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Interesse do Nordstream

Guilherme Rego*

Antes da invasão russa à Ucrânia, já a Casa Branca estava preocupada, e muito, com o Nordstream 2 – o segundo gasoduto russo a chegar à Alemanha. O gás, mais barato, iria abastecer 50 por cento das necessidades energéticas germânicas. Interessava a todos, menos aos Estados Unidos.

A União Europeia tentava encontrar o caminho do meio – o da autonomia. Contudo, com a iminente Guerra na Ucrânia, viu-se forçada a renunciar.

Faz agora um ano que, em conferência de imprensa conjunta com o Chanceler alemão, Biden afirmou que se a Rússia invadisse a Ucrânia, acabaria com o Nordstream 2, “de uma forma ou de outra”.

O tom, confiante e desafiador, não foi refutado por Olaf Scholz. Pela expressão facial do Presidente americano percebia-se que já lhe tinham dado soluções.

A setembro de 2022, os gasodutos foram sabotados num “ato terrorista” ainda envolto em mistério. Dias depois, o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, regozijou-se com a “oportunidade tremenda para remover, de uma vez por todas, a dependência da energia russa”.

A subsecretária de Estado para Assuntos Políticos, Victoria Nuland, reforçou a mesma posição: “Estou e acho que o Governo também está muito satisfeito por saber que o Nord Stream 2 é agora (…) um pedaço de metal no fundo do mar”.

Esta posição é extremamente infeliz perante um ato terrorista; mas é também reveladora dos interesses norte-americanos. Em contraste, não se vislumbram motivos para ser a Rússia a sabotar a sua própria operação.

Já para não falar dos interesses económicos, os gasodutos eram extremamente importantes para Moscovo recuperar influência na Europa.

Seymour Hersh, veterano do jornalismo de investigação norte-americano, que revelou o Massacre de My Lai e cobriu o escândalo de Watergate, veio agora a público explicar que foram os EUA a sabotar os gasodutos russos.

Foi logo atacado por dar voz a uma única fonte anónima. Mas mais de meio ano depois da explosão, ainda não há culpados. Países como a Suécia e a Dinamarca, que lançaram investigações in loco, ainda não partilharam conclusões.

É imperativo que se verifique a verdade. Tem de se acautelar atos de terrorismo nestes gasodutos, que são o futuro da distribuição energética. Mais: se Hersh estiver certo, é preciso também perceber até que ponto a Europa estará conivente.

O silêncio europeu fez-se ouvir, quando tinha todo o interesse em determinar os responsáveis pela sabotagem.

*Diretor Executivo do PLATAFORMA

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