Início » Hengqin. O novo lar para residentes de Macau

Hengqin. O novo lar para residentes de Macau

Viviana ChanViviana Chan

Cerca de 1.100 residentes de Macau estão agora a viver em Hengqin, de acordo com dados da União Geral das Associações dos Moradores de Macau. O PLATAFORMA falou com alguns destes habitantes, concluindo que a Zona de Cooperação Aprofundada está a ganhar cada vez mais popularidade entre os locais

Kang Xingqin, uma residente local com 65 anos de idade, natural da província de Hubei, é uma das 1.100 pessoas que optou por mudar-se de Macau para Hengqin. Em 2018, saiu de Coloane, em Macau, e abraçou uma nova etapa na Ilha da Montanha. Numa família com vários membros, o apartamento em Macau tornou-se “pequeno” e, não havendo possibilidade de comprar uma casa maior na RAEM, decidiu mudar-se para a região vizinha.

Leia também: Macau irá inovar Hengqin através de “iniciativas mais pragmáticas”

De uma habitação com um quarto, passou para uma com três, mas a decisão que tomou não se baseou apenas no tamanho da casa. Ao PLATAFORMA, explica que os custos de vida em Hengqin são mais baixos, sobretudo no plano dos produtos alimentares, que também são mais variados. Kang recorda que quando vivia em Coloane precisava de ir semanalmente à cidade vizinha de Zhuhai para comprar comida. “Fica longe ir de Coloane para Gongbei”, diz, acrescentando que os “transportes públicos em Macau não são muito convenientes” e têm “muitas pessoas”. O seu descontentamento com os transportes públicos não melhorou na mudança para Hengqin, chegando a caracterizá-los como “uma miséria” no início. “Precisava de andar muito para chegar à paragem do autocarro e o tempo de espera também era longo. Mas agora a situação está a melhorar muito”, revela. Em Zhuhai, os autocarros para pessoas com idade superior a 65 anos são gratuitos. Nesse aspeto, Kang sente maior apoio aos idosos por parte das autoridades.

Hoje em dia, a casa de Coloane serve apenas como “domicílio temporário” para quando os seus netos precisam. Em Macau, as ruas estreitas e revestidas de calçada portuguesa eram um empecilho à deslocação de pessoas com dificuldades de mobilização – outro dos motivos que levou a família a optar por Hengqin. Agora vive num condomínio espaçoso, e a vontade para sair de casa e passear foi renovada. O seu dia-a-dia é preenchido com atividades comunitárias em conluio com outros idosos que vivem na Ilha da Montanha. O apoio prestado pelo Centro de Actividades da União Geral das Associações dos Moradores de Macau (UGAMM) também se tornou um dos alicerces da nova vida de Kang, que afirma estar grata pelo carinho e cuidado dos funcionários. Como a própria atesta, os jogos e aulas de artesanato que o centro promove enriquecem a vida depois da reforma.

Leia também: Hengqin implementará medidas de apoio à finança moderna em Macau

Hengqin, também conhecida como a Ilha da Montanha, localiza-se na parte sul da cidade de Zhuhai, na província de Guangdong. Esta zona é habitada por cerca de 53 mil pessoas e tem 106 km2, mais do triplo da área da RAEM. Recentemente, o Governo chinês definiu este território como plataforma para a diversificação adequada da economia de Macau, bem como para facilitar a vida e o emprego dos residentes locais.

De acordo com um estudo promovido pela mesma associação junto de 850 pessoas que agora vivem em Hengqin, cerca de 70 por cento dos residentes da RAEM ainda têm de ir a Macau para visitar o médico. A opção desses moradores está associada à insuficiência de recursos médicos na Ilha da Montanha e ao facto de usufruírem de serviços de saúde gratuitos em Macau. Kang paga seguro de saúde de Zhuhai, onde 70 por cento de determinados custos médicos são pagos pelo Governo. Embora ainda não tenha tido essa necessidade, acredita que é bom ter essas garantias.

Wong Peng Lin, de 64 anos, também participante nas atividades do centro, vive em Hengqin há dois anos. Atualmente reside na Zona Financeira de Hengqin, numa casa com cerca de 92 metros quadrados. A diferença para a sua antiga residência em Macau não é muita, mas o ambiente que goza é “bem melhor”, assegura. “A qualidade do ar é melhor. Há mais espaço e condições favoráveis aos idosos”, resume. Wong aponta que muitas das habitações nas zonas antigas de Macau não têm elevador, sendo um obstáculo para os mais velhos, salientando, contudo, que as mais de duas mil patacas de reforma são aceitáveis para ali estar: “Não é suficiente para viver em ambos lados, mas consigo obter uma melhor qualidade de vida em Hengqin”.

Kan Xingqin (esquerda) e Wong Peng Lin (direita)

A residente vive com a filha, que trabalha em Macau, e aponta as restrições da Covid-19 como outro problema de Hengqin, pelo menos por enquanto. “Devido ao surgimento de novos casos, a minha filha decidiu mudar-se para um hotel em Macau, com receio do encerramento da fronteira”, disse, perspetivando também o futuro a nível de empregos. “Os meus filhos preferem trabalhar em Macau, porque o nível salarial continua a ser grande. Contudo, creio que os meus netos vão fazer carreira em Hengqin, porque o mercado de Macau é muito pequeno e a Grande Baía tem mais potencial”, analisa.

DESENVOLVIMENTO ACOMPANHADO PELA FAMÍLIA CHAN

A família Chan mudou-se para Hengqin no fim de 2019 por várias razões, mas a principal, dizem, foi mesmo terem testemunhado as grandes mudanças na Ilha. “Naquela altura, percebi que Macau podia estender-se até Hengqin. Aqui há mais espaço e reúne melhores condições para o crescimento dos meus filhos. As crianças têm uma vida mais relaxada e feliz em Hengqin, porque o ritmo de vida em Macau é rápido, sente-se mais pressão”, disse Stanley Chan, o pai de família, destacando a permissão de circulação a veículos com matrícula de Macau e ainda outras mudanças. “Agora não precisamos de esperar por autocarros todos os dias e antes Hengqin era uma zona afastada do centro
de Zhuhai
, por isso não era conveniente fazer encomendas. Agora as compras online estendem os seus serviços até à porta da casa”, diz.

Leia também: Yang Chuan: “Hengqin irá concentrar-se em formas de construir um desenvolvimento industrial coordenado com Macau”

Refira-se que segundo o Projecto Geral de Construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau deverá haver ainda uma maior liberalização. “Ouvi dizer que Hengqin pode funcionar com um novo sistema a partir de junho, seria bom que a inspeção alfandegária fosse menos rigorosa”, conclui.

Nicole Chan, de 37 anos, decidiu ficar em casa para cuidar da família. Em 2019, os filhos ainda estudavam em Macau, mas devido à Covid-19 decidiram mudá-los. Apesar de uma fase de adaptação, a mãe acredita que a nível de educação a diferença entre Macau e Hengqin está a reduzir. “As escolas no Interior da China dão muita importância ao chinês e à matemática. O conteúdo pedagógico aqui é profundo na literatura chinesa em comparação a Macau, este aspeto é positivo. Contudo, o ensino em inglês é mais fraco”, salienta, referindo que como ali não há uma escola pública do ensino secundário, a família Chan planeia que os filhos regressem às escolas de Macau quando acabarem o ensino primário.

Nicole (esquerda) e Stanley Chan (direita)

APOIO COMUNITÁRIO DE MACAU EXPANDIDO

A UGAMM, uma das maiores associações tradicionais, fundou o Gabinete em Guangdong em 2018 e o seu primeiro centro de serviços foi estabelecido em Sanxiang, na cidade de Zhongshan; depois, em novembro de 2019, foi montado outro em Hengqin. Atualmente já existem ali quatro a prestarem os serviços sociais.

Ao PLATAFORMA, o diretor do Centro Principal de Serviços da UGAMM em Hengqin, Hun Sio Sang, indicou que ali as instalações sociais possuem vantagens em comparação aos outros centros de serviços da mesma associação em Macau. O centro situa-se no terceiro andar, num Centro Comercial junto ao condomínio de “Huafa Metropolis Luxury Apartment”, e está equipado com auditório, sala de dança, sala de artesanato e sala de leitura.

Leia também: PIB de Hengqin cresceu 8,5 por cento em 2021

Hun Sio Sang revelou que no primeiro ano esse centro principal recebeu 20 mil pessoas, aumentando para 100 mil em “Tem havido um crescimento rápido na procura dos nossos serviços”, disse o responsável, revelando que o centro já distribui mais de mil cartões de membro, documento esse que permite aos moradores usufruírem das instalações do centro, sendo que cerca de 160 titulares de cartões são residentes de Macau.

Hun Sio Sang, diretor do Centro Principal de Serviços da UGAMM

“O nosso serviço divide-se em três partes. Primeiro queríamos trazer a nossa experiência nos serviços sociais de Macau, creio que isso pode beneficiar todos. Em segundo, o objetivo é promover a integração dos moradores na comunidade, pois os residentes do interior têm culturas diferentes. Por último, Macau tem um regime jurídico diferente de
Hengqin e queremos ajudar as pessoas a habituarem-se”, reitera Hun Sio Sang, explicando que a equipa dos serviços sociais da UGAMM em Hengqin inclui 30 pessoas – 30 por cento de Macau e os restantes do interior.

O diretor mencionou também mais adaptações que a UGAMM pretende fazer. “Como muitos idosos residentes mudaram para cá, estão habituados a ter apoio das associações de Macau, por isso queríamos mudar o serviço para Hengqin. Assim, podem tratar dos mesmos documentos ao pé de casa e sem ir a Macau”, afirma

Contate-nos

Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

Plataforma Studio

Newsletter

Subscreva a Newsletter Plataforma para se manter a par de tudo!