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ESTUDO ALERTA PARA “EFEITO DESASTROSO” DE RESTRIÇÕES À IMPORTAÇÃO DE MÃO-DE-OBRA

 

A demora do Governo em reagir às necessidades das empresas de importação de mão-de-obra poderá causar subemprego com efeitos económicos perversos, conclui um estudo da consultora RPO Global a que o Plataforma Macau teve acesso. A firma especializada em estratégia de recursos humanos prevê que, em resposta, investidores como as operadoras de jogo começarão a “piscar o olho” a mercados vizinhos.

 

A consultora da área de recursos humanos RPO Global, sediada em Hong Kong e que trabalha com várias empresas da Ásia, ajudando-as nomeadamente a otimizar o seu processo de recrutamento, está a expandir-se para Macau, disse ao Plataforma Macau o sócio da firma, Antoine Fasse.

A empresa elaborou então um estudo para “conhecer de forma aprofundada os atuais desafios do mercado laboral local, de modo a compreender antecipadamente os atuais e potenciais clientes”. A pesquisa, que passou pela realização, entre janeiro e agosto, de entrevistas a 180 pessoas com posições do nível operacional ao executivo em setores da economia local como a hotelaria, jogo, construção e retalho, focou-se nas “consequências do conflito entre o crescimento das receitas e a crescente necessidade de talentos e no impacto desta situação sobre o desenvolvimento de Macau”.

A maioria dos respondentes, indica o estudo, “acredita que o Governo de Macau vai relaxar as restrições à importação de mão-de-obra nos próximos 12 meses, já que parece não existir alternativa para responder às necessidades dos empreendimentos que vão abrir nos próximos cinco anos”. No entanto, a RPO Global avisa que, se o Governo “for demasiado lento a implementar estas mudanças”, o efeito sobre a economia “será desastroso” e “investidores estrangeiros começarão a olhar para outros locais na Ásia para investimentos sustentáveis”.

Segundo Antoine Fasse, o subemprego é o principal “efeito desastroso” que esta situação poderá causar, ou seja, “não haver pessoas suficientes para ocupar as posições disponíveis” no mercado laboral. As consequências poderão ser uma “queda na qualidade do serviço” em áreas em que existe um contacto direto com o cliente, “atrasos no desenvolvimento de projetos e até potenciais cancelamentos ou fim de parcerias, quando as empresas perceberem que não vale mais a pena investir na expansão no mercado local devido aos elevados custos da mão-de-obra e falta de confiança na sustentabilidade”.

“Sem um fluxo consistente de talentos disponíveis para substituir aposentados, para contratar aquando da abertura de novos empreendimentos e para gerir a rotatividade normal, qualquer crescimento futuro será afetado”, conclui.

Segundo o responsável da RPO Global, se o Governo de Macau não agir em tempo útil, investidores estrangeiros, especificamente as operadoras de jogo, começarão a planear expandir os seus negócios para outros mercados asiáticos em detrimento de Macau. “As Filipinas relaxaram as suas restrições de jogo e espera-se que o Japão faça o mesmo”, disse, considerando que, se os custos com mão-de-obra forem vistos pelas empresas “como excessivos ou uma força laboral sustentável não estiver disponível”, a “opção de expansão para outros lugares tornar-se-á mais atrativa”.

O estudo da RPO Global observa que “cada vez mais países da Ásia Pacífico estão a relaxar as restrições de emprego para as indústrias hoteleira, de jogo e de construção e que vários mercados estão a abrir as portas à indústria do jogo, tendo em vista conseguir uma fatia do sucesso de Macau”. Este cenário, estima a consultora, “vai intensificar a concorrência no mercado laboral de Macau e deixará poucas opções para as empresas locais contratarem mais pessoal”.

 

TÁTICAS INSUSTENTÁVEIS

A escassez de mão-de-obra está a levar os empregadores de Macau a oferecerem pacotes remuneratórios cada vez mais elevados e uma rápida progressão na carreira como tentativa de atrair e reter trabalhadores, práticas que a RPO Global alerta que afetarão os negócios e, consequentemente, toda a economia de Macau.

Ao referir que “algumas empresas já viram os seus custos com mão-de-obra aumentar cerca de 30% ou mais nos últimos três anos”, o estudo defende que “esta tendência não pode continuar indefinidamente e é apenas uma solução de curto prazo para um problema a longo prazo”.

Antoine Fasse sublinha que, caso esta prática se mantenha, a “rentabilidade das empresas vai descer e oportunidades noutros países poderão tornar-se mais atrativas”, recordando “o que está a acontecer com a indústria manufatureira da China”, que está a deslocalizar-se para “países com custos mais baixos como o Vietname, Laos e Camboja”.

“Há uma percentagem finita de receitas que qualquer empresa está disponível para dedicar aos custos laborais, portanto, naturalmente tem de haver um limite”, afirma o consultor.

A qualidade da mão-de-obra contratada por várias organizações em Macau “já não está em correlação direta com o seu custo”, realça o estudo da RPO Global, constatando ainda que “pessoas estão a ser promovidas ou contratadas para determinadas posições sem estarem devidamente preparadas, simplesmente como tática de retenção”. Esta tendência, aponta a pesquisa, “afeta o negócio e retira tempo valioso da gestão” e só funciona, segundo a consultora, “quando essas pessoas recebem o apoio certo dos seus superiores”.

A RPO Global sugere investimento em formação de quadros ao realçar que “elevadas taxas de rotatividade nas organizações são causadas pela não contratação das pessoas certas, pela promoção de quadros para posições não adequadas e pela falta de investimento em treino”.

A escassez de mão de obra “não é um problema exclusivo do Governo de Macau”, refere Antoine Fasse, dando o exemplo de mercados como Singapura, Austrália e países europeus para defender que “num território com pouca população, a espinha dorsal do desenvolvimento económico é o acesso a talento externo”. Mas a “chave não é somente abrir as portas”, ressalvou, constatando que a solução passa por “equilibrar cuidadosamente o influxo de talento estrangeiro com as necessidades do território, protegendo-se simultaneamente os meios de subsistência dos trabalhadores locais”.

Empresas locais das áreas do retalho, da construção, hotelaria, comidas e bebidas são as mais afetadas em Macau pela dificuldade de acesso a mão-de-obra suficiente, segundo o responsável, dadas as grandes necessidades de contratação das operadoras de jogo.

“O que afeta o mercado laboral de Macau irá eventualmente afetar toda a economia”, sublinha o estudo da RPO Global.

 

Patrícia Neves

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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