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Diário de um jornalista no Tibete

Guilherme Rego

O PLATAFORMA visitou a Região Autónoma do Tibete a convite do Gabinete de Ligação do Governo Central na RAEM. Uma das passagens foi pela capital da região, Lhasa, onde esteve em contacto com a cultura tibetana, a sua história, os seus esforços para dinamizar o turismo e flexibilizar as fronteiras


A delegação de jornalistas de imprensa portuguesa e inglesa deslocou-se ao Tibete (Xizang) entre 14 e 20 de junho. Foi dado foco aos pontos turísticos, mas pelo meio visitaram-se instituições académicas, hospitais de medicina tradicional tibetana e museus.

À chegada ao Aeroporto de Lhasa Gonggar, a “doença da altitude”, ou “doença das montanhas”, fazia os seus primeiros estragos no seio da delegação. Esta doença dá-se, como o próprio nome indica, quando a determinada altitude o oxigénio deixa de ser abundante. O organismo começa a hipercompensar… e surgem as dores de cabeça (das quais fui vítima também), cansaço, náusea e, em casos mais sérios, falta de ar. Normalmente o corpo habitua-se em um ou dois dias, mas para quem estiver com mais dificuldades, os tanques de oxigénio é algo a que vários turistas recorrem.

Para os locais a falta de oxigénio não é um problema no dia a dia, porém, a baixa concentração do mesmo traz consequências a longo prazo. A esperança média de vida no Tibete é de 68 anos, contrastando assim com a média da China – aumentou para 78.2 anos em 2021, segundo a Comissão Nacional de Saúde. Para contrabalançar o infortúnio consequente da falta de oxigénio, a idade de reforma chega muito mais cedo no Tibete: 45 anos para as mulheres e 55 anos para os homens.

Contudo, quem tiver coragem de embarcar nesta viagem, o lençol cultural e as paisagens certamente compensam.

 

Palácio de Potala

O primeiro ponto a ser visitado foi o Palácio de Potala. Esta era a residência de inverno dos Dalai Lamas, onde se exercia o poder político e religioso até à sua anexação por parte da China, em 1950. Imponente, com os seus 115 metros de altura, ocupa o monte Marpo Ri quase na sua totalidade. Tal é a sua importância que nenhum outro edifício pode desafiar a sua altura.

Por essa razão, quando se chega ao cimo do palácio e se olha para baixo, as baixas residências e edifícios, cercadas pelas montanhas em todos os pontos cardeais, prestam vassalagem ao local onde morava a Deusa da Misericórdia – é esse o significado de Potala.

À chegada, a grandeza e relevância é logo percetível, não fosse pelas multidões de toda a China que o contemplam, crentes ou não. O branco das paredes erode e vai-se confundindo com o vermelho barro. Isto porque a tinta é composta por leite de iaque, mel e barro. Preservar essa tradição obriga a que todos os anos, depois da época das chuvas, se pinte novamente os murais do palácio.

A grande maioria das paredes de vermelho carmesim não diferem apenas na cor. Mais tarde foi-nos explicado que não se trata de pedra, mas sim de milhares de pequenos ramos sobrepostos meticulosamente.

Hoje, o Palácio de Potala é um museu vivo, isto porque ainda há monges budistas que lá residem, aprendendo a conviver com as centenas de turistas que visitam as instalações diariamente.

Viu-se o trono e, entre outras coisas, a estupa do V Dalai Lama – tem 14,85 metros de altura e é decorada com 110 mil taéis de ouro e mais de 10 mil diamantes, pérolas e peças de jade. Uma série de funcionários trabalhavam na conservação deste museu ao mesmo tempo que o visitávamos. É uma responsabilidade permanente.

 

Templo Jokhang e Rua Bhakor

À saída de Potala partimos para o Templo Jokhang, para muitos tão ou mais sagrado que o Palácio de Potala. O templo foi construído em 647, após o casamento de Songtsen Gampo com a princesa nepalesa Tritsun e a princesa Wencheng da dinastia Tang. Ambas as princesas trouxeram sutras budistas e estátuas de budas e o templo foi construído exatamente para homenagear e guardar estas sutras e estátuas.

Uma série de obras de ampliação fizeram com que tenha hoje outra dimensão. Os frescos do Salão descrevem a chegada da princesa Wencheng ao Tibete e o processo da construção do templo.

À sua volta está a Rua Barkhor, tida como o “coração de Lhasa”. Originalmente era a “rua sagrada” que envolvia o Templo Jokhang, mas foi crescendo gradualmente e ganhou novo significado. Com 1000 metros, esta estrada circular tem 35 ruas secundárias e ruelas. O aspeto tradicional preserva o estilo de vida antigo da cidade e é uma autêntica viagem no tempo.

Peregrinos devotos caminham no sentido dos ponteiros do relógio à volta da rua, com uma roda de orações na mão ou prostrando-se com mantras budistas.
Várias lojas nos dois lados da rua exibem trajes tradicionais, quadros e pinturas, e o artesanato típico do Tibete e de países vizinhos, como o Nepal ou o Butão.

 

Parque Norbulingka


Norbulingka, que significa em idioma tibetano “jardim do tesouro”, foi construído em 1755. Desde o VII Dalai Lama que o espaço serviu para a rotina administrativa, rituais e celebrações. Anualmente, o Dalai Lama mudava-se para aqui em março e só voltava a Potala no fim de outubro. Por isso, Norbulingka é chamado “Palácio de Verão”, enquanto o Palácio de Potala, “Palácio de Inverno”.

A jovem encarnação do Dalai Lama falecido era obrigado a estudar aqui as sutras budistas até ter idade suficiente para entronizar como Dalai Lama da nova geração. A guia da delegação confidenciou que este palácio era também utilizado para fugir ao calor que se fazia sentir em Potala nos meses de verão.

 

Feira internacional do Tibete

A 5.ª Exposição de Turismo e Cultura de Xizang – China arrancou no dia 15 com milhares de pessoas a marcarem presença na cerimónia de inauguração.

É através da Feira que o Tibete tenta dinamizar a sua economia e abrir as fronteiras, que há muito permanecem praticamente interditas a estrangeiros.

A Feira recebeu 120.000 visitantes no primeiro dia. Entre estes, 124 delegações, incluindo a dos jornalistas de Macau. Fizeram-se representar 1.400 empresas, sendo que 64 eram estrangeiras e mais de 200 produtos foram expostos em formato online. Membros dos governos do Nepal, Mongólia e Coreia do Sul visitaram a Feira a convite do Governo do Tibete, que envida esforços para internacionalizar os produtos locais.

No capítulo do turismo, foram assinados sete acordos estratégicos. “Espero que nos ajudem a globalizar o Tibete”, disse Ren Wei, membro do Comité Permanente da Comissão Política do Partido Comunista na Região Autónoma do Tibete, na conferência de imprensa de fecho.

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