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As Linhas de Sam

Guilherme Rego*

As Linhas de Ação Governativa (LAG) para 2025 marcam oficialmente o início do mandato de Sam Hou Fai e aquilo que defende para o futuro de Macau. Conforme escrevemos nesta edição (páginas 5 a 7), não devem representar grande rutura com o passado recente, mas deve haver um carimbo pessoal em certas áreas da nova equipa. Na verdade, o orçamento aprovado pelo antecessor, Ho Iat Seng – já com o apoio de Sam Hou Fai – define os limites da mudança. Assim, mais do que revoluções, o que se pode esperar é uma redistribuição das cartas.

Sam Hou Fai acenou com promessas de revitalizar a economia e dar novo fôlego às pequenas e médias empresas, num reconhecimento tácito da fragilidade estrutural de um território demasiado dependente dos casinos e do turismo. Contudo, a diversificação económica continua a ser mais um refrão do que uma partitura com notas bem definidas. Sem uma estratégia sólida, com metas precisas e mecanismos de execução claros, Macau continuará a pairar na névoa da hesitação, entre discursos esperançosos e realidades imutáveis. Quem connosco fala, deduz um investimento mais forte neste setor, sobretudo se as receitas do jogo permitirem sonhar mais alto. No mês de fevereiro, as receitas dos casinos aumentaram 6,8% em relação ao ano anterior. Uma reviravolta face a um tímido mês de janeiro – com Ano Novo Chinês à mistura. Mesmo assim, os primeiros meses de 2025 registaram um aumento marginal em relação a 2024 (0,5%), com a consultora Seaport Research Partners a estimar que aumentem 6,5% até ao fim do ano, atingindo 241 mil milhões de patacas – cumpre o orçamento.

Estender funções a Hengqin exige um novo modelo de gestão de recursos humanos, sob pena de termos uma máquina amputada

Outro tema sensível é a revisão da política dos cheques pecuniários. Durante anos, os subsídios diretos serviram de paliativo económico e instrumento de capital político. Alterar esta política sem um plano alternativo robusto pode ter consequências imprevisíveis na confiança dos residentes e na própria dinâmica da economia local. Mais do que cortar; é preciso reconstruir.

Na Administração Pública, o horizonte não é menos nebuloso. Com um teto de 38 mil funcionários, já reduzido nos últimos anos, levanta-se a dúvida: estará o Governo a confundir contenção com eficiência? Surgem várias queixas de departamentos com falta de pessoal. A necessidade de estender funções a Hengqin exige um novo modelo de gestão de recursos humanos, sob pena de termos uma máquina amputada, incapaz de responder às exigências do seu próprio crescimento.

O grande teste de Sam Hou Fai não será apenas provar que pode gerir Macau com a previsibilidade de um sucessor, mas sim que tem estofo para governar com a audácia de um líder. A revitalização económica não pode ser apenas um enunciado bem-intencionado, mas um compromisso sustentado por medidas concretas, com teorias que resultem na prática. Se não começar nestas LAG, pouco traz a uma cidade que pede mudanças urgentes.

*Diretor-Executivo do PLATAFORMA

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