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Contra a guerra… marchar, marchar

Paulo Rego*

A operação de charme de Wang Yi na Europa tinha um trunfo à vista na manga: o plano de paz chinês para a Ucrânia. Putin enche o peito e diz que este não é o tempo da paz… a guerra vai continuar. Faz mal. Está cego de poder; perde a noção do tempo histórico.

É muito difícil a ocidente explicar a questão a oriente. Se olharmos para o mapa, com olhos de ver, vemos a China cercada por aliados de Washington – armados até aos dentes. A tensão na fronteira com a Rússia é a última coisa que se pode exigir a Pequim. Nem sequer vale a pena pensar que a China é influenciável pelo imperativo ético ocidental. Não faz sentido, nem é intelectualmente honesto.

Dito isto, em qualquer canto do mundo, seja qual for a cultura política e o posicionamento estratégico, a invasão militar russa na Ucrânia é simplesmente inaceitável. Mesmo sendo verdade que os Estados Unidos sabiam bem que estavam a provocar Moscovo ao integrar na NATO os países da antiga União Soviética.

A questão de fundo é a demonização da China. Muito para além regime político, a parceria estratégica entre Xi e Putin é o maior trunfo do ataque ocidental. Washington não mostra qualquer impulso para a paz. Aliás, a sensação que dá é que a guerra lhe interessa; por motivos económicos, estratégicos, e de política interna. Mas também é verdade que tinham de reagir à obsessão russa pela memória do império soviético. O que torna muito difícil criticar Washington.

Esta guerra serve muita gente, em ambos os lados da barricada. Não serve certamente ao povo ucraniano, que morre atolado num país em ruínas; não ao povo russo, muito menos aos seus soldados; não serve a um mundo que todos os dias arrisca uma catástrofe provocada por tensões nacionalistas… não serve à China, que percebe bem o buraco em que se meteu.

Há um dado que Putin descora. Se permitir que a China encontre uma paz conduzida a oriente – e o ocidente a recusar – os falcões atlânticos perdem apoio popular. E isso, nas democracias liberais, ainda conta. Putin perde a oportunidade que essa paz abriria ao eixo Moscovo/Pequim – abrindo um novo horizonte em Nova Deli. Triunvirato, esse sim, que é o verdadeiro demónio que mete medo ao atlântico.

*Diretor Geral do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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