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Crescimento otimista

FMI e Banco Mundial antecipam a aceleração da recuperação da atividade económica global, revendo em alta o crescimento da China e dos Estados Unidos. O cenário de uma guerra comercial com a presidência Trump paira sobre as previsões, mas não entra nas contas finais.

Uma guerra comercial entre China e Estados Unidos é menos provável do que ambos os países adoptarem este ano uma política de estímulos fiscais que alavanque crescimento e apoie a recuperação mundial. A opinião parte do Fundo Monetário Internacional (FMI), com revisões atualizadas sobre o crescimento global que refletem a nova liderança da Administração norte-americana por Donald Trump.

Há maior incerteza política, admite a organização, mas os cenários mais negativos não entram nas contas que projetam a atividade económica global para este ano e próximo. O FMI revê em alta a previsão de crescimento chinês para 2017, antecipando 6,5 por cento, tal como a dos Estados Unidos, para 2,3 por cento. O crescimento global mantém a projeção de 3,4 por cento, apoiado pelas expectativas de redução de impostos e investimento nos Estados Unidos, dados que indicam o reforço da atividade nas economias avançadas na segunda metade do ano passado, previsão de continuidade do estímulo fiscal chinês a curto prazo, e nas promessas de cortes na produção petrolífera.

A ideia de que a presidência Trump possa cumprir as promessas eleitorais de aumento de tarifas para os produtos chineses, que representam 24 por cento das importações norte-americanas, e do desenrolar de uma escalada protecionista e no nacionalismo económico são riscos mencionados, mas não assumidos. “Não está no nosso cenário de base em grande medida porque acreditamos que em última análise os países vão reconhecer que essas ações não os beneficiariam, especialmente havendo a ameaça de retaliação”, afirmou Maurice Obstfeld, economista-chefe do FMI, na última segunda-feira.

Para a organização, “nem tudo é incerto”. Se os mercados reagiram com uma valorização dos ativos norte-americanos à eleição de Trump, a deixa serve para dar o benefício da dúvida àquele que é a partir de hoje o novo inquilino da Casa Branca. “Seria ignorar a realidade dizer que tudo permanece incerto quando o Partido Republicano tem a Presidência e o Congresso”, afirmou o responsável do FMI, para o qual pelo menos algumas das promessas de Trump serão cumpridas – entre estas estão a de redução de impostos para famílias e empresas, e de aumento de despesa em infraestruturas e defesa.

Afastados os piores cenários, a China irá manter-se como principal motor da atividade entre as economias emergentes, sendo que são revistas em baixa as perspectivas de crescimento de países como Brasil (0,2 por cento), Índia (7,2 por cento) e México (1,7 por cento). As expectativas em relação à direção económica de Pequim são em parte resultado de uma expansão acima do esperado em 2016, com o FMI a estimar um crescimento anual do PIB chinês em 6,7 por cento. No ano passado, a China terá voltado provisoriamente a segurar o título de economia mais rápida do mundo, à frente da Índia (6,6 por cento), que assistiu a um abrandamento final com a política de redução de massa monetária em circulação.

“A nossa revisão em alta do crescimento da China em 2017 é um factor-chave a servir de base à esperada recuperação global mais rápida do próximo ano”, indica Maurice Obstfeld. “Esta mudança reflete a continuidade do apoio das políticas; mas um abrandamento acentuado ou disruptivo no futuro mantém-se como risco dada a contínua expansão rápida do crédito, exposição da dívida empresarial, e o apoio governamental persistente às empresas estatais ineficientes”, indica.

Antecipando a manutenção dos objectivos de estímulo fiscal do Conselho de Estado, que deverão ser conhecidos durante a reunião da Assembleia Popular Nacional de Março, o Fundo Monetário Internacional prevê a manutenção de um ritmo de investimento que apoiará a subida dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais – em particular, metais – e nota também que, após anos de continuada deflação dos preços no produtor chinês, cortes no excesso de capacidade industrial já iniciados no país terão também contribuído para elevar o valor das matérias-primas.

A continuada apreciação do dólar, que desde Agosto se valorizou em 6 por cento frente ao renminbi, é no entanto um dos principais riscos enfrentados pela direção macroeconómica de Pequim, potenciando maiores saídas de capitais. Outros há.

“A manutenção da dependência das políticas de estímulo, com expansão rápida do crédito e lento progresso na resolução da dívida das empresas, especialmente no endurecimento das limitações orçamentais das empresas estatais, aumenta os riscos de uma abrandamento mais acentuado ou ajustamento disruptivo”, analisam os economistas do Fundo Monetário. “Estes riscos podem ser exacerbados com a pressão da saída de capitais, especialmente num ambiente externo menos estável”, alertam.

Os mesmos riscos são postos em evidência no relatório de previsões do Banco Mundial (BM), publicado por esta organização dias antes da atualização do FMI, ao mesmo tempo que os piores cenários internacionais são ainda assim deixados de fora das contas das projeções. O BM mantém a previsão de crescimento de 6,5 por cento para a China, e de 2,2 por cento para os Estados Unidos, projetando que a atividade económica global se expanda este ano a um ritmo de 2,7 por cento.

“Uma recuperação moderada é esperada em 2017, com o recuar de obstáculos à atividade entre os países exportadores de matérias-primas e uma procura interna sólida entre os importadores de matérias-primas”, antecipa a instituição, que no entanto vê como principal preocupação no próximo ano uma quebra do investimento em período de incerteza política. Trump é novamente a principal variável incógnita.

“Apesar do estímulo fiscal nas principais economias, se implementado, poder ampliar o crescimento global acima das expectativas, os riscos para as previsões pendem para o lado negativo. Importantes riscos negativos resultam de uma maior incerteza política nas principais economias”, afirma o Banco Mundial.

O BM nota também uma atenuação do investimento chinês em curso desde 2012. Nos primeiros dez meses do ano passado, o investimento na China expandiu-se a um ritmo de apenas 9 por cento, menos de metade dos níveis de há cinco anos – em 2010, o investimento crescia em 24 por cento. O abrandamento, diz, não é uniforme: “O declínio no crescimento do investimento esteve concentrado no sector privado; o investimento pelo sector não-privado acelerou em 2016”.

A instituição entende também que o crescimento do crédito chinês manifestou já em 2016 uma tendência de estabilização, ainda que mantendo níveis acima da expansão do produto interno bruto. O financiamento favoreceu famílias e ainda a maior parte das empresas, mas foi mais moderada concessão de crédito à indústria transformadora.

O Banco Mundial antecipa que em 2017 as políticas macroeconómicas do país continuarão a apoiar p ajustamento nos sectores em excesso de capacidade e que haverá moderação no processo de transformação de um modelo económico mais assente no consumo e serviços. A incerteza internacional, igualmente, contém as expectativas.

“O crescimento deverá abrandar para 6,5 por cento em 2017 e para 6,3 por cento em 2018-19, refletindo a suavização da procura externa, maior incerteza sobre as perspetivas de comércio global, e, de forma crítica, o abrandamento do investimento privado”, afirma o relatório.

Por outro lado, o Banco Mundial vê menos margem para progresso nas reformas no mercado chinês. “O progresso na redução dos excessos financeiros será provavelmente modesto, impedindo reformas estruturais profundas no que diz respeito às empresas estatais e à restruturação do quadro empresarial”, diz.

Num cenário de forte incerteza de pendor político, FMI e BM veem 2017 como um ano de recuperação mais rápida alimentada pelo potencial de estímulo nas economias chinesa e americana – também estas, as portadoras  dos principais riscos para a globalidade dos países.

Mas, “o potencial para a desilusão é grande, conforme é sublinhado por constantes quebras dos crescimento nos anos recentes”, alerta o FMI, a passar uma mensagem geral onde ecoam as palavras do Presidente Xi Jinping no Fórum Económico Mundial, esta semana: há necessidade de um reforço da cooperação multilateral e não do seu recuo.

Maria Caetano

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