Com a globalização e os constantes avanços na comunicação e transportes, o número de pessoas com interesse e capacidade de emigrar tem vindo a crescer. De forma a salvaguardar os direitos migratórios, a Organização das Nações Unidas declarou, em 2000, que 18 de dezembro seria o Dia Internacional dos Migrantes. Isto traz novos desafios e oportunidades a várias partes do mundo, sendo a integração destas pessoas, nas sociedades para onde se deslocam, um tópico de grande interesse.
Leia mais sobre o assunto: ONU: Novo grupo de 83 migrantes intercetado e detido pela guarda costeira líbia
As redes sociais criaram um mundo virtual vasto, basta apenas uma opinião para criar divisão dentro de um grupo ou para unir partidos completamente divergentes. Apesar da natureza destes ambientes virtuais, as palavras, imagens ou até emojis usados criam uma identidade moldada em conformidade com os desejos de cada um. Estas características são particularmente evidentes em grupos de migrantes, onde a questão da identidade é especialmente relevante.
Os migrantes movimentam-se pelo mundo, tanto de forma voluntária como involuntária. Alguns académicos salientam que as redes sociais auxiliam estes migrantes a focarem-se nas suas individualidades, inseridas num mundo caracterizado por cultura, interesses pessoais e emoções, transcendendo as limitações geográficas. Independentemente da distância que estes migrantes percorrem, a nível psicológico irão sempre encontrar uma casa no mundo das redes sociais.
Leia também: Aumenta o número de migrantes que tentam chegar à Europa por mar
Por um lado, caso o migrante em causa se identifique mais com os valores do local para onde migrou, mas seja excluído da comunidade de migrantes durante este processo de integração, poderá usar as redes sociais do local onde agora se insere para redescobrir a sua identidade e compensar o fardo psicológico da rejeição anterior.
Em Macau, grupos de jovens do Interior da China criam contas pessoais na rede Instagram, onde as suas fotografias, locais que visitam, perfis e conteúdos estão em linha com os dos estudantes locais. Esta escolha é não só movida pela vontade de redefinir a sua identidade, como também de serem reconhecidos entre o círculo social de migrantes para uma interação social contínua.
Durante o processo de integração na cultura do destino, alguns migrantes acabam por sentir discrepâncias de valores com os locais, acabando por usar apenas as redes do seu local de origem, numa tentativa de recuperar o sentimento de pertença.
Caso exista um grande número de comentários negativos sobre a sua terra natal, estes poderão também evitar conviver nestes espaços. Por exemplo, alguns migrantes do Interior da China em Hong Kong e Macau, que facilmente encontram comentários de discriminação no Facebook, poderão evitar usar esta plataforma e regressar às mais usadas no Continente, como o WeChat ou a Weibo. Caso o migrante sinta ainda que o nível económico ou o ambiente cultural do local onde agora reside não esteja ao nível do de origem, mesmo com a presença numa rede social, esta página será usada para salientar a sua ligação à cultura de origem.
Leia também: Utilizadores do WeChat nos Estados Unidos processam Donald Trump
Existe ainda um outro grupo de migrantes que não experienciou o processo de educação onde residem, por não fazerem parte de um círculo social neste lugar, dificultando ainda mais a sua integração. Contudo, ao regressarem à sua região, permanece um sentimento de distância e toda a sua relação de subordinação desaparece.
Este grupo vê-se assim perdido, questionando “de onde é que eu sou?”, transitando entre redes sociais de várias origens. Este acesso à informação variada irá auxiliar na definição de uma identidade, mas é uma construção que passa por um processo dinâmico multifacetado.
Como mencionado anteriormente, o uso de várias plataformas reflete algumas semelhanças entre os migrantes. Neste sentido, é preciso ter em consideração as redes sociais usadas pelos grupos-alvo e partilhar a informação necessária nas mesmas. Desta forma será não só aumentada a eficiência da campanha de promoção, como servirá como sinal de amizade e proximidade à comunidade migrante. Como poderá a multiplicidade das identidades migrantes ser transformada em cosmopolitismo? Esta é uma questão a ter em consideração a longo prazo.
*Membro da Associação de Intercâmbio Linguístico e Promoção Cultural de Macau
Este artigo está disponível em: 繁體中文