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“Portugal não deve ficar atrás nesta corrida”

Gonçalo Francisco

O secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa, Bernardo Mendia, alerta para a corrida internacional ao mercado chinês. Nesse sentido, Portugal pode beneficiar da amizade que tem com Macau e que ficou evidenciada pela forma como o Chefe do Executivo foi recebido em Lisboa

O que conclui da viagem? O que correu bem e o que poderia ter corrido melhor?

B.M. – Não temos palavras para expressar a satisfação com esta deslocação (…) Vimos aquela que é para nós a mais importante cidade chinesa a visitar Portugal, tendo o seu líder sido recebido ao mais alto nível. O mesmo se diga relativamente à delegação de negócios e de turismo. Há intercâmbios mais micro, mas muito promissores que podem ser lançados desde já, sem a necessidade das morosas burocracias governamentais, portanto entre associações comerciais, empresários e municípios. Alguns foram efetivamente lançados e é natural que se sigam, agora, resultados práticos.

O que Macau pode oferecer a Portugal? No sentido inverso, o que Portugal pode oferecer a Macau?

B.M. – Sobretudo, e mutuamente, um capital de confiança sem paralelo. Aquilo que nos une são 510 anos de convivência, é também e ainda a língua portuguesa, o diálogo institucional e a confiança entre os povos, como esta deslocação demonstrou. E, no plano mais prático, um entreposto comercial e logístico de entrada na China, da mesma forma que Portugal pode ser para Macau uma porta de acesso à Europa.

Não é de menor importância lembrar que as experiências passadas de protecionismo do mercado laboral prejudicam (…) os trabalhadores que se pretendia proteger

Sente que há desconhecimento dos empresários portugueses relativamente às oportunidades em Macau?

B.M. – Sem dúvida, o conhecimento é inferior ao desejável. Esta viagem foi importante nesse sentido, mas o esforço de intercâmbio tem de continuar com mais viagens e interações entre as duas partes, essenciais para divulgar as oportunidades que existem em Macau e vice-versa. A Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa está também a trabalhar na organização de uma deslocação a Macau, a decorrer entre os dias 4 e 10 de junho. Convidamos todos os interessados a visitarem o nosso website para obter mais informações.

E quanto à Grande Baía, ainda é necessário trabalhar na promoção desta região em Portugal?

B.M. – Absolutamente. Trata-se de um projeto novo e sobretudo desenvolvido durante os três anos em que a China e Macau estiveram fechados. É agora importante as autoridades da Grande Baía fazerem um esforço de divulgação da área, quer organizando missões de divulgação, quer convidando jornalistas portugueses a visitarem a região no sentido de ser promovida em Portugal.

Temos visto um discurso político em Macau de protecionismo do mercado laboral local. Poderá ser um entrave à entrada de capital português?

B.M. – Naturalmente que sim. Uma das componentes de análise mais importantes para as empresas em expansão é a disponibilidade de mão de obra qualificada para desenvolver os respetivos planos de negócio. Não é por acaso que Hong Kong e várias cidades da Grande Baía se desdobram em esforços para atrair e facilitar a entrada de profissionais qualificados. Neste capítulo, Macau tem ainda uma margem de evolução grande para se tornar mais atrativa para as empresas portuguesas ou de qualquer outra nacionalidade. Não é de menor importância lembrar que as experiências passadas de protecionismo do mercado laboral prejudicam (…) os trabalhadores que se pretendia proteger, pelo facto de não competirem ou conviverem com quem lhes pode transmitir mais conhecimentos, elevando a própria competitividade das economias onde operam.

Vimos recentemente alguns dos principais líderes mundiais a posicionarem-se junto da China com visitas oficiais. Portugal não deve ficar atrás nesta corrida

Como vêem o desenvolvimento da Zona de Cooperação Aprofundada em Hengqin? É o momento certo ou ainda há “arestas a limar” até que esta ilha represente oportunidades para o universo lusófono?

B.M. – Trata-se de uma extensão de Macau, abrindo espaços onde antes a RAEM não conseguia dar resposta. Por outro lado, é um projeto definido e impulsionado por Pequim, pelo que será apenas uma questão de tempo – e não muito – até que esteja completamente operacional, como é apanágio do Governo Central. Nesse sentido, recomendamos às empresas que tenham condições para avançarem nesta nova fase, onde ainda existem incentivos, e não quando já todas as empresas estiverem estabelecidas e o conceito provado.

China e Portugal. O que é que estes países podem oferecer um ao outro?

B.M. – Nos próximos cinco anos, a China contribuirá com 23 por cento da riqueza mundial criada, de acordo com o Fundo Monetário Internacional. Um mercado desta escala não tem paralelo no mundo e é por isso alvo do interesse de todos os países do mundo. Nesse contexto, competimos com outras economias pela atração de investimento chinês e também na venda dos nossos produtos aos consumidores chineses. Vimos recentemente alguns dos principais líderes mundiais a posicionarem-se junto da China com visitas oficiais. Portugal não deve ficar atrás nesta corrida e deve também prosseguir os seus interesses e das suas empresas, tirando proveito dessa boa relação com a China.

Macau foi incumbido pelo Governo Central de ser a ponte entre a Lusofonia e a China. Está a desempenhar esse papel? O que tem a melhorar?

B.M. – A arquitetura desenhada é excelente e os recursos disponíveis são impressionantes, como evidenciam quer o Fórum Macau quer o Fundo para os PLP’s. Onde é preciso melhorar é no terreno e nos resultados obtidos, no dia-a-dia dos negócios. Não é uma tarefa fácil, creio que poderá passar por uma ligação maior daquelas entidades aos territórios lusófonos, eventualmente através de mecanismos de identificação de oportunidades junto das embaixadas chinesas nesses países, que por sua vez conhecem as empresas, municípios e governos locais.

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