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Embaixador brasileiro na China garante que relações continuam boas

João Pimenta

O embaixador brasileiro na China considera que as relações bilaterais continuam a ser “muito boas”, apesar da troca de acusações entre figuras políticas dos dois países, em março passado, a propósito da pandemia da covid-19.

Em entrevista à agência Lusa, em Pequim, Paulo Estivallet de Mesquita negou que a troca de acusações entre Eduardo Bolsonaro, filho do Presidente do Brasil, e o embaixador chinês em Brasília, tenha constituído um incidente diplomático.

“O que acontece é que o Brasil é um país onde o debate político é muito diversificado, seja da parte de parlamentares ou na imprensa, até mesmo por autoridades do governo sem responsabilidades pelas relações exteriores”, afirmou.

O diplomata brasileiro assegurou que o lado chinês entende que a política “não mudou” e as relações, de “forma geral”, continuam a ser “muito boas”.

“Na altura, houve uma conversa entre o Presidente [Jair] Bolsonaro e o Presidente [chinês], Xi Jinping, e isso é o que constitui o guia para o nosso relacionamento, que continua a ser bastante bom”, apontou.

Em março passado, Eduardo Bolsonaro, filho do líder brasileiro e deputado federal, usou a sua conta no Twitter para culpar o Partido Comunista Chinês pela pandemia da covid-19, que comparou ao acidente de 1986 na central nuclear de Chernobyl, na Ucrânia, na altura parte da antiga União Soviética.

Em reação, o embaixador chinês no Brasil, Yang Wanming, reproduziu na sua conta oficial no Twitter uma mensagem de um utilizador a acusar a família Bolsonaro de ser o “grande veneno” do Brasil e de não representar o país.

O ministro brasileiro dos Negócios Estrangeiros, Ernesto Araújo, considerou então “inaceitável que o embaixador da China endosse ou compartilhe mensagens ofensivas ao chefe de Estado brasileiro e aos seus eleitores” e disse esperar uma “retratação” pela “divulgação de mensagens ofensivas”.

A eleição de Bolsonaro foi inicialmente recebida com apreensão pelas autoridades chinesas, face à sua aproximação a Taiwan e críticas feitas ao investimento chinês durante a campanha, mas Paulo Estivallet de Mesquita garantiu que “isso foi superado muito rapidamente logo no início do mandato”.

Jair Bolsonaro prometeu ainda repensar a filiação do país ao bloco BRICS, que é composto também pela China, Índia, Rússia e África do Sul, pondo em causa décadas de diplomacia brasileira baseada em alianças com o mundo emergente.

O embaixador reconheceu que a estratégia brasileira para o grupo não visa constituir uma “aliança ou grande projeto político”, apontando antes que está voltada para os “interesses concretos e pragmáticos dos seus integrantes”.

“O BRICS é um grupo muito diversificado e obviamente nunca houve uma unidade em relação a todas as questões”, apontou. “Principalmente na área política sempre houve diferença de perspetivas”, disse.

“No entanto, no âmbito do BRICS já foi possível, por exemplo, promover encontros empresariais, iniciativas para aumentar o comércio entre todos ou iniciativas culturais, como um festival de cinema”, acrescentou.

Paulo Estivallet de Mesquita, 60 anos, é formado em engenharia agronómica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e em diplomacia pelo Instituto Rio Branco. Serviu anteriormente nas embaixadas de Roma (1989-1993) e Santiago (1993-1995) e foi Representante Permanente Adjunto da Delegação do Brasil para a Organização Mundial do Comércio em Genebra (2003-2011).

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