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Descodificar a recuperação económica da China nas “duas sessões”

Embora ainda paire um risco de recessão sob a economia global, as “duas sessões” em curso na China tranquilizaram investidores e empresas de que a segunda maior economia do mundo está recuperar do choque da Covid-19 e vai continuar a servir como um forte impulsionador de crescimento para o mundo.

No domingo, uma série de metas económicas muito esperadas para 2023 foi revelada num relatório de trabalho do Governo, que é deliberado e discutido por legisladores nacionais e conselheiros políticos reunidos nas duas reuniões governamentais anuais, também conhecidas como as “duas sessões”.

De acordo com esse relatório, o Produto Interno Bruto (PIB) do país deverá crescer cerca de 5 por cento em 2023. Outras metas incluem cerca de 12 milhões de novos empregos urbanos e um aumento do índice de preços no consumidor de cerca de 3 por cento.

Após registar um crescimento económico mais lento de 3 por cento no ano passado, a recuperação prevista no relatório oferece um novo impulso de confiança na resiliência e nas perspetivas da economia chinesa, juntamente com uma série de medidas a favor do crescimento, desde a expansão da procura doméstica até a modernização do sistema industrial e a atração de investimentos estrangeiros.

O economista Yu Miaojie, presidente da Universidade de Liaoning e legislador nacional, considera que a China tem a capacidade de atingir a sua meta de crescimento, já que as atividades comerciais e a vida dos residentes estão rapidamente a voltar à normalidade, e o ímpeto de crescimento doméstico está a ganhar força desde o início do ano.

“Para um grande país em desenvolvimento como a China, um desenvolvimento de alta qualidade requer uma taxa de crescimento adequada e precisamos de promover uma recuperação económica completa o mais rápido possível”, disse Liu Shangxi, chefe da Academia Chinesa de Ciências Fiscais e conselheiro político nacional.

De facto, têm surgido sinais crescentes de que a economia está a recuperar, como prova o barulho das máquinas fabris e a agitação outra vez presente nas atrações turísticas.

O índice de gerentes de compras para o setor manufatureiro da China chegou a 52,6 em fevereiro, aumentando por dois meses consecutivos e atingindo o valor mais elevado desde abril de 2012.

Como prova da melhoria do sentimento do consumidor, as receitas do turismo aumentaram 30 por cento anualmente, e os cinemas de todo o país registaram a sua segunda maior receita de bilheteira de sempre durante os feriados da semana do Ano Novo Chinês, em janeiro.

Mais cidades testemunharam subidas mensais nos preços das casas em janeiro, indicando um mercado imobiliário em estabilização.
 
Uma reportagem da CNN citou o chefe de economia da Capital Economics na China, Julian Evans-Pritchard, que indicou que os últimos dados do país são “excecionalmente fortes” e confirmam uma “recuperação muito rápida” da atividade económica.

Dada a rápida recuperação, o especialista acredita que a previsão de crescimento da sua empresa para o crescimento da China este ano (5,5 por cento) pode ser muito conservadora.

Atingir estes objetivos não é tarefa fácil. Apesar da tendência ascendente, o relatório de trabalho do Governo, divulgado no domingo, alertou para os desafios externos decorrentes da inflação elevada e do enfraquecimento do crescimento económico e comercial global, apontando também que a base para o crescimento doméstico estável também precisa ser consolidada.

Para enfrentar estes desafios, foi anunciado no relatório uma série de políticas de crescimento: uma relação défice/PIB de três por cento; prioridade à recuperação e expansão do consumo; 3.8 biliões de yuans (550 mil milhões de dólares americanos) de títulos do governo local para fins especiais; e cortes contínuos de impostos e taxas para aliviar os encargos das empresas.

As novas medidas impressionaram os legisladores e conselheiros políticos que participaram nas “duas sessões”.

Manter a intensidade necessária dos gastos do Governo vai ajudar a promover uma recuperação económica plena, disse Zhang Lianqi, vice-presidente do Instituto Tributário Chinês e conselheiro político nacional.

Wang Changlin, presidente da Academia de Pesquisa Macroeconómica e conselheiro político nacional, destacou a necessidade de deixar o consumo recuperar e ressurgir como o motor económico mais importante.
 
Li Xiehua, presidente da Chinalco Advanced Manufacturing Co., Ltd. e legislador nacional, indicou que o seu negócio beneficiou muito das políticas favoráveis dos últimos anos e que se sente mais seguro e confiante depois de tomar conhecimento das novas medidas.
 
Com metas estabelecidas e ações sólidas em andamento, o quadro promissor da economia chinesa desenhado durante as “duas sessões” ecoou em todo o mundo.

Comentando as metas principais do PIB, Kevin Kang, economista-chefe da KPMG China, disse que o país é consideravelmente mais forte do que a maioria das principais economias do mundo e acredita que a China vai ultrapassar este objetivo registando uma taxa de crescimento de 5,7 por cento.

A China vai continuar a ser um dos principais países com o crescimento mais forte este ano, e a sua contribuição para o crescimento económico global será de 30 por cento, disse Steven Barnett, representante sénior residente do FMI na China.

Mais recentemente, a agência de rating Moody’s elevou sua previsão para o crescimento da China de 4 para 5 por cento para este ano e 2024.

De acordo com um relatório da revista Barron’s, a China é a única grande economia do mundo a caminho de registar um crescimento razoável de lucros empresariais e de PIB em 2023.

“Dado o apetite da China por energia, automóveis e muito mais, isso é uma boa notícia para a economia global e aumenta a probabilidade do mundo evitar uma recessão, mesmo com a desaceleração dos Estados Unidos e da Europa.”

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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