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CPLP APOSTA EM TIMOR-LESTE COMO “JANELA PARA O ORIENTE”

 

Timor-Leste vai assumir a presidência da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) durante uma cimeira em Díli que se antevê histórica. A organização quer afirmar o bloco lusófono no panorama económico mundial e aposta na jovem nação para multiplicar os negócios com a Ásia Pacífico.

 

A cimeira de chefes de Estado e Governo da CPLP, que terá lugar em Díli, na quarta-feira, vai marcar a entrada da organização “na idade da maioridade” com uma “nova visão estratégica”, que tem como meta uma “maior integração na economia global”, disse a diretora-geral, Georgina de Mello, em entrevista ao Plataforma Macau, ao salientar que Timor-Leste assumirá um papel de relevo.

“A organização faz agora 18 anos, que marcam a maturidade, então este é o momento de fazer a viragem”, disse a responsável a partir de Díli, onde se encontra a preparar a cimeira da próxima semana.

Durante o encontro dos governantes dos países de língua portuguesa, Timor-Leste assumirá, pela primeira vez, a presidência rotativa da organização, que vai abrir em Díli a sua primeira representação permanente fora de Lisboa.

“Timor-Leste abre a CPLP para a Ásia e o Pacífico, duas das regiões mais dinâmicas da economia mundial”, afirmou Georgina de Mello, considerando a abertura da representação como “um sinal muito positivo, porque mostra o interesse [da organização] nesta janela sobre o oriente que Timor-Leste oferece” aos países lusófonos.

Ao apontar que a CPLP tem em vista uma “maior integração das economias [dos países de língua portuguesa] na economia mundial”, a diretora-geral da CPLP realçou que isso poderá ser conseguido através da “janela” que Timor-Leste representa, nomeadamente “com a sua futura adesão à ASEAN” [Associação das Nações do Sudeste Asiático]. Para esse passo de Timor, acrescentou, a CPLP “espera também contribuir com a cimeira” de Díli.

“Não podemos perder de vista que o fim último que procuramos é melhorar a qualidade de vida dos nossos povos e isso melhora-se com mais trabalho, mais emprego, mais saúde, mais educação e, portanto, precisamos de um setor privado mais forte, de mais empresas, mais produção e mais exportação”, defendeu a cabo-verdiana.

A inauguração da sede da CPLP em Díli poderá ter lugar durante a cimeira, mas não tem ainda data agendada, disse uma fonte da CPLP ao Plataforma Macau.

O governo de Timor-Leste vai conceder tolerância de ponto aos funcionários públicos na terça e quarta-feira por causa da cimeira e 1300 polícias e militares foram destacados para garantir a segurança.

 

SEDE NA GUINÉ-BISSAU

Depois de Timor-Leste, a CPLP prevê abrir “num futuro muito próximo” uma representação também na Guiné-Bissau, adiantou Georgina de Mello.

“Acredito que esta é apenas a primeira e que haverá outras num futuro muito próximo, eventualmente em alguns países africanos que se posicionam em situações muito particulares”, indicou.

A próxima representação da CPLP “poderá ser na Guiné-Bissau”, porque, explicou, o país “está a sair de uma situação que foi muito dramática e conseguiu agora, por força das circunstâncias e de um voto muito claro da sua população, dar a volta por cima e, portanto, carece de um apoio muito forte e muito próximo também”.

 

ALARGAMENTOS

A Guiné Equatorial será o novo Estado-membro da CPLP a partir de quarta-feira, assume Georgina de Mello ao defender que este primeiro alargamento da organização “é um caminho normal que deve ser feito sem complexos”.

“A Guiné Equatorial esteve ligada ao mundo de língua portuguesa durante 300 anos ou mais, porque foi colónia de Portugal [depois cedida a Espanha, no século XVIII], portanto, é normal este retorno a casa, à família, digamos assim”, sustentou.

Ao indicar que todos os requisitos apresentados à Guiné Equatorial estão a ser cumpridos, Georgina de Mello sublinha que a CPLP assume que “os chefes de Estado e de Governo vão fazer a admissão formal” do país como membro de pleno direito da organização.

“Passaremos, portanto, a ser nove a partir do dia 23, com mais força, mais unidade e mais meios para construir esta visão do futuro da nossa organização, porque tem de ser cada vez mais uma parte mais ativa deste mundo global”, realçou.

A organização não-governamental timorense La’o Hamutuk pediu esta semana, em carta enviada ao Presidente de Timor-Leste, Taur Matan Ruak, para ser vetada a entrada da Guiné Equatorial na CPLP, reclamando uma melhoria dos direitos humanos e a redução da alegada corrupção no país. Ao constatar que os países de língua portuguesa “têm potenciais imensos, tanto na área de recursos naturais como na produção de bens e serviços”, a diretora-geral da CPLP apontou que o objetivo é “utilizar esse potencial numa relação com o mundo mais substancial e consistente”.

Neste contexto, a perspetiva da organização é de “abertura [a novos membros] e de ajustamento às exigências de um mundo cada vez mais globalizado”.

Além da adesão da Guiné Equatorial, a cimeira de Díli vai contar com a entrada da Namíbia, Turquia, Geórgia e Japão na organização como observadores associados, disse Georgina de Mello ao referir que, para já, não deu entrada na organização mais nenhum pedido para ingresso de membros de pleno direito.

Os Presidentes de Angola e do Brasil, José Eduardo dos Santos e Dilma Rousseff, não estarão presentes na cimeira de Díli, o que “talvez retire algum brilho” ao encontro, diz a diretora-geral, salientando, porém, que os países enviarão representantes “mandatados para as decisões que estão sobre a mesa”.

No centro da agenda da cimeira estará o debate sobre o que a organização “pretende ser nos próximos dez anos e os caminhos a seguir para constituir plataformas e pontes que unam os nove países através dos oceanos que os separam, para que o comércio se desenvolva mais e o investimento aumente de forma substancial”.

Integram a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.

 

Patrícia Neves

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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