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Cirurgião tenta ‘curar’ monopólio político em Taiwan

Numa conferência de imprensa esta manhã, o antigo presidente da câmara de Taipei e cirurgião, Ko Wen-je considerou ser o único candidato "aceitável tanto pela China como pelos Estados Unidos" e uma pedra na engrenagem da política local.

Nelson Moura em Taipei

Numas eleições geralmente dominadas pelo DPP e pelo KMT, a campanha de Ko Wen-je apresenta-se como a carta fora do baralho que procura roubar votos aos dois principais partidos e ter uma palavra a dizer nos destinos da Formosa, seja via uma vitória nas eleições de 13 de janeiro ou com maior presença no parlamento.

“As eleições de amanhã serão um momento histórico para Taiwan Esta é a primeira vez que há um representante de um terceiro partido e a primeira vez que há uma ameaça séria ao sistema bipartidário,” indicou Ko numa conferência de imprensa em que apresentou os seus “remédios” para os problemas de Taiwan.

Após oito anos de governação de Tsai Ing-wen e do Partido Democrático (DPP, na sua sigla em inglês), as sondagens apontam que o partido deve manter-se no poder, com o atual vice-líder da ilha, William Lai Ching-te à frente das eleições com três candidatos de peso.

Segundo as últimas sondagens da Fundação de Opinião Pública de Taiwan publicadas antes do período de 10 dias de proibição de sondagens antes das eleições, Lai recebia 32,4 por cento das intenções de voto, seguido de Hou You-yi, candidato do histórico Partido Nacionalista (KMT) com uns 28,2 por cento, e Ko Wen-je cerca de 24,6 por cento.

Em 2000 a candidatura de James Soong, antigo membro do KMT que se desencantou com o partido, ajudou à primeira vitória eleitoral do DPP ao retirar votos dos eleitores afiliados com o histórico partido de Chiang Kai-shiek, e quebrou o monopólio de quase 50 anos detido pelo Kuomintang desde o seu exílio em Taiwan em 1949 após a derrota contra o Partido Comunista Chinês.

“Os residentes de Taiwan estão fartos de disputas partidárias mesquinhas. Taiwan enfrenta salários baixos,baixa natalidade, escassez de fontes de energia, uma dívida crescente, e relações com a China em contínua deterioração,” disse o candidato numa conferência de imprensa à empresa internacional em que apresentou os seus “remédios” para os problemas de Taiwan.

O partido que fundou adotou o branco como cor, representando pureza e transparência, e como referência ao passado médico de Ko, mas desde que o ex-cirurgião entrou na cena política com uma vitória nas eleições para presidente de Taipei em 2014.

Ko serviu como presidente da Cidade de Taipei entre 2014 e 2016  e durante a sua carreira de médico ajudou a estabelecer a primeira equipa de transplante de órgãos em Taiwan. Após entrar na cena política, contudo, o médico tornou-se principalmente pela a sua frontalidade e gafes, que atribui a um autodiagnosticado síndrome de Asperger, um tipo de autismo.

(Photo by I-Hwa CHENG / AFP)

 

Estas incluem comentários sexistas sobre figuras femininas na política e referências a esposas de imigrantes como “noivas importadas”. Numa tentativa de combater essa imagem, Ko escolheu uma parceira de corrida mulher, Cynthia Wu, herdeira do império comercial Shin Kong Group, fundado pelo bilionário taiwanês Wu Ho-su.

“Eu venho da área médica e Cynthia das finanças, e vamos ser científicos e práticos ao lidar com problemas de Taiwan,” disse hoje Ko – também conhecido por KP pelos seus apoiantes.

Apesar da frontalidade e irreverência ter-lhe valido muitos inimigos na esfera política da Formosa, Ko acumulou muita popularidade num eleitorado jovem desinspirados e descontentes com os principais partidos, com algumas sondagens a apontar que o candidato possui a major taxa de preferência entre os 3 candidatos entre os eleitores entre os 20 e 40 anos, uns surpreendentes 65 por cento.

“Desde que entrei na política o meu objetivo tem sido mudar a cultura política, sempre foi meu objetivo nas últimas décadas. Mudar a cultura política de Taiwan tornou-se a expectativa de muitos residentes. Politicamente, espero avançar para um sistema tripartidário, e acho que vamos desempenhar um papel importante no parlamento.

Este sábado os quase 20 milhões de eleitores na ilha votam não só para o líder da ilha mas também para os 113 membros do parlamento, onde o DPP controla a maioria com 61 deputados, o KMT com 38 e o TPP com 5. Um melhor desempenho do KMT e do TPP permitiria uma coligação que tornaria a vida difícil para uma futura administração Lai.

(Photo by I-Hwa CHENG / AFP)

O candidato disse estar disponível para cooperar tanto com o DPP e o KMT, dependendo do assunto e dos benéficios que traga aos residentes da Formosa. Apesar de ter começado como um apoiante de Chen Shui-bian, primeiro líder eleito pelo DPP, Ko encontra-se atualmente politicamente mais próximo do KMT, vendo chineses dos dois lados do estreito como “uma só família”.

Contudo, apesar de realçar a necessidade melhor comunicação com Pequim, rejeita também o consenso de 1992 e o princípio Um País, Dois Sistemas, pedras basilares do PCC para o caminho de uma possível reunificação pacífica.

Poucos meses antes das eleições, negociações para uma possível coligação entre o KMT e o TPP falharam com estrondo, após desacordos sobre que método usar para decidir se deveria ser Ko ou Hou You-yi o cabeça de lista da candidatura.

A própria inexperiência executiva de Ko é vista pelos seus opositores como uma das suas maiores fraquezas, numa posição que exige um ‘jogo de cintura’ exímio nas relações com uma República Popular da China cada vez mais assertiva na região. Questionado sobre como lidaria com as crescentes tensões com a China, Ko descreveu a do TPP como “comunicação e dissuasão”.

“Devemos ter uma mensagem clara de que, se ocorrer um ataque militar, este terá um preço elevado, mas temos de ser capazes de comunicar que estamos dispostos a empenhar-nos e qual é o resultado. Enfrentar e desafiar. A minha estratégia é avançar na comunicação,” diz

O médico e candidato aponta que é verdade que as relações entre os EUA e a China mudaram nos últimos 30 anos e propõe um “equilíbrio dinâmico” de Taiwan entre as duas superpotências.

“A relação EUA-China continuará a evoluir. Às vezes as pessoas perguntam por que Taiwan se inclina mais para o dólar americano. Porque é claro que se a China está sempre a ameaçar com uma ação militar, isso empurra-nos para os EUA. Devemos encontrar um equilíbrio,” destaca.

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