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Conservador e esquizofrénico

Paulo Rego*

A diplomacia portuguesa tenta negociar maior abertura das autoridades de Macau para a emissão de Bilhetes de Identidade de Residente. Percebe-se que a cultura política chinesa não gosta de alaridos e que o silêncio dos bastidores potencia conquistas. Aliás, como no caso dos delegados lusófonos no Fórum Macau, a quem foram devolvidas regalias – e dignidade – por intervenção direta de Pequim. Mas há um problema sério que não vale a pena esconder. O pensamento de quem hoje faz leis – e as aplica – é conservador e esquizofrénico. No sentido em que olha para o próprio umbigo e queima as pontes que deve erguer. Não só com Portugal e os Países de Língua Portuguesa, mas também com a Grande Baía, a China… e o resto do mundo.

Todos hoje fazem a mesma pergunta, sejam residentes estrangeiros em Macau; políticos, empresários e prestadores de serviços que olham a partir de fora: será este cerco, de facto, possível contra as instruções do desígnio nacional, o interesse da China, tudo o que está escrito e assumido? Como Macau pretende ser essa cidade aberta, se cria ativamente condições para que ninguém possa ou queira vir? Mais estranha ainda é esta política de terra queimada, à qual se segue depois o lobo com pele de cordeiro. Primeiro, é preciso ganhar o prémio Nobel, na Lua ou em Marte, para se merecer a honra de uma Identidade de Residente. Depois, pode não ser bem assim, não se viu bem o problema… e remendam-se aqui e ali exceções. É pobre, não faz sentido, e não é nada credível.

Esses génios, que ninguém sabe quem são, não conhecem Macau, nem estão interessados. Outros, geniais, mas humanos, preferem de longe Hong Kong, Cantão ou Pequim. Onde os querem receber, pagam bem melhor e lutam pela sua presença. Macau pode ser uma aldeia virada para si mesma, orgulhosamente só e com a obsessão de guardar emprego para os locais, a quem nem sequer se oferece ensino de qualidade e oportunidades de topo – a não ser ao nível dos casinos. Se é isso que se quer, é este o caminho. Dizer o contrário é que não faz sentido. A não ser que se faça mesmo tudo ao contrário.

*Diretor-Geral do PLATAFORMA

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