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ONU revê em baixa economias de países lusófonos

A ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS (ONU) ACREDITA QUE A ECONOMIA DE ANGOLA NÃO IRÁ RECUPERAR DOS EFEITOS ECONÓMICOS DA PANDEMIA ATÉ 2023. EM MOÇAMBIQUE, A RECOMENDAÇÃO PARA ESTE ANO INCIDE SOBRE REFORMAS ESTRUTURAIS. JÁ OS CONSELHOS REMETIDOS A CABO VERDE FOCAM-SE NA DIVERSIFICAÇÃO DA ECONOMIA PARA REDUZIR A DEPENDÊNCIA DO TURISMO

O Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (UNDESA) perspetivou uma expansão de 3,8 por cento no ano passado e uma aceleração de 4 por cento este ano para as economias africanas. Os países lusófonos não são exceção, apesar dos valores do crescimento na economia diferirem de país para país. Segundo Helena Afonso, economista da ONU que segue as economias lusófonas, apesar de em Angola ser esperado um crescimento económico, o país vai continuar abaixo dos níveis pré-pandémicos até 2023. Com base num relatório que avalia a Situação e Perspetivas Económicas Mundiais, a economista afirmou à Lusa que “este ano Angola deverá crescer 2,4 por cento, fruto de maiores receitas petrolíferas tanto pelo lado dos preços, como da produção, e de maior estabilidade macroeconómica, que incentivará o investimento”.

O segundo maior produtor de petróleo na África subsaariana “enfrenta o maior surto da Covid-19 desde o início da pandemia devido à variante Ómicron”. Esta e outras potenciais ondas de infeção vão continuar a “limitar a recuperação do consumo e do investimento até o país chegar a níveis de vacinação que permitam a imunidade de grupo”, algo que Helena Afonso considera “improvável em 2022”.

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A economista culpa este atraso com o facto de, desde setembro, só 13 por cento da população angolana estar completamente vacinada. Relativamente à inflação, a previsão do UNDESA aponta para uma subida dos preços à volta de 20 por cento. “Isto erode os rendimentos das pessoas e reduz o consumo, mas modera face ao pico do ano passado devido à menor depreciação do kwanza, à redução do IVA e uma política monetária menos acomodativa”, esclarece Helena Afonso.

REFORMAS EM MOÇAMBIQUE

Em Moçambique, a especialista da ONU defende serem precisas reformas estruturais para acelerar o crescimento de 3,8 por cento previsto para este ano. “A economia cresce de forma frágil estando excessivamente concentrada no setor extrativo. Apesar da prioridade ser gerir os efeitos da pandemia e resolver a insegurança em Cabo Delgado, a médio prazo são necessárias reformas estruturais nas infraestruturas para melhorar o crescimento e sustentar a recuperação económica”, enfatiza. O país lusófono cresceu 2,1 por cento em 2021.

Helena Afonso, economista da ONU

O UNDESA prevê uma aceleração de 3,8 por cento este ano, “fruto do aumento da produção de gás natural, exportações de carvão, alumínio e projetos de infraestruturas em mineração e energias”.

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No entanto, Helena Afonso confirma que o país enfrenta “pressões inflacionárias relativamente fortes devido ao preço das matérias-primas importadas, como os combustíveis, e disrupções nas cadeias de abastecimento”. “Poderá haver um desenvolvimento do gás e alguma retoma do consumo privado, contando com diminuições nas restrições de combate à pandemia, com a vacinação a avançar”, antevê.

A mesma responsável vê Moçambique a sentir ainda “os efeitos dos problemas da dívida de 2016, algo que tem limitado o investimento público”. No entanto, explica a importância do regresso dos doadores internacionais “ao envolvimento, dadas as necessidades da pandemia e o conflito no norte”. Além da insegurança vivida no país lusófono, o UNDESA olha para as alterações climáticas como outro risco importante. Segundo Helena Afonso, as tempestades tropicais, têm-se intensificado e ficado “mais destrutivas”.

DIVERSIFICAR CABO VERDE

Apesar de se notar uma recuperação dos anos da pandemia, Helena Afonso defende que é necessário diversificar as fontes de receitas fiscais em Cabo Verde. “O país deverá crescer 5 por cento este ano, contando com um levantamento progressivo das restrições às viagens e uma maior taxa de vacinação a nível global. Mas também devido ao crescimento de outras exportações, em linha com o crescimento da procura de parceiros europeus e recuperação em setores como a agricultura, construção e transportes.

No entanto, não será suficiente para chegar ao nível de 2019 devido à enorme recessão de quase 15 por cento em 2020 e um crescimento de apenas 3,8 por cento em 2021”, detalhou. A especialista da ONU explicou ainda que com uma dívida pública “acima de 150 por cento do PIB”, o crescimento será importante para manter “a sustentabilidade da dívida”. “Mas é importante mitigar os efeitos económicos e sociais da pandemia.

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A médio prazo, dever-se-á diversificar a economia para lá do turismo e gerar receitas oriundas de mais fontes”, recomenda. O país atlântico assiste agora a um regresso de turistas, mas está ainda num “nível muito abaixo daquele registado antes da pandemia”. Em 2019, o turismo representava cerca de 40 por cento do PIB. “O setor é um dos pilares da economia.

Agora vale 25 por cento e está numa recuperação lenta e incerta. Com progressos na vacinação e com quase metade da população com esta completa, isso é muito encorajador porque está claramente acima da média em África”, refere Helena Afonso, acrescentando que a variante Ómicron “trouxe um aumento de casos e atrasou a recuperação do turismo e de outros setores, pelo que a recuperação económica é duvidosa e não se pode excluir a possibilidade de surgirem novas variantes em 2022”.

DEPENDÊNCIA DO TURISMO

No relatório do UNDESA é deixado um alerta: o regresso dos turistas ao nível registado antes da pandemia só deverá acontecer “muito possivelmente em 2024”. “As economias dependentes do turismo em África têm perspetivas positivas de evolução, impulsionadas pelo abrandamento das restrições às viagens e à recuperação económica nos mercados de origem (na Europa e na Ásia)”.

Existe também maior confiança para viajar, associado ao sucesso das medidas de contenção e taxas de vacinação relativamente altas, como existe em Cabo Verde, Ilhas Comores, Maurícias, Marrocos, São Tomé e Príncipe e Tunísia”, especifica o mesmo documento. No que diz respeito ao continente africano, a ONU alerta ainda que “as chegadas de turistas não deverão regressar aos níveis de 2019 antes de 2023”.

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