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Delegação empresarial esteve em Portugal numa visita de estudo de diversificação

Nelson Moura

Membros da delegação empresarial que acompanhou o Chefe do Executivo na sua primeira visita a Portugal consideram que o principal objetivo da visita foi atingido: anunciar que Macau está de “portas abertas para negócios”. Por outro lado, perceber de que forma Portugal pode auxiliar o plano de diversificação económica

Uma delegação composta por 40 empresários de Macau e representantes da Zona de Cooperação Aprofundada de Guangdong e Macau em Hengqin esteve em Portugal este mês para uma agenda cheia de encontros e visitas empresariais, em Lisboa e no Porto.

A delegação viajou com o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau, entre 16 e 24 de abril, à boleia do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, na sua primeira viagem a Portugal.

“Em primeiro lugar creio que foi uma viagem muito importante, diferente das delegações realizadas anteriormente, pois reuniu não só empresários e comerciantes, mas também diferentes representantes governamentais. Em segundo lugar, é um sinal importante de que as coisas voltaram ao normal”, diz ao PLATAFORMA o empresário de Macau, Kevin Ho.

“Como o Chefe do Executivo afirmou, muitos países enviaram convites, mas decidiu que a primeira visita oficial fora do país seria Portugal. Isso mostra a importância que Macau dá a Portugal e aos Países de Língua Portuguesa”.

Os empresários visitaram 13 entidades locais, incluindo instituições industriais e comerciais, bem como empresas de ‘big health’, alta tecnologia, comércio, entre outras áreas descritas pelas autoridades da RAEM como alicerces importantes para a diversificação económica de Macau.

“Foi muito importante promover que Macau ainda existe e está de portas abertas para negócios. A mensagem transmitida pelo Chefe do Executivo do início ao fim foi essa”, indica Jorge Valente, presidente da Associação Sino-Lusófona da Indústria e Promoção de Intercâmbio Cultural.

Foco na saúde

A indústria farmacêutica portuguesa e o seu possível contributo para o desenvolvimento da área em Macau foi um dos focos da viagem. Membros da delegação visitaram o Luz Saúde, um dos maiores grupos de prestação de cuidados de saúde no mercado português, a Fundação Champalimaud, uma instituição sem fins lucrativos de pesquisa científica no campo da medicina; e a Hovione, uma farmacêutica já com laboratório em Macau.

“Eu próprio tenho uma empresa que assinou um acordo com uma empresa portuguesa de fornecimento de equipamentos médicos. Muito membros trouxeram acordos e contratos preparados para serem assinados”, explica Valente.

Kevin Ho diz que embora Macau esteja a tentar desenvolver a sua própria indústria de cuidados de saúde, o próprio Chefe do Executivo indicou à delegação que Macau e Hengqin não são regiões onde seja fácil desenvolver produtos farmacêuticos.

“Por isso vamos precisar de pessoas que venham para desenvolver estas indústria, seja medicina tradicional chinesa ou medicina oriental. Macau pode ser usada como ponto de partida para desenvolver produtos farmacêuticos que possam ser distribuídos na província de Guangdong”, apontou o também delegado de Macau na Assembleia Popular Nacional.

“O Chefe do Executivo encorajou-nos a estudar as diferentes companhias farmacêuticas em Portugal. Pode ser ainda cedo, mas esta visita permitiu-nos um olhar inicial”.

Mesmo assim, tratando-se de uma delegação empresarial com interesses comerciais diferentes, foram realizadas visitas a indústrias dos mais variados setores.

O empresário sublinha, por exemplo, a visita ao Grupo Sovena, uma empresa agroindustrial focada na produção de azeite e óleos alimentares.

“Esta empresa distribui já alguns produtos em Macau e no interior da China. No entanto, ainda é um mercado por explorar. É necessário encontrar as pessoas, distribuidores e táticas de marketing certas”, destaca Ho.

“Alguns dos produtos deles serão atrativos para o mercado chinês, outros talvez não, mas podem importar algumas matérias-primas da China. Prometi voltar com alguns contactos que podem ser úteis.”

Eduardo Ambrósio, presidente da Associação Comercial Internacional para os Mercados Lusófonos, realça os “contactos estabelecidos com a indústria farmacêutica”.

Contudo, prefere destacar os produtos portugueses que poderiam ser importados para Macau e, consequentemente, dar entrada no mercado continental. Entre estes, menciona o calçado e a água com gás.

Jorge Valente aponta que houve um esforço claro por parte dos vários departamentos governamentais e da delegação empresarial presente em vincar a mensagem da diversificação da cidade, com empresários de vários setores além do jogo e turismo a marcarem presença.

“Viu-se também nas mensagens transmitidas e pelos acordos de cooperação. Falou-se muito das quatros grandes indústrias que Macau quer desenvolver. Obviamente há algumas áreas que serão mais fáceis e outras que não se sabe ainda muito bem como serão desenvolvidas”, reconhece.

“A Medicina Tradicional Chinesa, por exemplo, pode ser que Macau a queira desenvolver, mas ainda não é claro como, ou como a Europa e Portugal podem contribuir nessa área”.

Esforço conjunto na Lusofonia

Os empresários cumpriram uma agenda diferente da seguida pelo Chefe do Executivo, Ho Iat Seng, embora o governante tenha marcado presença em alguns eventos empresariais, incluindo um “Seminário de Promoção sobre Investimento e Turismo Macau–Portugal”.

Nesse evento, o Chefe do Executivo, o secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e Cooperação de Portugal, o embaixador da China em Portugal e outros convidados testemunharam a assinatura do memorando de cooperação entre a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal e o IPIM.

“Achei muito interessante o acordo entre o IPIM e a AICEP, pois foi sugerida uma promoção bilateral com esforço conjunto de promoção nos PLP”, assinala Jorge Valente.

“Creio que já havia um acordo nesta área anteriormente, mas espero que agora se ponha em prática e que possa trazer vantagens às empresas de Macau e Portugal, que juntas podem ter mais pontos complementares a oferecer nos PLP”.

Outro acordo assinado incluiu cooperação empresarial entre a Associação de Comerciantes e Industriais Luso-Chinesa de Portugal e a Associação Comercial de Macau.

Frederico Ma Chi Ngai, presidente da Associação Comercial de Macau, afirma que a viagem permitiu reatar contactos e atividades suspendidas durante a pandemia. “A viagem ajudou-nos a conectar com empresários locais e visitámos algumas indústrias alimentares que estão a procurar parceiros chineses. Talvez antes estas empresas instalassem uma sucursal em Xangai e enfrentassem algumas diferenças culturais. Acho que em Macau podem encontrar alguns parceiros que os ajudem a estabelecer-se na Grande Baía.”

O também presidente do Conselho de Administração do Fundo para o Desenvolvimento das Ciências e da Tecnologia defende que o ecossistema de startups em Macau “tem melhorado”, com esforços para lançar medidas que ajudem startups portuguesas e brasileiras a estabelecerem-se em Hengqin.

Ma indica que algumas startups locais foram também incluídas na viagem, mencionando como exemplo a Digifluidic Biotech Ltd, uma empresa fundada por estudantes do doutoramento da Universidade de Macau (UM) e que desenvolveu um ‘kit’ de teste rápido que permite a deteção viral em 30 minutos.

Aquando da visita do Chefe do executivo à Câmara Municipal de Lisboa, o presidente da cidade, Carlos Moedas, lembrou o papel cada vez maior que Lisboa desempenha na área das startups, destacando a Fábrica de Unicórnios – um espaço visitado pela delegação de empresários de Macau – e a Web Summit – o maior evento de tecnologia do continente europeu.

Inaugurado no ano passado com um investimento de oito milhões de euros, a Fábrica de Unicórnios, no Hub Criativo do Beato, foi estabelecida para potenciar o crescimento de empresas e apoiar 20 scale-ups por ano.

“Foi uma visita rápida mais para introduzir. Portugal, especialmente Lisboa e o Porto, têm muitos jovens empreendedores com boas ideias. No entanto, parecem-me estar ainda demasiado focados no mercado europeu. A China parece-lhes um mercado longínquo, mas isso não quer dizer que não o possam explorar. Tenho algumas incubadoras de startups em Guangdong e estou a tentar criar parcerias e intercâmbios com incubadoras de Portugal”, diz Kevin Ho.

Antes da pandemia, o empresário encetou negociações com o presidente de Vila Nova de Gaia para realizar alguns intercâmbios de empreendedorismo. Uma iniciativa que foi suspensa com a pandemia, mas que espera poderem voltar.

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