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MACAU DÁ PRIMEIROS PASSOS NO MERCADO DAS APPS

 

Jovens licenciados na área das tecnologias com espírito empreendedor têm procurado ajudar empresas e Governo a tirar partido das oportunidades que a massificação dos smartphones oferece. O desenvolvimento de aplicações móveis é um negócio em expansão na Região, mas o mercado está ainda longe da maturidade.

 

Os 1576 resultados gerados numa pesquisa por Macau na App Store do iPhone provam que a Região não tem passado ao lado do potencial das aplicações móveis, mas também deixam perceber como há ainda um caminho a percorrer para a afirmação das apps made in Macau tanto no mercado local como a nível internacional.

A popularização dos dispositivos móveis, nomeadamente dos smartphones, revolucionou o mercado e a comunicação, verificando-se uma expansão da sua utilização em todas as áreas de negócio. Em Macau, o Governo parece estar mais consciente da importância da presença no mundo digital do que o setor privado, que teoricamente deveria ser o principal interessado em encontrar formas eficazes de ir ao encontro do cliente.

A SoftFabrique é uma empresa criada por Keng Wong, de 26 anos, com outros três sócios, em 2010, meses depois de concluir a licenciatura em engenharia de software na Universidade de Macau, e hoje dedica-se sobretudo ao desenvolvimento de apps. “Tinha um emprego em part-time numa empresa, mas quando soubemos que o Manetic estava a aceitar candidaturas eu e outros três amigos que também eram estudantes da área de tecnologias decidimos criar um negócio próprio”, explicou em declarações ao Plataforma Macau.

A SoftFabrique constatou que “o iPhone se estava a tornar muito popular no território” e viu aí uma oportunidade de negócio. “Abrimos a empresa com o objetivo de desenvolver aplicações para dispositivos móveis. No início tínhamos pouco negócio, porque as apps não eram ainda muito populares em Macau, mas ao fim de um ano começámos a ter mais pedidos, sobretudo do Governo”, segundo o sócio fundador.

Cinco anos depois, a empresa desenvolve apps sobretudo para serviços governamentais, constatando que “a maior parte das empresas locais considera que o custo associado a este serviço é muito caro”.

A K-Track Multimedia Production, criada em 2012 por Terry Kuong, também licenciado na área de tecnologias, e outros três sócios, enfrenta as mesmas dificuldades. “Não é fácil uma empresa destas ser rentável, desenvolvemos apps sobretudo para departamentos do Governo, apesar de termos também alguns clientes no setor privado”, explicou Terry Kuong.

De acordo com o empresário, o “Governo encomenda mais apps do que as empresas talvez porque tem mais dinheiro e o setor privado considera que não vale tanto a pena o investimento porque o mercado local é pequeno”.

“Mas as apps são um bom investimento, porque ajudam a empresa a promover melhor a sua imagem, podem funcionar como publicidade e ainda como meio para oferecer produtos e serviços aos clientes, pois hoje toda a gente acede à Internet através do telemóvel”, apontou Keng Wong.

A JSI Information Technology criou, por exemplo, uma app através da qual um “dono de várias lojas que viaja muito pode saber quanto fatura por dia cada um dos seus espaços”, explicou Jordan Kuan, um dos sócios, para salientar como estas ferramentas são multifuncionais.

Esta empresa foi criada por Jordan e dois amigos depois de ter trabalhado no departamento de Tecnologias de Informação de um casino. “Era um trabalho chato e achava que podia dar o meu contributo para as pequenas e médias empresas de Macau, por isso decidi abrir um negócio com dois sócios”, disse, indicando que o objetivo era “oferecer software criativo”.

As aplicações móveis são um dos produtos que a JSI oferece, pois “os computadores já não são suficientes para os utilizadores e os smartphones têm a vantagem de serem pequenos computadores que podem ser consultados em qualquer lado”. A empresa, ao contrário das outras duas, tem conseguido sobreviver à custa do setor privado. “Há cada vez mais empresas que nos pedem apps e já não apenas para efeitos informativos, agora também nos pedem algumas funções complicadas”, realçou Jordan Kuan.

 

FALTA CRIATIVIDADE

 

A JSI tem vindo a explorar as vantagens de Macau como capital mundial do jogo, desenvolvendo aplicações a pensar nos jogadores, uma delas para verificar os bilhetes da lotaria Mark 6 de Hong Kong e outra dedicada ao bacará. Por outro lado, a K-Track criou uma app, a pedido do Governo, que permite a consulta de legislação local e outras publicações relacionadas com Direito em português, chinês e inglês. E a SoftFabrique desenvolveu outras para departamentos governamentais comunicarem informações e novidades das respetivas áreas.

“Há muitos jovens em Macau interessados em desenvolver apps, mas falta-lhes ainda criatividade. A maior parte são quase cópias de outras já existentes e não conseguem acompanhar a tendência mundial”, lamentou Jordan Kuan, considerando que falta inovação nesta área. Keng Wong atribui a situação à pequena dimensão do mercado local, à falta de oportunidades de formação e à pouca experiência dos recursos humanos nesta área.

Jordan Kuan diz existir potencial para Macau “ter uma indústria de tecnologia”, mas alerta que “é preciso investir primeiro em educação”. “Quando era estudante, a universidade tinha um laboratório desatualizado, isto não favorece o desenvolvimento das capacidades dos jovens, e depois é preciso apoiar mais quem se lança num negócio destes a encontrar oportunidades”, sustentou.

Keng Wong diz que a sua empresa “tem pouco lucro, mas consegue ir sobrevivendo”, manifestando-se otimista quanto ao futuro. “O negócio está a crescer, também porque os telemóveis são cada vez mais avançados e as empresas estão mais interessadas em oferecer aplicações móveis para oferecer serviços aos clientes”. Terry Kuong realçou também que as oportunidades estão aí até porque “as pessoas usam mais apps do que consultam sites no telemóvel”. Resta agora, para estes dois empresários, encontrar estratégias para aumentar o mercado. “Estamos a planear desenvolver apps a pensar nos turistas, vamos tentar lançar alguma coisa este ano”, disse Keng Wong. Terry está de olho no mesmo negócio. “Vamos pensar em desenvolver apps para os turistas e para o mercado da China continental. Agora que temos experiência vamos pensar então em entrar noutros mercados”.

Jordan Kuan atreve-se mesmo a lançar um desafio: “Macau devia procurar desenvolver uma app que fosse representativa do território e que toda a gente associasse a Macau, como o Facebook”.

 

Patrícia Neves

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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