitos avanços no desenvolvimento deste tipo de helicópteros através de uma cooperação sino-russa.
O helicóptero M-26 é atualmente o maior do mundo ainda em serviço ativo. A sua capacidade máxima de carga içada é de 56 toneladas, sendo que na cabine é de 20 toneladas. A colaboração sino-russa no desenvolvimento de novos helicópteros de carga pesada, para um país em que os desastres naturais são frequentes, é algo de uma necessidade urgente.
Quanto aos aviões de transporte de grande dimensão, a China já definiu um plano de cooperação com um fabricante de aeronaves da Ucrânia para o fabrico do An-225. O avião possui 84m de comprimento, 250 toneladas de capacidade de transporte e uma velocidade de 850 km/h. Numa altura de desenvolvimento económico, o transporte de mercadorias de grande dimensão e quantidade exige o uso deste tipo de veículos de transporte.
Embora no Espetáculo Aéreo de Zhuhai tenham sido exibidos muitos equipamentos militares topo de gama que deleitaram os olhos dos espectadores e causaram orgulho a todos os chineses, estamos ainda sob a sombra das estratégias norte-americanas de “Retorno à Ásia” e “Reequilíbrio da Ásia-Pacífico”. Os armamentos avançados dos Estados Unidos surgem constantemente na região da Ásia-Pacífico e até no Mar do Sul da China, exibindo à China as avançadas tecnologias militares norte-americanas com o objetivo de conter a ascensão pacífica do país. Se formos gastar mais recursos financeiros, mentais e físicos para desenvolver armas mais modernas, volumosas e poderosas como resposta, isso irá abrandar o nosso crescimento económico. Depois de cair na armadilha da corrida armamentista criada por mãos alheias, é difícil de lá escapar.

DAVID Chan 

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