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Paz e negociações (2)

Em vez de responder aos ataques do Irão sobre forças militares americanas no Iraque após o assassinato do general Soleimani, o presidente Donald Trump decidiu recorrer ao Twitter para partilhar que está pronto a declarar paz com o povo iraniano e iniciar negociações com o país sem quaisquer pré-requisitos. Esta mensagem de Trump diz muito mais do que aquilo que parece. 

Os três objetivos aparentes são: primeiro, fazer com que a comunidade internacional e o Irão iniciem negociações segundo o padrão americano e dessa forma anulando o “Acordo Nuclear com o Irão”. A abertura do Governo de Trump para “negociar sem pré-requisitos” não é realmente “livre de requisitos”, mas carrega a condição de que a comunidade internacional e o Irão devem oferecer prioridade aos EUA, não reconhecendo a atual versão do acordo e substituindo-a por uma nova, segundo padrões americanos. 

O presidente americano acrescentou também que o Irão deve abandonar os objetivos nucleares e o apoio ao terrorismo. Ou seja, o Irão necessita de cessar os projetos nucleares e a expansão de influência no Médio Oriente, em países como a Síria, o Iraque e o Iémen. Na verdade, esse foi o verdadeiro objetivo do assassinato de Soleimani, pois era o líder da expansão nestes países, e os EUA quiseram cortar a raíz deste crescimento, ao mesmo tempo atraindo o Irão e o resto do mundo para um “Novo Acordo Nuclear”. 

Em segundo lugar, Trump quer esquecer o facto de os EUA terem assassinado um líder de outro país que estava de visita ao Iraque, por ter sido identificado como “terrorista” pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas. Porém, Soleimani embora tenha sido um líder iraniano condenado pela ONU, nunca foi denominado de terrorista. 

Os líderes de países que a ONU condena e critica não deixam de ser legítimos, e desta forma o assassinato americano representa uma violação da Carta das Nações Unidas, tal como da soberania e direitos humanos do país atacado. É um ataque arbitrário sobre um inimigo, e por isso nenhum país ocidental, incluindo Israel, apoiou esta decisão americana.

O resto do mundo reconhece que os EUA erraram, e esta tentativa de Trump de “negociar com o Irão” é apenas uma forma de fazer com que se esqueçam do erro, atraindo atenção para um “Novo Acordo”. 

O terceiro objetivo é controlar a direção do desenvolvimento nuclear iraniano sem iniciar conflitos militares entre os dois países. Na verdade, o assassinato do general iraniano foi uma estratégia com impacto global e a longo prazo. Trump transformou a relação entre o Irão e os EUA numa de total confronto, com a possibilidade de guerra. Todavia, sendo uma estratégia com consequências não só para a região, como para o resto do mundo, os EUA não deixarão que Trump inicie uma guerra desta magnitude. Por isso a Câmara dos Representantes rapidamente aprovou uma medida que limita o uso de força militar sobre o irão. Trump está assim a sofrer alguma pressão do Governo para não retaliar contra o país. Um dos objetivos do assassinato era também o de desviar a atenção do processo de destituição liderado pelo Partido Democrático, e foi exatamente isso que conseguiu.  

David Chan 24.01.2020

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