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As duas faces de Macau

Paulo Rego*

Macau vive um dilema há muito prenunciado: conjugar a integração regional, na Grande Baía, com o projeto lusófono e a afirmação internacional, com base nas relações históricas e nos laços culturais a ocidente. A pandemia e o fecho das fronteiras, na frente internacional, claramente não ajuda. Mas há também uma obsessão política – focada na “Mãe Pátria” – que se esquece de uma parte essencial do seu destino: servir a China é também projetá-la na língua portuguesa. 

Há uma realidade política e económica incontornável: a diversificação do PIB de Macau, para além da indústria do jogo, só pode ser enquadrada no mercado alargado da grande região do Delta. Está também aí a estabilidade política, pois seja qual for a opinião que se tem do regime chinês – e Macau, para ser o que sempre foi, tem de preservar a liberdade de expressão – não faz sentido nem há caminho para qualquer versão de autonomia de costas voltadas para o Continente. 

Mas há também uma missão estratégica, desenhada em Pequim, que enriquece Macau, promove a sua diferença, projeta a sua relevância internacional… não para si própria, mas para a própria China. E isso é um erro menosprezar. É certo que, para além das inúmeras delegações que aterraram em Macau, feiras e encontros ministeriais, ainda não se descobriu um caminho eficaz e consequente nesse contexto geoestratégico. E é também visível que a integração regional é hoje em dia um desígnio que cega a inteligência emocional reinante para outras realidades. 

A dicotomia entre uma face umbilical fiel e a projeção de uma missão externa tem milhares de anos na China – com ciclos que se alternam no tempo e nas fações reinantes. Essa dinâmica voltará a virar… A reflexão que hoje cabe a Macau é a de saber, no regresso do drive externo, se entretanto apenas perdeu tempo – virada exclusivamente para dentro – ou se foi dando os passos que a circunstância permite e a História aconselha, para ganhar asas quando o tempo der espaço para voar. 

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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