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Engenharias devem ser ouvidas sobre aulas presenciais durante pandemia

Graça Henriques

Não é só o distanciamento e o uso de máscaras que podem ajudar a travar a propagação da covid-19 durante as aulas presenciais. Há outras questões, como a ventilação e a qualidade do ar dentro da sala, que são importantes, refere Manuel Gameiro da Silva, professor catedrático da Universidade de Coimbra e especialista em qualidade ambiental nos edifícios.

Manuel Gameiro da Silva está entre os 239 cientistas de 32 países que escreveram uma carta à Organização Mundial da Saúde (OMS) para que alterasse as recomendações de proteção contra o novo coronavírus e admitisse a possibilidade de infeção através de pequenas gotículas suspensas no ar, os aerossóis. A OMS viria a acatar a opinião dos especialistas dias depois.

Nesta conversa como DN, o especialista em qualidade ambiental dos edifícios fala da importância da renovação do ar nas salas de aula e considera mesmo que as escolas deveriam estar equipadas com aparelhos de medição de dióxido de carbono. Mais: diz que na questão da covid-19 as engenharias também têm uma palavra a dizer.

Como se pode manter a qualidade do ar dentro da sala de aula e diminuir o risco de contrair covid-19? Um especialista alemão defendeu aulas mais curtas para se poder renovar o ar…
É difícil atirar com uma regra geral quando temos realidades tão diversas com estabelecimentos de ensino com idades tão diferentes, uns com 200/300 anos, uns extremamente recentes, projetados, construídos e aprovados com legislações completamente díspares. Aquilo que podemos ter nesses edifícios é completamente diferente. Já cometemos o mesmo erro em relação aos transportes, tratámos tudo de forma igual quando não são de maneira nenhuma iguais. Temos de saber com o que estamos a lidar e isso significa fazer avaliações e isso faz-se usando métodos científicos, não é só por umas entidades dizerem que achavam que não estava bem. Isto não é uma coisa para se achar, é uma coisa para se analisar. O problema da gestão destes assuntos é que tem sido feita com muito pouca engenharia.

E como é que a engenharia pode entrar para ajudar a minimizar o risco?
Um dos pioneiros da qualidade do ar, um cientista alemão, dizia que o que importa é a dose. E a dose é o produto do tempo de exposição pela concentração média. Se eu tiver metade do tempo, posso ter a mesma dose, se a concentração for o dobro. Seja para contrair uma infeção seja para ficar intoxicado por um poluente químico, o que importa é a dose a que a pessoa está sujeita e, portanto, o que estava a fazer o professor de Berlim quando dizia que as aulas deviam ser de meia hora era tentar reduzir a dose. Mas, além de reduzir a dose, devemos reduzir a concentração.

E como?
A ventilar.

Como, quando a maior parte dos edifícios não têm sistemas para isso?
Pode fazer-se com alguma ventilação natural, mas também ainda há tempo de começar a pensar em instalar alguns sistemas de ventilação. Só consigo ventilar quando faço admissão de ar novo. O que estou a tentar fazer é diminuir a concentração do vírus num volume maior de ar. Imaginemos que tenho um bocadinho de vinho no fundo de um copo, se encher o copo todo de água aquele líquido vai diminuir.

O que é que tem mesmo de ser feito?
Não há uma solução única, tudo depende do que temos em cada tipo de edifício. Aliás, neste momento a pergunta mais importante, que não temos ainda respondida, é qual é o limiar de infecciosidade. Isto é, a que dose é que uma pessoa saudável tem de ser sujeita para ficar infetada? Porque será em função disso que devemos fazer o dimensionamento dos sistemas. Imaginemos que tenho uma sala de aula e nessa sala há uma pessoa infetada a libertar uma quantidade de vírus para o ambiente. As pessoas que lá estão ficarem ou não infetadas depende sempre de uma batalha entre os assaltantes que são o vírus e o sistema imunitário, que são os defensores…

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