– Como começou o projeto do Pavilhão de Portugal em Chengdu?
Romeu Oliveira – O complexo de Pavilhões Nacionais de Mercadorias de Chengdu, tem início em 2019 e é nesse mesmo ano que o nosso sócio local, aquando de uma visita a uma feira de vinhos, apresenta o mesmo a um casal luso-chinês que estava na feira a promover algumas marcas nacionais. A partir desse momento o casal (sócios do projeto) apresentam o projeto a mais 3 pessoas (eu sou uma delas), formando a atual equipa de 5 sócios fundadores. Como já percebeu, este projeto nasce durante o período de Covid a nível mundial e particularmente na China, onde os confinamentos eram frequentes. Durante a fase de construção do Pavilhão de Portugal, entre agosto e novembro de 2019, existiram várias semanas de interrupções devido aos confinamentos.
Por outro lado, foi necessário algumas reuniões preparatórias com a Embaixada de Portugal em Pequim e em conjunto com a AICEP, para obter o apoio institucional da Embaixada junto das autoridades chinesas.
“Há um caminho que está a ser feito por outros países e que Portugal deverá fazer,
caso contrário poderá ficar irremediavelmente atrasado em relação aos seus congéneres da U.E.”
O background dos vários investidores é muito distinto, o que é interessante, pois acabam por ter experiências que podem ser muito úteis ao Pavilhão de Portugal, enquanto espaço de promoção comercial e intercâmbio cultural.
No meu caso, a minha formação inicial foi no turismo, comecei por trabalhar no setor, mas nos últimos 9 anos desenvolvo a área de marketing e promoção de um projeto de vinhos. Em simultâneo, durante os últimos 10 anos lecionei Turismo, Gestão Hoteleira e Marketing no Ensino Profissional e Superior.
– Como vê o mercado chinês neste momento de desaceleração económica do país e a atratividade dos produtos portugueses?
R.O. – Se alguns indicadores económicos revelam que o consumo estará em queda no 3º trimestre devido ao abrandamento económico na China. Por outro lado, alguns especialistas duvidam que a China esteja realmente a entrar numa crise económica. Na nossa opinião, é difícil chegar a essa conclusão. Não há nenhum problema estrutural grave na economia interna da China. Com as políticas de estímulo à economia concretizadas, espera-se que os resultados económicos do 4º trimestre sejam positivos.
A China Ocidental é uma nova zona económica em expansão e não tem fortes preconceitos relativamente a marcas famosas ou países. Os produtos portugueses podem competir com os outros de forma justa, tanto na qualidade, na diferenciação ou até no preço. Não temos dúvidas sobre a nossa confiança no mercado da China Ocidental a longo prazo. Continuamos com forte dinamismo a desenvolver a nossa atividade na China Ocidental e a estabelecer a nossa rede de marketing e comercial. Inclusive, nas próximas semanas, vamos abrir um segundo espaço de produtos portugueses noutra cidade.
– Quais são os planos de futuro para o Pavilhão em Chengdu?
R.O. – Para este projeto, definimos expor um total de 50 empresas nacionais das diversas fileiras, com destaque para a agroalimentar e produtores de vinho. Após 10 meses de abertura, já contamos com 24 empresas portuguesas. No nosso entendimento, é revelador da dinâmica que estamos a impor no mercado. O nosso objetivo é continuar a explorar a China Ocidental analisando como os produtos portugueses são acolhidos por diferentes segmentos de mercado. Até ao final do ano, esperamos abrir um segundo espaço de produtos portugueses na cidade de Nanchong, segunda cidade da província de Sichuan e a meio caminho de Chongqing. Será um conceito diferente do Pavilhão, pois estará localizado num centro comercial no centro da cidade, onde encontrámos condições fantásticas para chegar ao segmento que pretendemos.
“Macau é para o Pavilhão de Portugal, uma referência que deve ser sempre mencionada no início das relações com o mercado do Interior”
– Continuam a existir muitas dificuldades em comercializar produtos portugueses no interior da China?
R.O. – Em comparação com produtos de outros países, os produtos portugueses carecem de influência institucional a nível nacional e de orçamento para marketing. Por exemplo: A Espanha dedica muita atenção e recursos ao oeste da China. Estabeleceram um consulado em Chengdu, possuem na cidade restaurantes de culinária espanhola e realizam várias atividades e eventos ao longo do ano nesta cidade. Há um caminho que está a ser feito por outros países e que Portugal deverá fazer, caso contrário poderá ficar irremediavelmente atrasado em relação aos seus congéneres da U.E.
É importante que as diversas organizações portuguesas de promoção externa, as setoriais e não setoriais, iniciem um trabalho de promoção nesta região, esperamos que possam apoiar-nos e podem contar connosco para todas as dinâmicas que se considerem importantes.
– Como pode Macau assistir neste trabalho de promoção?
R.O. – É natural que em algumas zonas da China continental não existam referências sobre Portugal. Macau é para o Pavilhão de Portugal, uma referência que deve ser sempre mencionada no início das relações com o mercado do Interior. O território é entendido como uma ponte que liga historica e culturalmente ambos os países. Os séculos de ligação e mais recentemente a transição estável do território, transmite confiança para um entendimento mútuo.