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NOVA GERAÇÃO DE CHINESES “PODE ESTAR MENOS INTERESSADA” NO JOGO

 

Uma nova geração de chineses menos interessada no jogo e a concorrência das nações vizinhas pode afetar o futuro do setor em Macau, adverte o vice-presidente da Associação Económica de Macau. Chang Chak Io prevê uma descida média de 20% nas receitas do jogo até junho deste ano. 

 

Os casinos de Macau começaram o ano em baixa, com as receitas brutas do jogo a registarem quedas pelo oitavo mês consecutivo. De acordo com dados divulgados pela Direção de Inspeção e Coordenação de Jogos, o setor arrecadou no mês de janeiro receitas brutas no valor de 23,748 milhões de patacas – uma descida de 17,4% em relação ao mesmo período de 2014.

Chang Chak Io, vice-presidente da Associação Económica de Macau (AEM), prevê uma queda das receitas dos casinos durante o primeiro semestre do ano, fruto da desaceleração da economia chinesa e da campanha anticorrupção levada a cabo por Pequim.

“Vão descer ainda mais nos próximos quatro meses, suponho que vão cair em média 20%”, sublinha em entrevista ao Plataforma Macau.

Em termos anuais, 2015 não vai trazer melhor notícias para os casinos. Este ano deverá terminar “com dados semelhantes ao ano anterior ou uma subida ligeira”. Recorde-se que os casinos de Macau fecharam 2014 com receitas brutas de 351,5 milhões de patacas, menos 2,6% do que em 2013, registando assim a primeira quebra de receitas desde 2004.

A influenciar o futuro das operadoras de jogo vai estar, segundo o vice-presidente da AEM, “a restruturação da economia chinesa, com a liderança a dar mais atenção a um desenvolvimento sustentável do que ao crescimento do PIB”.

“Terminou a era do grande crescimento económico”, alerta Chang Chak Io, considerando ainda que dois outros fatores poderão ser decisivos nesta equação: uma nova geração de chineses que pode estar menos interessada no jogo e a concorrência dos países vizinhos. Japão, Vietname, Singapura e mesmo Taiwan figuram na lista de potenciais competidores, nota o especialista.

A possibilidade da China abrir outros paraísos do jogo no continente é muito reduzida e tem “riscos políticos” e “sociais”.

“As pessoas não olham apenas para o lado positivo do jogo, mas também para os aspetos negativos e há aqui vários problemas sociais que advêm desta indústria, como atividades criminais ou corrupção”.

 

MAIS “CONTROLO E REGULAÇÃO”

 

“Penso que o futuro da indústria do jogo vai passar da liberalização a um maior controlo e regulação”, nota ainda Chang Chak Io, admitindo que a possibilidade do Governo da Região Administrativa Especial atribuir mais uma licença de jogo é “muito reduzida”.

“Agora vão fazer uma revisão das licenças de jogo, avaliar o desempenho [das concessionárias], o seu compromisso e as perspetivas de apostas no segmento extra jogo”.

Segundo anúncio do Executivo, as conversações com as seis operadoras para as renegociações dos contratos deverão arrancar em 2016 – os contratos terminam entre 2020 e 2022.

O responsável pela AEM descarta, para já, a possibilidade de se vir também a aumentar a taxa do imposto especial sobre o jogo, como foi avançado recentemente por um especialista do setor a um jornal local, que aposta num aumento de 39 para 43%.

“Neste momento, a indústria está a sofrer, como é que se pode prever uma subida deste imposto?”, questiona Chang Chak Io.

 

APOSTA NA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

 

A Medicina Tradicional Chinesa (MTC) e o novo Parque Científico e Industrial de MTC Guangdong-Macau podem desempenhar um papel chave na diversificação da economia de Macau, ainda muito dependente da indústria do jogo, realça o vice-presidente da AEM.  Chang Chak Io alerta, porém, que ainda há um longo caminho para se fazer, já que em Macau as empresas do setor “trabalham ainda de forma tradicional” e “não atingiram os padrões das Boas Práticas de Fabricação” – padrões obrigatórios e reconhecidos à escala global para qualquer processo de produção.

“É preciso ajudar as empresas locais a entrar no Parque – existem entre 10 a 20 a trabalhar nesta área em Macau – e é necessário pensar como é que estas se podem modernizar”.

Macau pode ainda “aproveitar a falta de confiança da população chinesa na própria indústria nacional alimentar e de medicamentos e apostar nestes dois setores”.

Segundo o responsável, o setor das Convenções e Exposições é outra das apostas neste caminho para a diversificação, embora seja necessário fazer-se uma análise à “eficácia” dos eventos que têm sido organizados.

“Temos de nos questionar se sem o patrocínio do Governo toda esta indústria consegue sobreviver”.

Com o setor MICE a crescer no continente asiático, Macau precisa de olhar para o mundo e apostar na internacionalização. “Temos de desenvolver a capacidade de ir buscar homens de negócio e expositores a diferentes locais”, conclui o responsável.

 

Catarina Domingues

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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