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Diário de um jornalista na Grande Baía

Guilherme Rego

A Área da Grande Baía não parou durante a pandemia. Uma delegação de jornalistas da comunicação social portuguesa e inglesa de Macau viajou até à província de Guangdong para melhor conhecer como esta região prepara a transição para um desenvolvimento de alta qualidade. Todas as cidades visitadas, sem exceção, estão interessadas em criar sinergias com Macau e o resto do mundo, seja em troca de know-how ou na atração de talentos qualificados

O PLATAFORMA, bem como todos os outros meios de comunicação que se fizeram representar nesta viagem de quatro dias à Grande Baía, viajaram a convite do Comissariado dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China na Região Administrativa Especial de Macau. A delegação de jornalistas visitou Guangzhou, Dongguan, Shenzen e Shaoguan. Esta última, apesar de não fazer parte da Grande Baía, é vital para o sucesso do projeto a vários níveis.

A Área da Grande Baía é composta por 11 cidades: as duas regiões administrativas especiais de Macau e Hong Kong, bem como os nove municípios da província de Guangdong, Guangzhou, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing. Juntas, estas cidades representariam a nona maior economia do mundo, acima do Canadá, Coreia do Sul ou Brasil.

O grande objetivo é que estas cidades da Grande Baía utilizem as suas vantagens comparativas para se complementarem e desenvolverem de forma coordenada, promovendo em conjunto diversas área de cooperação, nomeadamente integração de infraestruturas, de mercado e criação de um centro internacional de inovação tecnológica. A meta é a construção de uma região metropolitana com peso internacional.

Guangzhou

Guangzhou, a capital, é uma grande cidade portuária a noroeste de Hong Kong, às margens do rio das Pérolas. A cidade ostenta uma arquitetura de vanguarda, tendo como exemplos a Ópera de Guangzhou ou a Torre de Cantão.

É também a quinta cidade mais populosa da China. O horário apertado permitiu-nos apenas duas visitas. A primeira foi ao Arquivo Nacional das Publicações e da Cultura da China de Guangzhou. É um museu bastante recente, tendo sido inaugurado apenas em meados do ano passado. Por essa razão, pediram à delegação que não filmasse o interior, por ainda estar a ser curado. Aqui, percebe-se um pouco mais da história da província, as suas origens, a cultura que cruza com Macau e Hong Kong, bem como a evolução que tem experienciado à boleia da reforma e abertura da província ao mundo. À noite, foi possível um passeio de barco no rio das Pérolas. A cidade enche-se de luzes e uma série de pontes liga as duas margens do rio, facilitando a mobilidade.

A capital é conhecida pela sua indústria automóvel, petroquímica e de equipamentos eletrónicos. Além de estar integrada no plano da Grande Baía, também desempenha um papel crucial na Iniciativa Faixa e Rota.A nível de infraestruturas, é das cidades mais capacitadas do Continente: em termos de passageiros tem o terceiro aeroporto mais movimentado da China (Aeroporto Internacional de Guangzhou Baiyun) e o quarto maior porto em termos de tráfego de carga (Porto de Guangzhou), além de ter a rede ferroviária mais bem conectada do país.

Shaoguan

Shaoguan está no norte da província, sendo um dos primeiros pontos de contacto com o resto do Continente. Embora não faça parte da Grande ZHANQUN CAI/PEXELS
Baía, é vital para o seu crescimento sustentável. Shaoguan é considerado o pulmão da província de Guangdong e detenta o título de “Jardim Nacional”. Mais de 74 por cento da sua área permanece coberta de flora, um motivo de orgulho para o seu Governo e habitantes, que se esforçam para preservar essa característica.

Qualquer poluição fluvial terá impacto nas restantes cidades circunscritas no Delta do rio das Pérolas e, por isso, o foco está em desenvolver a economia digital e produção de energia renovável, indústrias com um impacto ambiental mínimo.

A cidade é naturalmente anti-sísmica e, por essa razão, tem desenvolvido centros de Big Data, como o Yingshuo Data Center e o Huashao Data Valley. Os oficiais do Governo municipal explicaram à delegação que pretendem fazer de Shaoguan o maior polo de centro de dados da Grande Baía e assim suportar o desenvolvimento da economia digital do Sul da China. Estes centros precisam de enormes quantidades de energia e Shaoguan tem de sobra. Produz a eletricidade mais barata da província que, por sinal, já é na sua maioria verde. Cerca de 51,4 por cento da cidade é alimentada a energia renovável e estimam atingir os 80 por cento em 2028. A energia renovável é maioritariamente eólica, dado que a produção de energia solar prejudicaria a cobertura florestal.

Dongguan

Dongguan faz fronteira com a capital da província de Guangzhou a norte, Huizhou a nordeste, Shenzhen a sul e o Rio das Pérolas a oeste. Esta cidade é conhecida como a “fábrica do mundo”: 1 em cada 3 brinquedos no mundo é produzido aqui, assim como 1 em cada 5 camisas de lã, 1 em cada 5 telemóveis e 1 em cada 10 pares de sapatos.

Mas mesmo Dongguan está a acompanhar a nova linha de pensamento para a modernização da China. Sendo que a prioridade passa pelo desenvolvimento de alta qualidade, também ela começa a fazer essa transição.

Saltam dois projetos à vista: O “China Spallation Neutron Source” e o Laboratório Shongshan Lake Materials.

O primeiro é um projeto raro, sendo que até à data só existem quatro destas infraestruturas em todo o mundo. É uma instalação de tecnologia de dispersão de neutrões, uma ciência largamente utilizada em física, química, ciências da vida, ciência e tecnologia dos materiais, recursos ambientais, nanotecnologia, entre outros. Prevê-se que venha a alcançar progressos em domínios de investigação de ponta, como a regulação quântica, supercondutividade a alta temperatura e até nos tratamentos cancerígenos. Foi dito à delegação que académicos da Universidade de Macau têm utilizado esta instalação para as suas investigações.

Já o Laboratório é uma incubadora para empresas universitárias. Dedica-se a comercializar a investigação académica. Desde a sua abertura, em 2018, conseguiu lançar 16 das 30 empresas que procuraram o seu apoio – um número satisfatório. Também aqui foi expresso o interesse em colaborar com as universidades de Macau. Dongguan é também conhecida por ter uma grande comunidade brasileira.

Shenzhen

Shenzhen faz fronteira com Hong Kong a sul, Huizhou a norte e nordeste, Dongguan a norte e noroeste. É a primeira zona económica especial do país e é considerada o “Sillicon Valley do oriente”. Aqui a primeira visita foi à UBTECH, uma empresa que se foca na produção de robôs humanóides e inteligência artificial. Foi-nos dito que neste momento colaboram com mais de 300 escolas dentro e fora do país para ensinar as bases da inteligência artificial. Têm livros e atividades para educar a partir dos 8 anos de idade.

A segunda visita foi à BYD, empresa que é considerada por muitos como a Tesla chinesa. Pudemos ver os carros elétricos e as novas tecnologias implementadas. Mas há também um foco na construção de redes de transporte públicas e na gestão inteligente das mesmas. Esta empresa já tem inclusive alguma penetração nos mercados europeus, como em Londres, e assinou agora um acordo para começar a produzir no Brasil.

A terceira visita foi à Huawei, onde vimos as últimas novidades na construção de “casas inteligentes”, bem como escritórios e hotéis. No interior da China, cerca de 50 por cento dos hotéis hoje em construção já estarão equipados com este sistema da Huawei, que permite também gerir os recursos energéticos de forma mais eficiente, contribuindo assim para a poupança de energia e sustentabilidade. Foi manifestado interesse em aplicar esta nova tecnologia nos hotéis de Macau, um mercado que ainda não foi explorado por este departamento da Huawei.

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