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Londres procura parceria privilegiada com Pequim

Xi Jinping visita este mês o Reino Unido, onde a China deverá pela primeira vez investir em reactores nucleares fora do país.

O Reino Unido foi, no ano passado, o principal destino europeu de investimento da China, absorvendo mais de um quarto do volume total de cerca de 18 mil milhões de dólares norte-americanos que as empresas chinesas destinaram ao grupo dos 28 países da União Europeia.

Em 2005, aquando da visita do ex- Presidente Hu Jintao a Inglaterra, o volume do investimento na Europa não chegava a atingir dois mil milhões de dólares. Este mês, quando XiJinping for recebido pelos monarcas britânicos, o cenário será bastante diferente: depois de investimentos de peso no sector imobiliário e na alimentação, o Reino Unido poderá, provavelmente, contar com a China para construir um reactor nuclear em HinkleyPoint, no sudoeste do país, e para lançar uma nova linha de alta velocidade. O Governo de Londres fala numa “década dourada” para as relações sino-britânicas. “De momento, vemos que o chancellor [George Osborne, equivalente do ministro das Finanças] esteve na China na última semana numa estratégia muito deliberada para as trocas comerciais e transacções de investimento, onde tem também significado a Grã-Bretanha ter aderido ao Banco Asiático de Investimento em Infra-estruturas. Foi a primeira ‘nação ocidental desenvolvida’ a fazê-lo e esse tipo de coisas tem importância. Envia um forte sinal”, diz ao PLATAFORMA Stuart Fuller, representante para as operações globais da King &WoodMalleson (KWM). Esta firma multinacional tem mais de 12 mil advogados envolvidos em operações na China Continental, Reino Unido e Austrália, com serviços de consultoria ao investimento para dentro e fora do território chinês. Foi das primeiras a estabelecer-se no Continente e tem como particularidade não ter sede nos Estados Unidos ou Europa, mas na Ásia. No início deste ano publicou um relatório no qual previu um aumento do investimento britânico na China para o dobro até 2020. O volume de aposta do Reino Unido representa actualmente apenas um por cento do investimento externo que a China recebe, com 1,3 biliões de libras. Outra consultora no mesmo sector, a Baker&McKenzie,com sede nos Estados Unidos, calcula os fluxos em sentido inverso, prevendo que a tendência de aquisições europeias por parte da China seja para continuar e expandir. No ano passado, o Reino Unido cativou 5,1 mil milhões de dólares, à frente da Itália (3,5 mil milhões), da Holanda (2,3 mil milhões), de Portugal (dois mil milhões) e Alemanha (1,6 mil milhões). Entre os negócios de destaque estão as vendas da cadeia Pizza Express ao fundo chinês Hony Capital por 900 milhões de libras e do projecto imobiliário ChiswickPark à ChineseInvestmentCorporation por 780 milhões de libras.

“Aquilo que Inglaterra tem de bom é um sistema legal e comercial bastante sólido. Há um elevado nível de transparência nas condições exigidas, há leis de investimento muito abertas. No quadro da Europa, será provavelmente o país mais aberto ao investimento”, defende Stuart Fuller, sócio da KWM com base em Hong Kong, mas também orador ocasional em fóruns de investimento em Londres.

Por contraste, nota Fuller, os restantes países europeus demonstram “inconsistência” neste domínio. As negociações para Acordo de Investimento Bilateral China-UE, em curso desde 2013, deverão segundo Fullerharmonizar a situação europeia. Em Junho, o primeiro-ministro Li Keqiang sublinhou a necessidade de acelerar o acordo para trazer os níveis de investimento bilateral a um ponto menos distante do volume das trocas comerciais – 1,7 mil milhões de dólares norte-americanos por dia. A estada de XiJinping no Reino Unido este mês poderá de algum modo determinar progressos nas conversações, acredita o consultor da KWM. Sobretudo, após o diálogo com os Estados Unidos da passada semana.

“O Presidente Xi disse ontem que a conclusão do tratado bilateral de investimento com os Estados Unidos é uma prioridade para ambos os lados, o que cria a oportunidade de o mesmo suceder com outros países, mas também uma plataforma mais forte. Será pegar nos benefícios do que os Estados Unidos obtiverem e aplicar o mesmo à União Europeia”, entende Stuart Fuller.

Stuart Fuller K&W-163

(Aquilo que Inglaterra tem de bom é um sistema legal e comercial bastante sólido. Há um elevado nível de transparência nas condições exigidas, há leis de investimento muito abertas. No quadro da Europa, será provavelmente o país mais aberto ao investimento. Stuart Fuller, consultor da King & Wood Mallesons)

Outros negócios, outros investidores

Actualmente, China e Austrália estão em processo de ratificação de um tratado bilateral de investimento que adere ao princípio de arbitragem internacional em conflitos entre os investidores e os Estados. A tendência de negociações Estados Unidos-União Europeia e Estados Unidos-China poderá impor este tipo de provisão como regra também para as relações China-Europa.

“Se a China assinar um acordo com a Austrália e depois com os Estados Unidos, a Europa precisa de avançar porque as empresas europeias ficarão em desvantagem no acesso ao mercado chinês. Este tipo de coisas tem uma dinâmica prolongada. Não se trata apenas de comércio ou investimento, mas de criar as maiores oportunidades”, defende Fuller. O consultor assinala vantagens imediatas contra a argumentação de que a soberania dos Estados será posta em causa em processos movidos contra estes por empresas. “Aquilo a que que nem toda a gente presta atenção é que, ao haver um tratado com provisões recíprocas, os investidores do Reino Unido na China terão o direito de levar o Governo chinês a arbitragem internacional por alterações de política que afectem os investimentos. Deste ponto de vista, é significativamente valioso que uma companhia britânica tenha esse direito”, nota. O mesmo para as restantes empresas europeias.

De todo o modo, a KWM assinala um reduzido apetite por litigância da parte dos seus clientes. “Não há um grande nível de conflito. Os clientes preferem muito mais resolver qualquer desentendimento comercial entre si do que ir a tribunal ou arbitragem, algo que é incerto, consome muito tempo e custa muito dinheiro”.

O último estudo da Câmara de Comércio da União Europeia na China sobre a actividades das empresas chinesas europeias na China dá conta de outras ordens de dificuldades. Sobretudo, diferenças na cultura de gestão dos negócios, custos com pessoal e recursos e riscos inerentes à flutuação das moedas. O sentimento de que a Europa recebe o capital chinês com desconfiança tem vindo a atenuar-se.

“Historicamente, alguns países demonstravam preocupação. Mas o desenvolvimento do mercado chinês, a transparência e a contabilidade financeira melhoraram marcadamente nos anos recentes. E muitas das estatais estão ora listadas publicamente, ora têm subsidiárias nas bolsas de Hong Kong, dos Estados Unidos ou de Londres. Isso cria muita transparência”, diz Fuller. “Estamos hoje muito melhor do que há dois anos ou há cinco anos”, acrescenta.

Por outro lado, o investimento chinês em território europeu – e, em particular, no Reino Unido, tem vindo a sofrer alterações significativas, com mais operações no sector dos serviços e mais iniciativa de privados, explica o consultor. “À medida que a economia se torna mais madura e se passa de um modelo de investimento para o consumo há muitas alterações ao nível do retalho, marcas, manufactura e tecnologia necessária a aumentar a eficácia e produtividade da indústria, além de turismo e imobiliário – onde, particularmente, o Reino Unido recebeu volumes consideráveis de investimento quer no imobiliário residencial quer comercial. Isto é sintomático das mudanças ocorridas na economia chinesa e da sua diversificação”. É também representativo da emergência de diferentes tipos de investidores chineses. “São empresas estatais, de propriedade mista ou, mais recentemente, entidades privadas – seja empresas, seja fundos envolvidos no investimento externo. Não há apenas uma diversificação do tipo de negócios que é feito, mas também das entidades envolvidas”, afirma. O Reino Unido abre também um outro capítulo nas tendências de investimento externo chinês na Europa – a construção de infra-estruturas no sector da energia. O Governo britânico alcançou na passada semana um acordo para dois mil milhões de libras de investimento por parte da China no reactor nuclear de HinkleyPoint, que está a ser construído pela francesa EDF.

Para Steve Fuller, este não será um acto isolado de inovação no investimento. “Significa cooperação aumentada nas infra-estuturas europeias, que não se limita ao sector da energia, mas abrange também o sector dos transportes e vários outros. Está na tendência de a economia chinesa desenvolver o próprio mercado e exportar competências”, afirma. “O Reino Unido foi um adoptante rápido e precoce. Os planos nucleares, com a possibilidade de haver concursos para a nova rede de alta velocidade, encorajam as empresas chinesas e britânicas a constituírem parcerias”.

Maria Caetano

3 de outubro 2015

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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