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DE OLHOS POSTOS NOS EVENTOS

Governo de Macau introduz mais incentivos para atrair grandes convenções e exposições internacionais para a cidade

O investimento anual do Governo de Macau na indústria das convenções e exposições (MICE, na sigla inglesa) deverá atingir um nível recorde este ano. Tudo devido a um novo programa que oferece subsídios mais generosos à indústria, introduzido no início do ano.

No entanto, empresas e especialistas do setor pedem mais atenção à política de recursos humanos e apelam à criação de um organismo coordenador para a indústria MICE.

“A indústria das convenções e exposições tem tido um desenvolvimento estável e sustentável neste últimos anos e é hoje em dia um dos setores que lidera o desenvolvimento económico de Macau”, diz a Direção de Serviços de Economia (DSE).

Em 2013, Macau acolheu 1,030 eventos MICE, envolvendo mais de dois milhões de participantes, um aumento de 26% em relação ao ano anterior. Mas a maioria dos eventos organizados foram referentes a convenções. No ano passado, apenas 66 exposições tiveram lugar na cidade.

No primeiro trimestre deste ano, realizaram-se 276 convenções e exposições, nas quais participaram 304,000 pessoas, um aumento de 50% em relação aos primeiros três meses de 2013.

De acordo com dados do Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM), Macau tem mais de 170,000 metros quadrados de recintos equipados para receber desde pequenas reuniões até exposições internacionais de grandes dimensões.

O maior espaço para eventos MICE em Macau está localizado no hotel-casino Venetian Macao, com um total de cerca de 112,000 metros quadrados. A lista de recintos MICE inclui também a Nave Desportiva dos Jogos da Ásia Oriental, o Fórum Macau, a Torre de Macau e a Doca dos Pescadores, entre outros.

“Acreditamos que Macau pode evoluir para um destino MICE de referência na Ásia, contribuindo para o posicionamento estratégico da cidade como centro internacional de turismo e lazer”, acrescenta a DSE.

Porém, o objetivo está ainda a alguns anos de distância de ser alcançado, alerta Amy Siu-Ian So, coordenadora dos programas de gestão hoteleira e de jogo na Universidade de Macau.

“O desenvolvimento da indústria está no bom caminho, mas, neste momento, Macau ainda não é vista internacionalmente como um destino MICE”, refere a académica.

“Macau tem os seus pontos fortes mas, ao mesmo tempo, tem que enfrentar diversos desafios e uma concorrência crescente. Macau tem que fazer mais campanhas de promoção para se poder afirmar como um destino MICE na Ásia”, acrescenta Amy So.

 

EXPOSIÇÕES EM PASSO LENTO

 

Em janeiro deste ano, o Governo lançou o Plano de Apoio a Reuniões Internacionais e Feiras Profissionais, numa tentativa de atrair mais eventos internacionais para a cidade.

O plano integra um conjunto de apoios financeiros para os organizadores e participantes neste tipo de eventos. As exposições elegíveis podem beneficiar de um subsídio equivalente a 25% do dos custos do aluguer do recinto onde o evento irá decorrer. As convenções e exposições elegíveis podem obter um subsídio equivalente a 10% das despesas de alojamento em hotéis locais até um máximo de cinco noites.

Os apoios financeiros têm contribuído para a evolução do setor, diz Bruno Simões, diretor executivo da SmallWorld Experience, empresa fundada em 2008 e especializada em gestão de eventos.

“A indústria tem evoluído bastante, especialmente no segmento das reuniões e incentivos. Macau tem boas infraestruturas para receber este tipo de eventos”, refere Bruno Simões.

O plano de subsídios e a política do Governo tem sido adequada, diz o gestor de eventos.

“Os apoios financeiros em Macau são mais objetivos e vantajosos do que noutros sítios, como Singapura ou Hong Kong. As empresas em Macau têm uma vantagem nesse capítulo”, acrescenta.

Do programa de apoios consta também um plano específico para exposições e convenções internacionais, com vista a aumentar a qualidade e diversidade de eventos organizados em Macau.

As exposições e convenções internacionais que cumpram os requisitos exigidos pelo Governo podem ser subsidiadas em 30% das despesas de alojamento, num máximo de cinco noites. O subsídio para despesas com o recinto atinge 40%. Da lista fazem ainda parte um apoio de 300,000 patacas (37,568 dólares norte-americanos) para outras despesas e um subsídio de alimentação no valor de 100 dólares por participante.

O ainda baixo número de exposições organizadas em Macau demonstra que este segmento não se está a desenvolver ao mesmo ritmo das convenções.

“Para se atrair grandes exposições é preciso providenciar excelentes infraestruturas de transporte, como aeroporto, porto, metro e demais sistemas públicos de transporte, incluindo táxis. Neste momento, Macau não está a um bom nível nesse capítulo”, sublinha Bruno Simões.

“Também falta uma comunidade empresarial local que justifique a vinda de exposições internacionais. Portanto é difícil atrair ambos os lados – expositores e compradores”.

Ciente das dificuldades, o Governo quer apostar em segmentos que considera prioritários. “Há alguns nichos de mercado na área das exposições aos quais Macau deve dar prioridade, incluindo jogo, entretenimento, turismo e lazer, marcas de luxo, entre outros”, diz a DSE.

“Atualmente, estamos a envidar esforços para promover Macau junto de organizadores de eventos internacionais. Estamos também a trabalhar com parceiros locais e internacionais para concorrer à organização de eventos internacionais de renome”, acrescenta o organismo liderado por Sou Tim Peng.

A académica Amy So diz que esse é o melhor caminho a seguir. “Atrair eventos internacionais irá ajudar a diversificar o tipo de turistas que vêm a Macau, o que é importante para o desenvolvimento da indústria”, sublinha Amy So.

 

SOLUÇÕES PRAGMÁTICAS

 

Para conseguir absorver de forma sustentável o crescimento da indústria MICE, Macau tem que melhorar a coordenação entre os diferentes agentes envolvidos no setor. Os apoios financeiros são importantes, mas há outros problemas que necessitam de ser resolvidos, refere Bruno Simões.

“Deve haver uma maior flexibilidade na contratação de mão-de-obra qualificada do exterior e deve melhorar-se a coordenação entre departamentos públicos”, diz, referindo que a criação de um organismo específico para gerir a indústria seria um passo importante, a exemplo de outras regiões.

Seria também benéfico para a indústria ter acesso a alguns espaços históricos para a organização de eventos especiais, como os Lagos Nam Van, a Fortaleza do Monte e o Teatro D. Pedro V, acrescenta.

Mas qualquer que seja a solução, deve integrar parceiros públicos e privados, diz Glenn McCartney, especialista em turismo ligado à Universidade de Macau.

“Neste momento as responsabilidades estão fragmentadas. Tem que existir um acordo entre todos os parceiros para haver uma coerência sobre a imagem de Macau que se quer passar internacionalmente”, refere Glenn McCartney.

Para o especialista, a indústria tem que se consolidar e tem que analisar quais têm sido os entraves ao crescimento.

“Claramente a indústria não se desenvolveu tanto quanto esperado. Mais do que traçar metas, é preciso perceber se são alcançadas. Se as metas não forem atingidas, é preciso perceber quais as razões e tentar emendar o percurso”, afirma Glenn McCartney.

A escassez de recursos humanos poderá ser um desses entraves. “Nenhum setor em Macau está imune à escassez de trabalhadores qualificados. Se essa situação não for acautelada, o desenvolvimento do setor não será tão rápido como desejado”, alerta o economista Albano Martins.

A mesma opinião é partilhada por Amy So. “Macau necessita de mais profissionais locais se quer mesmo desenvolver o setor”, sublinha a académica.

Um estudo encomendado pela Associação de Convenções e Exposições de Macau divulgado no ano passado sugere que a indústria MICE vai ter dificuldades em recrutar os 2,800 novos profissionais que necessitará nos próximos cinco anos.

Embora a mão-de-obra seja uma prioridade, não deve ser a única. “A cidade precisa de ter uma rede de transportes eficaz, prestar atenção às questões alfandegárias e logísticas, temas que são também importantes para o crescimento do setor”, diz Amy So, acrescentando que os novos empreendimentos no Cotai – que irão providenciar mais de 11,000 quartos e novos recintos MICE – contribuirão para dar um novo impulso à indústria.

Bruno Simões lembra que o setor do turismo “vive muito da primeira impressão que se cria”. “Se não tivermos as condições necessárias para providenciar uma boa experiência aos visitantes, todo o esforço será em vão”, refere.

Tiago Azevedo

 

Aposta lusófona para continuar

Macau procura ser um elemento de ligação entre a China Continental e os Países de Língua Portuguesa no setor das convenções e exposições.

“O Governo tem trabalhado para atrair eventos da China Continental de dimensão considerável e influência regional” para Macau, refere a Direção dos Serviços de Economia. As autoridades de Macau convidam depois representantes e delegações de países lusófonos para participar nesses eventos.

“Ao desempenhar esse papel, Macau serve como uma plataforma de serviços e comércio entre a China Continental e os Países de Língua Portuguesa”, sublinham os serviços, acrescentando que as empresas de ambos os lados podem obter benefícios signiticativos através da exploração de novos mercados e oportunidades de negócio em exposições de promoção económica e eventos similares.

Não só Macau procura atrair empresários para eventos organizados na cidade, como também tenta levar empresários locais a participar em eventos de promoção económica noutros mercados. Todos os anos, o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM) organiza diversas delegações para participar em eventos do género em diferentes países. Portugal, Brasil e Moçambique são alguns dos países lusófonos regularmente cobertos pela iniciativa.

Esta é uma estratégia que se irá manter no futuro, diz o IPIM, para atrair mais empresários do exterior a aproveitar as vantagens de Macau para explorar novas oportunidades de negócio e vice-versa.

 

Tiago Azevedo

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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