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“A China é um grande parceiro de Cabo Verde”

Nelson Moura

A comunidade chinesa está “bem integrada” e é parte importante do tecido empresarial de Cabo Verde, diz ao PLATAFORMA o presidente da Câmara Municipal da Ilha do Sal, Júlio Lopes

Júlio Lopes, presidente da Câmara Municipal da Ilha do Sal descreve ao PLATAFORMA como a comunidade empresarial chinesa tem tido uma contribuição importante para o desenvolvimento turístico e urbano.

“A Ilha do Sal é um local especial em Cabo Verde. É a mais cosmopolita de todas as ilhas. Temos dezenas de nacionalidades de todos os países, e os chineses fazem parte deste grande mosaico que constitui a Ilha do Sal. Temos centenas de chineses bem integrados. A maioria deles trabalha na área comercial”, diz.

Com uma grande população imigrada de outras ilhas, as autoridades locais têm vindo a investir mais na construção de equipamentos sociais, incluindo escolas e habitação, com alguns projetos a incluir parcerias com autoridades municipais chinesas.

“A cidade de Sanya, em Hainão, por exemplo, financiou um grande projeto, uma pista de atletismo na capital da ilha, Espargos. Graças a este investimento a Ilha do Sal é neste momento a ilha com mais campeões de atletismo em Cabo Verde. Gostaríamos de negociar com as autoridades de Sanya outro financiamento para uma pista na cidade de Santa Maria […], a segunda maior da ilha.”

Comunidade chinesa é “uma grande ajuda”

A comunidade chinesa tem também um papel importante em garantir o acesso a bens essenciais a preços acessíveis, numa ilha em que quase todos os alimentos são importados e em que o salário mínimo ronda os 20 mil escudos (200 euros).

“Cabo Verde tem um clima tropical seco, às vezes desértico. A nível alimentar, quase 80 por cento dos produtos são importados. Vestuário e outros produtos também são geralmente importados, com os chineses a serem importantes por ocuparem esta área empresarial. Trazem produtos de baixo preço, o que é uma grande ajuda para residentes com menos rendimentos”, explica.

A cidade de Sanya, em Hainão, por exemplo, financiou um grande projeto, uma pista de atletismo na capital da ilha, Espargos. Graças a este investimento a Ilha do Sal é neste momento a ilha com mais campeões de atletismo em Cabo Verde

“É por isso que a comunidade é importante para a Ilha do Sal e para Cabo Verde […]. Criam um centro de compras, compram as mercadorias a retalho em conjunto, com cada loja depois a proceder às suas vendas.”

Na cidade de Santa Maria, onde se concentram a maioria dos hotéis e as praias mais conhecidas da ilha, podem encontram-se várias lojas e armazéns chineses, com os residentes mais habituados a passar pelo Supermercado Chen ou Armazém Amizade do que pelo histórico Mercado Municipal para as suas compras diárias.

A lojista Liu, da loja de comércio geral Liu, indica ao nosso jornal que, apesar de ser de Henan, no centro da China, a maioria dos empresários na ilha são oriundos das províncias do sul da China, atraídos pelas oportunidades de comércio na África ocidental.

Lopes diz que a comunidade empresarial chinesa está também a investir em outras áreas, nomeadamente no setor da pesca e do imobiliário, incluindo residências de férias, hotéis e lazer. A título de exemplo, refere que a maior discoteca da ilha trata-se de um investimento chinês.

“Em Cabo Verde há total liberdade comercial, as pessoas podem investir onde quiserem, sejam chineses, europeus ou cabo-verdianos. Não há constrangimentos em nenhuma área. Nós como autoridades públicas estamos cá para criar um bom ecossistema de investimento nacional ou estrangeiro. Nós queremos investimentos maiores em áreas cruciais, no entanto, como sabe, o comércio não implica investimento. Mas nós queremos que hajam investimentos que tragam valor acrescentado. Os investidores e comerciantes chineses têm todo o apoio das autoridades em expandir as suas atividades. O ambiente local é propício ao investimento.”

Em 2022, as trocas comerciais entre a China e Cabo Verde atingiram 9.4 milhões de dólares americanos, um crescimento de 30 por cento face a 2021. A China é atualmente o terceiro maior exportador para o país, a seguir a Portugal e Espanha.

Turismo a desenvolver

Apesar dos seus reduzidos 180 quilómetros quadrados e uma população de apenas 20.000 habitantes, a Ilha do Sal, em Cabo Verde, assistiu a um desenvolvimento turístico considerável, atraindo mais de metade do volume de turistas que visita o país anualmente. A fazer bom uso das suas praias de areia branca, esta ilha semidesértica viu resorts e hotéis turísticos nascer como cogumelos nos últimos cinco a dez anos.

Seria bom também ter mais chineses a visitar a Ilha do Sal não só para negócios, mas também para turismo

Resorts concluídos ou em construção são visíveis quando se atravessa a reduzida extensão da ilha a 570 quilómetros do continente africano. “A China é um grande parceiro de Cabo Verde em várias áreas. Temos um novo embaixador chinês em Cabo Verde e vamos ver se esse apoio continua. Seria bom também ter mais chineses a visitar a Ilha do Sal não só para negócios, mas também para turismo. A viagem é longa, mas se vierem de certeza que vão adorar”, vaticina.

A ilha possui neste momento mais de 20 resorts de grande envergadura, muitos deles de cinco estrelas. O Aeroporto Internacional Amílcar Cabral – atualmente o maior e mais internacional de Cabo Verde – recebe diariamente voos das maiores cidades europeias.

“Com a promoção cada vez maior de Cabo Verde no exterior e a descoberta de turistas europeus do nosso país como destino, está a haver um crescimento considerável no setor. Em 2022, por exemplo, o fluxo turístico ultrapassou os valores de 2019”, enfatiza, acrescentando que os dados de 2023 apontam para “um ano ótimo”.

Quase 836 mil turistas visitaram o ar￾quipélago no ano passado, segundo dados do Instituto Nacional de Estatística, com a Ilha do Sal a liderar a procura, com 61,8 por cento do total das entradas.

Com o setor do turismo a garantir quase 25 por cento do Produto Interno Bruto (PIB) do arquipélago, Cabo Verde teve a sua economia duramente afetada pela pandemia de Covid-19.

“Acreditamos que nos próximos anos estes fluxos vão crescer ainda mais. Muito deste crescimento pode ser atribuído à construção de um hotel do Grupo RIU, um grupo hoteleiro internacional que construiu um hotel em plena pandemia. Seria de esperar que as obras parassem, mas pelo contrário continuaram e concluíram o projeto. Esta propriedade agora está sempre com uma taxa de ocupação perto dos 100 por cento”.

O Grupo RIU – uma cadeia de hotelaria espanhola com seis propriedades no arquipélago, três no Sal – investiu cerca de 37 milhões de euros na reestruturação das suas propriedades na Ilha do Sal: Riu Palace e Club Hotel Riu Funaná.

Os investidores e comerciantes chineses têm todo o apoio das autoridades em expandir as suas atividades. O ambiente local é propício ao investimento

“Parece-me um sinal importante que um grupo da dimensão do RIU conte tanto em Cabo Verde e no turismo da Ilha do Sal. Este investimento teve um grande impacto no fluxo turístico da ilha e de Cabo Verde. É dos maiores hotéis que este grupo tem a nível internacional”, salienta.

“O Sal está muito bem colocado a nível internacional, temos muitos hotéis de cinco estrelas e de qualidade internacional que podem ombrear com qualquer outro destino internacional. Temos um Hilton, os hotéis do grupo Riu, e os da Meliá”.

O aeroporto da ilha tem atualmente voos diários com Portugal operados pela TAP, que ligam a ilha a Lisboa, Porto, e múltiplas cidades europeias.

“Diria que 10 por cento dos nossos turistas veem de Portugal, com voos de Lisboa e do Porto. No entanto, 70 por cento dos nossos turistas veem de Inglaterra, por isso temos muitos voos diários para lá. Temos também muitos voos para a Alemanha, França, Bélgica, Holanda, Luxemburgo, Itália. E recebemos voos da Polónia, Dinamarca, Noruega e da República Checa. Quase a Europa inteira tem voos diretos para a Ilha do Sal.

O autarca – que lidera a câmara da ilha desde 2016 – envida esforços para estabelecer ligações com os Estados Unidos, para tornar a ilha acessível a turistas americanos e imigrantes cabo-verdianos, com negociações para estabelecer voos charters com Boston e Nova Iorque. Segundo Lopes, a Ilha do Sal tem beneficiado de uma postura muito aberta das autoridades a negócios e em remover barreiras e constrangimentos ao turismo. O Presidente da República de Cabo Verde, José Maria Neves, disse recentemente estar satisfeito com a recuperação pós-pandémica da Ilha do Sal, mas que o rápido desenvolvimento do setor turístico da ilha também trouxe grandes desafios.

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