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NA PRIMEIRA PESSOA

 

Carlos Alberto

1950, Santos Dumont

carlos albertoO meu pai jogava futebol lá na terrinha, não chegou a ser profissional, mas os meus tios jogaram nas seleções interestaduais e em clubes grandes do Rio de Janeiro ou Minas Gerais.

Com 16 anos, deixei a minha família para ir para a capital de Minas, Belo Horizonte, para uma equipa de futebol famosa, o Atlético Mineiro, onde estive quase quatro anos. Era para jogar nas camadas jovens, mas fui jogar com os profissionais, sem sê-lo. Fui integrado nos treinamentos, jogos oficiais não fazia, só preparativos e amistosos. Penso que viram algo em mim. Daí para frente foi sempre a rodar de estados.

Saí do Brasil, já profissional, e passei por Portugal em 1979, apesar do meu destino ser a Bélgica, onde havia um pré-contrato. Como meu empresário era português, fiquei a treinar no Sporting. Estive lá cerca de cinco meses e acabei por perder a minha grande oportunidade de ir para a Bélgica. Na altura fiquei muito chateado. Não permaneci no Sporting e fui para o Portimonense, onde disputei a primeira divisão durante seis épocas.

Depois vim para Hong Kong jogar no Tong Sing e voltei para Portugal. Joguei no Olhanense, Leixões, depois no Sporting Clube da Covilhã. Na altura do Covilhã, a revista do jornal A Bola fez uma entrevista comigo, com o Vítor Damas do Sporting e o Manuel Bento do Benfica. O título era a música do Paco Bandeira: “A ternura dos 40”.

Em Portugal, joguei contra grandes nomes, como o Eusébio quando ele estava no Beira-Mar.

Estive ainda nos Estados Unidos e depois vim para Macau, que já conhecia dos tempos de Hong Kong. Foi amor à primeira vista. Joguei para entretenimento e apareceu uma oportunidade de trabalho. Hoje estou no arquivo das Finanças, onde trabalho com microfilmagens.

O futebol aqui está bem diferente, tentando progredir. Até aqui não tem sido muito acolhida a ideia de um profissionalismo em Macau. Mas têm vindo profissionais, que creio que estejam até a contribuir para chegar a um patamar melhor.

 

Edilson Almeida

1967, São Paulo

capoeiraMeu pai não tinha casa, morava na praia, na Baía. Chamamos estas pessoas de Capitães de Areia. Ele era um desses moleques, se apaixonou pela minha mãe e começaram a namorar sem consentimento da família, porque ele era um Capitão de Areia. Minha mãe engravidou e a família não consentiu e por isso fugiram para São Paulo. Eu tenho oito irmãos, sou o caçula. A minha mãe faleceu quando eu tinha quatro anos, o meu pai quando eu tinha 11 e Fui criado pelos meus irmãos. Deus sempre colocou anjos na minha vida desde esses tempos da periferia de São Paulo.

Comecei na capoeira com 9 anos. Meu caráter foi construído dentro da capoeira. O homem que eu sou hoje, abaixo de Deus, devo ao meu mestre e às pessoas que tive contacto.

Quando tinha 19 anos, me formei como professor e já dava aulas em São Paulo. Com 30 me formei mestre, a categoria máxima da capoeira, e com 32 morei na Espanha.

Em 2001 vim para Hong Kong. Foi o primeiro contacto do povo chinês com a capoeira. Na verdade, passaram algumas pessoas fazendo show, mas a capoeira como arte educativa, fui o primeiro a trazer para o continente chinês. Acho que no início foi um choque, não entendiam a capoeira, se era dança, se era luta.

Passei por Dongguan, depois Shenzhen e em 2009 vim para Macau. Comecei a trabalhar na Universal Yoga, que fechou dez meses depois. De um dia para o outro, eu estava sem blue card. A partir daí entra a comunidade portuguesa na minha vida. Como sempre, Deus coloca anjos na minha vida e os meus amigos me ajudaram a permanecer e a fazer a capoeira do jeito que ela é hoje.

Na capoeira temos alcunhas, atribuídas de acordo com o caráter de cada um. Sempre gostei de fazer amizade, de estar alegre e meu mestre me deu o apelido de Eddie Murphy.

O grupo Axé Capoeira está em 37 países. Temos em Macau cerca de 100 alunos.

Macau é para ficar? Já fiquei. Macau é o meu Brasil.

 

Carla Fellini 

1957, São Paulo

carla fellini4Eu nasci e fui criada em São Paulo. Meu pai era imigrante italiano, chegou ao Brasil em 1950, conheceu a minha mãe, brasileira de origem italiana, mas com uma veia portuguesa. Até brinco que tenho três veias italianas e uma portuguesa. Quando tinha uns 10 anos, passei a ir muito para Itália, fui conhecer o meu avô e me apaixonei por viagens. Sempre parávamos em lugares diferentes.

Acabei por ir trabalhar para o aeroporto como rececionista, em São Paulo. Ali, conheci o meu ex- marido, que é piloto. A empresa onde ele e eu trabalhávamos estava a fechar as portas e ele recebeu um convite para vir para Macau. Foi em março de 2001, que vim com as minhas três filhas.

Não sabia nada de Macau, não existia Google, eu procurava em livros, queria ver fotografias. Vim no escuro, sem saber o que ia encontrar, mas vieram mais três pilotos com filhos em idade escolar. Juntos, fomos descobrindo Macau.

Quando vi a cidade, me encantei. Já não tinha aquela impressão de que ia voltar atrás no tempo. Eu estava no meu tempo, apenas numa cidade mais pequena.

As minhas filhas estudaram na escola portuguesa, fizeram universidade aqui e são professoras na escola anglicana. No início, foi um trabalho difícil para elas entenderem por que viemos, mas hoje veem que cresceram com a vivência de China, da Ásia e de todos os paises que visitaram. É uma cultura que você não encontra nos livros.

Fui uma das fundadoras da Casa do Brasil em Macau e sempre que possível, represento a associação em eventos culturais, como a Lusofonia, a mostra de cinema, a feira do artesanato.

Vi todas as mudanças da cidade, tijolo por tijolo. Se você me perguntar hoje se quero ir embora, digo que não. Adotei Macau como a minha terra querida.

 

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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