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LONGO CAMINHO RUMO À DIVERSIFICAÇÃO

A oferta ainda limitada no setor das convenções e exposições e a dependência do setor relativamente à indústria do jogo continuam a levantar dúvidas quanto à viabilidade de utilizar o setor como modelo de diversificação económica para Macau.

 

O Governo de Macau tem investido milhões de patacas para impulsionar o desenvolvimento da indústria das convenções e exposições (MICE, na sigla inglesa), numa tentativa de promover a diversificação da economia local. O objetivo, porém, não é consensual e há quem questione se o setor conseguirá subsistir sem o apoio da indústria do jogo.

Embora as receitas e o número de eventos e participantes tenham vindo a aumentar nos últimos anos, a indústria das convenções e exposições em Macau “vive ainda muito agarrada aos casinos”, frisa o economista Albano Martins.

A indústria já está bastante desenvolvida noutras partes do mundo, como na Europa e América. Nos últimos anos, vários países e regiões asiáticas, desde Macau a Taiwan, Hong Kong e Singapura, têm investido no setor, tentando beneficiar dos efeitos económicos positivos para outras indústrias que usualmente o sector MICE oferece, ao mesmo tempo que procuram impulsionar o turismo de negócios.

“A indústria das convenções e exposições ajuda a atrair outro tipo de visitantes, como os turistas de negócios, o que pode ajudar a diversificar o setor do turismo em Macau”, diz Amy Siu-Ian So, coordenadora dos programas de gestão turística e de jogo na Universidade de Macau.

“Se conseguirmos atrair mais convenções e exposições internacionais para Macau, de certeza que conseguiremos diversificar os segmentos da nossa indústria de turismo”, defende a académica.

Esta opinião é partilhada por Bruno Simões, diretor executivo da SmallWorld Experience, empresa especializada em gestão de eventos e produção de atividades especiais.

“Não tenho dúvidas que a indústria MICE pode ajudar na diversificação económica e basta olhar para o exemplo de Las Vegas para perceber isso”, argumenta Bruno Simões, salientando que o setor não pode apenas ser visto em termos de percentagem de receitas no cômputo geral da economia.

Las Vegas, a capital do jogo nos Estados Unidos, atraiu perto de 40 milhões de visitantes no ano passado, segundo dados oficiais. De acordo com o organismo que gere o setor das convenções em Las Vegas, 12,8% do total dos visitantes, ou cinco milhões de turistas, participaram em convenções e exposições na cidade em 2013.

Em Macau, o número anual de participantes em convenções e exposições ultrapassou os dois milhões pela primeira vez no ano passado, segundo dados da Direção dos Serviços de Estatística e Censos (DSEC). Os números, contudo, incluem também participantes locais e não apenas turistas. Várias exposições em Macau são abertas ao público em geral. Macau recebeu cerca de 29,3 milhões de turistas em 2013.

CAPACIDADE LIMITADA

 

Apesar do crescimento nos últimos anos, existe ainda um longo caminho a percorrer para consolidar o setor das convenções e exposições em Macau, nomeadamente no que toca às infraestruturas.

Enquanto Las Vegas disponibilizava mais de 150,000 quartos de hotel no final do ano passado, Macau não oferece mais do que 28,000 quartos, de acordo com dados relativos a abril deste ano. Além do mais, 66% dos quartos disponíveis em Macau são em hotéis de cinco estrelas.

Num estudo sobre a indústria MICE em Macau publicado em 2008, Glenn McCartney, especialista em turismo ligado à Universidade de Macau, salientava a necessidade da cidade se preparar para uma maior pressão sobre as infraestruturas físicas e sociais devido ao aumento do número de turistas. O fenómeno já levou deputados e especialistas do setor a questionar a capacidade de Macau para acolher tantos turistas.

Com diversos serviços turísticos a terem dificuldade em acompanhar o rápido desenvolvimento da procura, tanto em termos de volume como de qualidade, a experiência dos turistas em Macau poderá não ser a mais acolhedora. Isso terá reflexos negativos também para o setor das convenções e exposições, avisam alguns especialistas.

“O investimento deve estar focado num investimento nas infraestruturas sociais, complementado pelas infraestruturas físicas e tendo em consideração a crescente oferta no setor”, salienta Glenn McCartney, referindo que são necessários mais dados científicos para ter uma visão estratégica sobre a indústria.

No final do ano passado, estavam em construção em Macau 16 hotéis e em apreciação outros 27 projetos, que, segundo estimativas oficiais, permitiriam proporcionar cerca de mais 25,600 quartos.

Maior capacidade de alojamento é crucial para o desenvolvimento do setor MICE, mas Bruno Simões diz que ainda serão necessários alguns anos para Macau ter uma oferta capaz de responder a todas as necessidades da indústria. “Não precisamos apenas de mais quartos de hotel, mas precisamos de mais recintos para eventos, parques temáticos, restaurantes e outro tipo de entretenimento para tornar o destino mais atrativo”, sugere o empresário.

 

“TECNICAMENTE DIFÍCIL”

 

A disparidade entre as receitas do setor do jogo e da indústria das convenções e exposições é bastante evidente em Macau.

As receitas dos casinos em Macau atingiram 360 mil milhões de patacas (45,2 mil milhões de dólares norte-americanos) no ano passado. Segundo dados da DSEC, as receitas do setor MICE foram de 22,5 milhões de dólares em 2013.

É preciso ler com atenção e com olho crítico as estatísticas do Governo sobre a indústria, diz Albano Martins.

Até 2012, as receitas e despesas do setor eram discriminadas de forma detalhada e era possível perceber que uma parte significativa das receitas provinha de subsídios governamentais. “A maior parte das receitas continua a vir do setor público e isso não parece uma alternativa viável”, diz o economista.

Além do mais, acrescenta Albano Martins, o setor continua demasiado dependente do jogo. As operadoras de jogo são as empresas que mais estão a investir em espaços MICE e em atrair eventos internacionais para Macau.

“Se o jogo tiver um problema, tudo o resto vai por aí abaixo”, alerta o economista, sublinhando que “é tecnicamente muito difícil” fazer uma diversificação fora da esfera do principal setor económico da cidade.

Porém, o Governo diz que é preciso olhar para além da indústria MICE, nomeadamente para os efeitos benéficos que esta oferece ao resto da economia.

“A indústria de convenções e exposições trouxe oportunidades de negócios para uma variedade de setores, desde hotéis, restauração, serviços de publicidade e gestão,” diz o Instituto de Promoção do Comércio e do Investimento de Macau (IPIM).

O setor, acrescenta o IPIM, “tornou-se numa parte essencial na promoção da diversificação adequada da economia de Macau e tem vindo a melhorar como plataforma de serviços de negócios”.

Tiago Azevedo

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Meio de comunicação social generalista, com foco na relação entre os Países de Língua Portuguesa e a China

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