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PROFISSIONALIZAÇÃO DO FUTEBOL AUMENTA COMUNIDADE BRASILEIRA

 

A dança, a aviação e o casamento foram responsáveis pela vinda de centenas de brasileiros para Macau. A comunidade começou a chegar no final dos anos 70, quando “macaenses que moravam no Brasil casaram com brasileiras e regressaram” à terra, explica Jane Martins, presidente da Casa do Brasil em Macau. Em entrevista ao Plataforma Macau, a responsável diz que hoje esta comunidade, que não deverá ultrapassar as 300 pessoas, ganha força com a aposta na profissionalização do futebol local e a vinda de jogadores para a Liga de Elite.

 

PLATAFORMA MACAU Quem são os brasileiros que vivem em Macau?

JANE MARTINS – As pessoas vieram por vários motivos, ou porque casaram com macaenses ou portugueses, ou porque vieram contratadas diretamente do Brasil através de empresas na área da dança, do entretenimento ou da aviação. Vieram vários pilotos com as famílias, alguns com filhos que já nasceram e estudaram aqui.

Muitos chegaram também através da religião ou do futebol. Macau nunca teve um nível muito alto de futebol. Então as pessoas que jogavam aqui não eram reconhecidas lá fora. Como a competição  começou a aumentar, começaram a trazer profissionais do Brasil. E sabe que o Brasil tem profissionais caindo pelos galhos (risos). Alguns jogaram em Portugal, outros em Hong Kong ou outros locais. Vieram para Macau, vivem do futebol e por isso [este desporto] está a crescer. Agora, até foi fundada uma escola de futebol para crianças, o São Paulo Clube.

Os brasileiros que cá estão são de diferentes faixas etárias, desde os 18 anos aos 50. Maioritariamente chegaram de São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, das grandes capitais. Penso que a comunidade anda à volta de 300 pessoas.

 

P.M. Quando é que os brasileiros começaram a chegar a Macau?  

J.M. – Final dos anos 70, início dos 80. Eu cheguei em 1986 e havia nessa altura à volta de 10 brasileiros. Desses 10, estamos hoje dois. Vai fazer 29 anos que vivo em Macau e a razão que me trouxe foi o casamento, porque o meu marido é de Macau. Muitos macaenses que moravam no Brasil casaram com brasileiras e regressaram. Houve mais homens que trouxeram mulheres brasileiras do que o contrário.

 

P.M. A diáspora macaense continua muito presente no Brasil?

J.M. – Sim, principalmente em São Paulo.

 

P.M. E em relação à área do negócio, há uma aposta de empresários brasileiros em Macau?

J.M. – Eu acho que não. Macau é a plataforma do Fórum [Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa], mas acho que ele funciona mais para pequenos empresários. Como o Brasil e a China são importantes parceiros comerciais, então os grandes comerciantes vão diretamente para a China, não passam por Macau.

 

P.M. Na China nota-se uma presença cada vez mais forte de empresários brasileiros, como aqui perto, em Dongguan.

J.M. – Dongguan é um caso à parte. Os chineses instalaram uma fábrica de couro, de sapatos e bolsas e trouxeram os trabalhadores do Brasil. Pelo que sabemos, o chinês não sabe trabalhar o couro e os brasileiros trouxeram a experiência desse trabalho.

Em Dongguan, vivem cerca de 3000 brasileiros. Como vieram com a família e crianças, acabaram por ter dificuldades em encontrar uma escola e acabaram por fundar uma. É uma comunidade muito grande, unida e que vive num espaço muito brasileiro, com restaurantes, vida noturna, etc..

 

P.M. A Casa do Brasil trabalha com essa comunidade?

J.M. – Existe uma associação de mulheres em Dongguan e nós estamos em contactos com elas. Trabalham mais na área de beneficência e não tanto na área cultural, como a nossa associação. Ajudam certas comunidades locais e organizam, por exemplo, uma festa anual, em que nós ajudamos. Quando temos algum evento cá também as convidamos.

 

P.M. Como nasceu a Casa do Brasil?

J.M. – A Casa do Brasil foi fundada em 2009 e tem cerca de 120 sócios, mas não são todos brasileiros. Antigamente havia outra, mas era mais recreativa do que cultural.

A nossa associação foi criada mais por insistência do Fórum Macau. Chegou uma época em que [entre as comunidades lusófonas] só os brasileiros não eram representados por uma associação, mas por particulares. O Fórum Macau e o Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais pediram-me então que formasse uma associação. Então acabámos por fazê-lo e aproveitámos para trazer as coisas boas do Brasil, como a cultura, a culinária ou a música.

Organizamos palestras, exposições, workshops, trazemos cinema e autores. Uma vez por ano, a Universidade de Macau organiza a semana do Brasil e nós colaboramos. Também participamos na MIF (Feira Internacional de Macau).

A nossa associação recebe, além disso, muitos pedidos de informação de pessoas que querem vir para Macau, mas ajudamos só na parte logística, dando informações. Muitos ligam porque não conseguem contactar o consulado, que representa Macau, mas está instalado em Hong Kong.

 

P.M. O que é que vão levar este ano para a Festa da Lusofonia?

J.M. – Já temos tudo definido. Todos os anos procuramos mostrar uma parte da cultura de um lugar do Brasil. O ano passado foi a Baía, já fizemos Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul ou Minas Gerais. Esse ano, decidimos ir para a parte indígena e vamos abordar o tema dos índios.

Vamos apresentar artesanato indígena e vamos trazer uma índia Pataxó, que habita o sul da Baía, em Porto Seguro, o local onde os portugueses chegaram em 1500.

Eu fui conhecer essa aldeia, conhecer esta índia e o trabalho que faz. Os índios no Brasil só saem com autorização da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e até para entrar numa comunidade, é necessária autorização. Não é chegar e entrar, porque aquilo é património. Nós conseguimos autorização para trazer a índia, que vai apresentar o seu artesanato e dar uma palestra sobre a vida deles.

 

P.M. Fala português?

D.S. – Fala muito bem português, ela é inclusive presidente de uma associação de ecoturismo da Baía. Representa os índios pataxó e ela é cacique dessa aldeia. Em conjunto com duas irmãs, reergueu essa aldeia porque foi um local onde houve muitas matanças e uma dispersão grande [de pessoas].

Há muitos anos que elas travam essa luta para a proteção e preservação dos usos, costumes e da língua, o que é muito importante porque no Brasil as línguas indígenas desaparecem se não houver quem as fale. Então, ela montou uma escola dentro da aldeia, onde moram 27 famílias. Dão aulas para as crianças em português e pataxó. Mantêm uma tradição muito forte.

Catarina Domingues 

 

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