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Sete empresas lutam por seis licenças: atuais titulares possuem vantagem em Macau

Tony LaiTony Lai

Analistas acreditam que será difícil para a Genting conquistar o seu espaço no mercado local quando o Governo deve optar pela estabilidade na renovação das licenças de jogo. Mas a sua relação geopolítica entre a China e os EUA poderá ser um ponto a favor, bem como a posição frágil de uma das concessionárias

A nova ronda de licitações para as concessões de jogo em Macau terminou no dia 14 de setembro. Como já se esperava, as seis grandes empresas de jogo participam no concurso e tentam proteger a sua posição no mercado.

Contudo, a entrada da Genting cria uma luta entre sete empresas por seis lugares. O concurso teve início no dia 16 de setembro, sendo que a GMM S.A., que representa o Grupo Genting, foi admitida “condicionalmente”.

O Governo afirma que a Comissão irá negociar, consultar e escrutinar as propostas das empresas admitidas, com os resultados do concurso a serem divulgados até ao final do ano. O concurso oferece seis licenças até 10 anos a partir de 1 de janeiro de 2023. E uma das empresas não vai singrar na próxima década.

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As seis atuais operadoras não parecem ter medo de enfrentar o novo concorrente. Numa entrevista durante a abertura do concurso, o presidente e CEO da Melco Resorts & Entertainment, Lawrence Ho, partilhou que a corrida entre sete empresas para apenas seis licenças reflete a “confiança da indústria no desenvolvimento a longo prazo de Macau”.

A empresa está extremamente confiante de que irá receber uma das novas licenças devido à sua “promoção constante de outros elementos fora do jogo e diversificação industrial de Macau, em linha com os ideais do Governo ao longo da ultima década”.

A Co-CEO e diretora-geral da MGM China, Pansy Ho, está igualmente confiante de que a sua empresa tem trazido elementos inovadores, culturais e artísticos ao entretenimento em Macau, planeando no futuro continuar a trabalhar de acordo com os requisitos governamentais, especialmente nas áreas de desporto e proteção ambiental.

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A empresária salienta que o jogo em Macau tem “apoiado toda a comunidade e respondido a várias medidas do Governo.”

Após a candidatura à licitação, a Genting Malásia, subsidiária do Grupo Genting, emitiu um comunicado a afirmar que a sua participação no concurso “oferece ao Grupo Genting a oportunidade de expandir a sua atividade no setor hoteleiro e a sua posição no mercado internacional.”

O representante da GMM afirma ainda esperar “trazer um novo impacto” a Macau com a licitação.

CONTRIBUIÇÃO GIGANTESCA DAS SEIS GRANDES EMPRESAS

Analistas acreditam que apesar de o Grupo Genting possuir alguns pontos fortes em comparação com as restantes seis empresas, será difícil quebrar a atual estrutura. Alidad Tash, diretor-geral da 2NT8, empresa de consultoria na indústria do jogo, diz ao PLATAFORMA que “não há razão para o Governo expulsar uma empresa que tem cumprido com os seus critérios ao longo dos últimos 20 anos e desenvolvido uma série de propriedades”.

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O mesmo reitera que a probabilidade do Grupo Genting receber uma das licenças é extremamente baixa.

Alidad Tash, diretor-geral da 2NT8

“Traduzindo para números, acredito que as seis grandes empresas têm uma probabilidade de 97 a 98 por cento de receber a licença de jogo”, afirma.

O banco de investimento Citibank publicou um relatório onde revela a mesma opinião, salientando que o Grupo Genting “não possui nenhuma condição diferente” capaz de convencer o Governo de Macau a oferecer-lhe uma licença de jogo em detrimento das atuais operadoras.

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O relatório revela a contribuição destas seis empresas para Macau ao longo dos últimos 20 anos, incluindo um investimento local acumulado de mais de 50 mil milhões em novas atrações turísticas, quartos de hotel, comércio e emprego local.

UM PROJETO, DUAS OPERADORAS

O Governo tem ainda repetido múltiplas vezes que não serão disponibilizados mais terrenos para a exploração do jogo depois das atuais concessões expirarem no final deste ano.

Vai continuar a permitir a utilização dos atuais locais e casinos explorados pelas seis grandes concessionárias de acordo com a lei. Caso seja oferecida uma licença à nova concorrente, a infraestrutura será arrendada à mesma.

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No entanto, o Citibank menciona no seu relatório que estas infraestruturas e casinos foram criados em resorts detidos pelas atuais operadoras. Se a Genting receber uma licença, terá de operar os casinos localizados nos resorts de outra empresa.

A empresa corretora acredita por isso que as seis grandes empresas muito provavelmente vencerão o concurso, visto que o Governo “não quer um projeto de resort integrado com duas empresas a operar infraestruturas de jogo e não-jogo”.

Ben Lee, diretor-geral e fundador da iGamiX, empresa de consultoria na área do jogo, acredita que estes problemas não são significativos. O mesmo partilha com o PLATAFORMA que “caso uma das atuais operadoras não receba uma licença, será lógico negociar um acordo com a nova empresa [para a venda de infraestruturas não relacionadas com o jogo], visto que a perda da licença implicará uma exploração de infraestruturas não relacionadas com o jogo em prejuízo”.

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Ben Lee menciona que caso a Genting receba a licença, poderá usar o Treasure Island Resort World Hotel, circundado pelo Lago Nam Van e adjacente ao Hotel Lisboa Macau, para operar o seu casino.

Ben Lee, diretor-geral e fundador da iGamiX

De acordo com a informação disponível, a Genting Hong Kong, subsidiária da Genting, comprou em 75 por cento do terreno para o projeto de Kwan Yany Yan Chi em 2007, entre outros, e procura desenvolver o Treasure Island Resort World Hotel. Todavia, a empresa vendeu 37,5 por cento do terreno a Ao Mio Leong, outro empresário de Macau, no final de 2020, mostrando intenções de vender as restantes ações.

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A Genting Hong Kong atualmente está com falência declarada devido a problemas financeiros, sendo por isso incerto se a empresa é ainda detentora de direitos sobre o terreno. É esperado que a construção do Treasure Island Resort World Hotel termine até ao final deste ano, contando com 600 quartos de hotel e um centro comercial. Não obstante, o Governo ainda não autorizou a construção de um casino no local.

PATRIOTISMO E SEGURANÇA NACIONAL

O Grupo Genting, liderado por Lim Kok Thay, participou no seu primeiro concurso público de licenças de jogo em Macau há 20 anos, na altura sob o nome Macau Star, S.A., saindo perdedor. 20 anos depois, a Genting transformou-se numa multinacional do jogo e volta a enfrentar a batalha em Macau.

Além de operar vários casinos de renome na Malásia, Singapura e Filipinas, a sua operação também está presente em mercados como o Reino Unido e EUA.

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Como um dos poucos analistas que vê o Grupo Genting de forma favorável, Ben Lee salienta que tendo em consideração a relação geopolítica entre a China e os EUA, “apenas empresas consideradas suficientemente patrióticas” receberão uma das novas licenças.

O facto de o CEO do Grupo Genting, Lim Kok Thay, ser malaio poderá ajudar a empresa a destacar-se entre a competição. Além disso, a Genting também possui um resort de esqui em Zhangjiakou, Hebei, chamado Genting Secret Garden e ajudou a organizar alguns dos eventos dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2022 em Pequim.

POSSÍVEL SOLUÇÃO

Atualmente, três das seis grandes empresas de jogo em Macau possuem capital americano, a Sands China, o Wynn Macau e MGM China Holdings. De acordo com a análise de Ben Lee, a empresa mais provável de ser substituída com a possível vitória do Grupo Genting será a Wynn Macau, seguida pela MGM China e Sands China.

jogo Macau
Jogo em Macau

“Em termos de desenvolvimento de produtos não relacionados com o jogo e criação de pontes entre Macau e Pequim, [a Wynn] tem contribuído menos”.

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Contudo, o banco de investimento Sanford C. Bernstein reportou recentemente: “Não prevemos que o Grupo Genting vença a licitação e substitua as restantes operadoras, contudo, acreditamos que a empresa se posicionou como possível solução caso algumas das operadoras eventualmente apresente dificuldades financeiras, necessidade de parceria ou de vender [o seu negócio] no futuro”.

Avaliando o atual contexto financeiro e fluxo de capital das seis empresas, a agência corretora acredita firmemente que a SJM Holdings poderá vir a precisar de colaborar com o Grupo Genting no futuro.

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