Há um longo debate ideológico nas regiões autónomas, que confunde o combate ao comunismo e à intervenção estatal com o liberalismo selvagem. Gostam do Estado para pedir dinheiro e garantir contratos chorudos, mas já é proibido regular preços e mediar abusos. Um antigo secretário para Economia de Hong Kong, confrontado com a diferença entre liberalismo e inércia do Estado, ironizou: “Se soubessem o trabalho que dá não fazer nada… se nos distraímos há sempre quem queira fazer alguma coisa”. Pois… mas às vezes é preciso intervir. Prova disso é o escândalo da inflação que se seguiu aos cartões de consumo.
Lojas, supermercados… e outros artistas, apressaram-se a subir os preços, de forma abrupta e venal, minando a função social da medida. A tese da Administração – imperfeita e insuficiente – tem um racional aceitável: promover o consumo ajuda as pessoas, mas também o comércio. Contudo, é preciso tirar todas as consequências de uma intenção política. Se agentes do mercado abusam da circunstância, é justo que lhes seja retirada a benesse.
Os supermercados Royal são apenas um exemplo. Felizmente, os consumidores de Macau deram prova de maturidade e, perante a queixa, o Conselho de Consumidores retirou o certificado de qualidade à cadeia de distribuição. Mas não chega. E não é caso único. No San Miu, uma papaia já vai em 73 patacas.
O Governo deve retirar-lhes o usufruto dos cartões de consumo, empurrando os clientes para a concorrência e dando ao mercado o sinal claro de que uma medida de carácter social não pode servir o lucro selvagem. Um aviso à navegação, seguido de fiscalização generalizada.
A teoria económica explica-o de forma simplista: o fomento ao consumo induz inflação. Certo. Mas há circunstâncias extraordinárias, como as que vivemos; e o direito natural de quem dá… poder também tirar. O mercado deve funcionar e acertar os preços em função da procura e da oferta. Mas haja bom senso; e sim, em certos casos, a moralidade também se impõe.