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Alunos de medicina tradicional chinesa e português escolhem Macau para aprofundar conhecimentos

Estudantes de português e praticantes de medicina tradicional chinesa consideram Macau uma boa escolha para aprofundar os seus conhecimentos. Elementos culturais portugueses e proximidade com outros centros urbanos do interior da China são as razões dadas para escolher a cidade

Nelson Moura

Como uma cidade com uma ligação lusochinesa histórica, Macau é muitas vezes descrita como o ponto ideal para chineses ou lusófonos realizarem intercâmbios culturais, pesquisa e investigação. No último mês, vários estudantes de português e praticantes de medicina tradicional chinesa (MTC) deslocaram-se a Macau para desenvolver ou o seu nível de português, ou os seus conhecimentos de MTC.

Entre 17 e 29 de julho, o Fórum Macau organizou o Colóquio sobre a Cooperação no domínio de Medicina Tradicional para os Países de Língua Portuguesa. A iniciativa ofereceu aos profissionais de MTC da Lusofonia palestras temáticas e experiências in loco nas instituições médicas e empresas farmacêuticas em Macau, Zhuhai, Guangzhou e Foshan. Um total de 15 oficiais, técnicos e dirigentes de instituições médicas dos países lusófonos participaram no colóquio, entre os quais, João Gomes, formado em Medicina Tradicional Chinesa na Universidade de Medicina Chinesa do Dr. Pedro Choy.

“O curso permitiu-nos ir a sítios que realmente enriqueceram a nossa experiência. Fomos a farmácias de MTC locais e à Universidade de Macau conhecer a investigação a nível de plantas medicinais chinesas. Pudemos verificar o quão avançadas as empresas de MTC chinesa estão a nível de investigação e controlo de qualidade, certificados nacionais ou internacionais”, indicou Gomes ao PLATAFORMA. “Foi realmente uma experiência muito completa e enriquecedora a vários níveis, para saber como a MTC, tanto em Macau como na China, está estabelecida e entrosada com a medicina convencional.”

“Pudemos verificar o quão avançadas as empresas de MTC chinesa estão a nível de investigação e controlo de qualidade, certificados nacionais ou internacionais”
João Gomes, formado em Medicina Tradicional Chinesa

Trazer para a Lusofonia

Para Portugal, o especialista de MTC pensa levar os ensinamentos dos especialistas chineses na área, não só teoréticos, mas também no que toca à sua aplicação terapêutica. “Tivemos experiências em hospitais em Zhuhai, por exemplo, para receber tratamentos de MTC. Experimentámos os próprios tratamentos em nós mesmos, para perceber os seus efeitos e o quão eficazes são. Isto dá-nos confiança que em Portugal se deveria apostar cada vez mais na MTC”.

Entretanto, Adelaide Fumo, uma anestesista de Moçambique, indicou ao PLATAFORMA que o colóquio permitiu-lhe tomar conhecimento de técnicas diferentes das que estava habituada. “Esta é a segunda formação que realizei em Macau. O colóquio correu bem e passou-nos a experiência e conhecimentos de outros países”.

“O colóquio correu bem e passou-nos a experiência e conhecimentos de outros países”, Adelaide Fumo, anestesista de Moçambique.

Intimidade com o Português

medicina tradicional chinesa

Mais ou menos na mesma altura, ocorria o curso de verão de língua portuguesa da Universidade de Macau (UM), o primeiro em formato presencial, após três edições ‘online’. O curso, realizado entre 10 e 28 de julho, incluía aulas matinais destinadas à língua portuguesa e a módulos temáticos, em áreas como tradução, história de Macau ou relações internacionais. As tardes foram dedicadas em clubes, nomeadamente de capoeira, folclore ou enologia. Cerca de 280 alunos, de Macau, China continental e Coreia do Sul participaram na edição deste ano, um número mais reduzido que os 500 alunos que integraram a última edição presencial, em 2019.

“Macau é um lugar muito especial, com um ambiente muito bom para estudar português, as placas [na rua] estão sempre escritas em chinês e português”, diz Zhou Jun, ou Celina, o nome que escolheu para português. Depois de descobrir a língua “por acaso” durante o secundário, enquanto folheava um livro de cursos universitários, a aluna de Xiangtan, na província de Hunan, passou quatro anos a tentar dominar esta língua que tanto a fascinou. “Gostei do curso, não só ganhei conhecimentos de português em vários aspetos, mas também tivemos muitas atividades diferentes. Aprendi muito sobre a cultura e as artes dos Países de Língua Portuguesa”, disse a estudante da Universidade de Pequim.

“Macau é um local muito especial. Aqui sinto um bom ambiente para estudar português”
Celina, participante no curso de verão de língua portuguesa da UM

Segundo dados da Direcção dos Serviços de Educação e de Desenvolvimento da Juventude (DSEDJ), o número de turmas dos cursos de língua portuguesa, nos currículos regulares, atividades extracurriculares ou atividades de complemento curricular, ministrados pelas escolas, aumentou de 445 no ano letivo de 2020/2021, para 467 no ano letivo de 2022/2023. O número de estudantes que frequentam cursos de português subiu, no mesmo período, de cerca de 9.300 para 10.200, com o número de professores a passar de 100 para mais de 120.

Com Pessoa na cabeça

Elio, de Xangai, decidiu de começar a aprender português há cerca de meio ano, na Universidade de Estudos Internacionais de Xangai. Como motivação, tinha um interesse por poesia em português, em especial por Fernando Pessoa. “Os poemas de Portugal, gosto do caráter que têm, do romantismo. Não escolhi espanhol porque é muito extrovertido”, disse numa entrevista a jornalistas portugueses, à margem da cerimónia de encerramento do curso de verão de língua portuguesa da UM.

“Acho que a história [de Macau] está intimamente relacionada com Portugal”, Elio, participante no curso de verão de língua portuguesa da UM.

O aluno de português referiu ainda que “o curso em Macau tem uma boa mistura de professores portugueses e de Macau”. Agora, espera que a escolha lhe permita vir a trabalhar no consulado de Portugal em Xangai. Sobre Macau, Elio segue os conselhos de uma professora local, que lhe disse para não se “afundar na língua”, mas para sair, e conhecer melhor a cultura e a história de Macau. “Eu acho que a história está intimamente relacionada com Portugal, e quando falamos de Macau ou da UM, não podemos ignorar Portugal”, nota.

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