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Turismo de saúde milionário

Membros da indústria de turismo de saúde consideram que Macau reúne as condições necessárias para se tornar num dos pólos da região. Casos de sucesso geram milhares de milhões anualmente, mas também têm maior grau de especialização, dimensão e, sobretudo, uma política de vistos flexível. Escassez de profissionais limita as áreas de foco

Dexter Plat

O turismo de saúde tem sido recentemente apontado como uma das estratégias para Macau diversificar a sua economia, com a área de “Big Health” incluída no modelo “1+4” apresentado pelo Governo local, juntamente com finanças modernas, alta tecnologia e convenções e exposições.

Com o gasto médio dos turistas que pernoitam na cidade a atingir as 4.677 patacas atualmente, e dos que entram e saem no mesmo dia pelas 1.141 patacas, o turismo de saúde é também visto como uma estratégia para manter os visitantes em Macau por mais tempo e, assim, aumentar o seu consumo.

De acordo com a Direcção Estatísticas e Censos de Macau (DSEC), a cidade recebeu mais de 11 milhões de visitantes no primeiro semestre de 2023, dos quais quase 48 por cento não pernoitaram na cidade.

Alguns especialistas em promoção de marcas e medicina acreditam que Macau possui vantagens no desenvolvimento de ofertas de lazer e bem-estar atraentes para turistas médicos. Mesmo assim, alertam para os vários obstáculos que a cidade ainda enfrenta.

Indústria em crescimento

Um relatório recente da Market Research Future estimou que o mercado de turismo de saúde na Ásia-Pacífico pode atingir 121.8 mil milhões de dólares americanos em 2032.

Devido às diferenças a nível internacional dos tratamentos médicos, técnicas e preços, as pessoas procuram tratamento em países diferentes.

No geral, o turismo de saúde engloba aqueles que procuram tratamentos médicos e cirurgias com melhor qualidade do que no seu país de origem, ou turistas que procuram experiências de saúde e bem-estar, como tratamentos médicos chineses, massagens, check-ups, etc.

Durante uma conferência realizada como parte da Global Gaming Expo Asia (G2E Asia) em Macau, em julho, Ruben Toral, da Quo Global, uma agência auxilia na construção de marcas médicas há anos, afirmou que a colaboração entre governo e empresas privadas é essencial para o desenvolvimento do turismo de saúde, pois os governos têm de comprovar a sua lucratividade para persuadir as empresas privadas a envolverem-se.

O profissional destacou que Macau já é um destino turístico conhecido, com inúmeros resorts integrados famosos, mas precisa de uma estratégia adequada para o desenvolvimento da sua indústria médica.
Para Toral, Macau enfrenta muita concorrência na Ásia quando se trata de destinos de turismo de saúde, devido à natureza regional das viagens. “A maioria dos turistas médicos não viajam mais de 6 horas de distância”, destacou, observando que a reputação e a variedade de serviços médicos são cruciais, já que se compete com a Tailândia, Índia, Singapura, etc.

A Coreia do Sul, por exemplo, recebeu mais de 90.000 turistas só para cirurgias plásticas ou cosméticas em 2019, e Toral destacou que o país utilizou outras valências para promover o turismo de saúde fora do país. “O reconhecimento dos consumidores relativamente à medicina plástica e cosmética coreana decorre da publicidade da indústria local de entretenimento e cultura. Ter duas ou mais indústrias diferentes que se complementem pode ajudar a promover o turismo de saúde”, aponta Toral.

Jacky Ho, professor associado da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade de São José de Macau, diz ao PLATAFORMA que agregar instalações turísticas e médicas pode aumentar a atratividade da cidade nessa área. Embora o turismo de saúde esteja dar os primeiros passos em Macau, Ho enfatiza que as avançadas instalações turísticas já existentes fornecem uma boa base para o seu desenvolvimento, especialmente porque a cidade já possui uma grande vantagem geográfica para atrair turistas da China continental ou do sudeste asiático.

Ho também observa que o sistema de saúde de Macau vai beneficiar da cooperação com Peking Union Medical College Hospital, a entidade que administrará o novo hospital no Cotai. O Hospital das Ilhas deve ser inaugurado no quarto trimestre de 2024. Com 1.100 camas, a nova instalação privada vai aumentar a capacidade de internamento em metade. Não só “vai melhorar os serviços médicos para os moradores”, como também “deve aumentar a capacidade de tratar turistas de saúde”, afirma Ho. “Devemos considerar quantos recursos médicos podem ser alocados para esses serviços médicos; isso precisa de ser planeado pelo Governo”.
Quanto à especialização, o académico acrescenta que Macau deve qualificar-se em serviços como
de recuperação e check-ups de saúde, visando os mercados das regiões vizinhas.

Exemplos a serem seguidos

A Secretária para Assuntos Sociais e Cultura de Macau, Elsie Ao Ieong, espera que o desenvolvimento do novo complexo médico no Cotai possa ajudar a atrair mais turistas de saúde estrangeiros para a cidade, especialmente com futuros tratamentos de fertilidade nas instalações.

Em junho, a governante liderou uma delegação que foi à Tailândia conhecer a bem-sucedida indústria de turismo de saúde do país e estudar a abordagem às ofertas de serviços médicos, acolhimento de turistas, seguros e políticas de visto.

Desde 2004 que o Governo tailandês tem desenvolvido centros médicos virados para o turismo, tornando-se o principal destino na região. O país espera que o turismo de saúde gere 25 mil milhões de baht (aproximadamente 5.3 mil milhões de patacas) este ano. Em 2019, a indústria de saúde de Macau contribuía em 1,5 por cento para o PIB local, ou seja, 6.5 mil milhões de patacas em valor acrescentado bruto.

Na Tailândia, o desenvolvimento do setor de turismo de saúde foi liderado por hospitais privados com considerável apoio do Governo, enquanto alta tecnologia e profissionais qualificados foram introduzidos de forma proativa. Atualmente, mais de 60 por cento de todos os hospitais do país são privados, com mais de 60 hospitais certificados pela Joint Commission International (JCI).

Além disso, o Ministério de Saúde Pública e a Autoridade de Turismo da Tailândia formaram um comité conjunto para liderar a indústria de turismo de saúde, oferecendo serviços relacionados, como bem-estar e casas de repouso, pesquisa académica e desenvolvimento de produtos.

A Tailândia também oferece serviços de saúde para estrangeiros, com as suas instalações médicas a cooperar frequentemente com resorts ou agências de viagens para atrair mercados potenciais na região.

Por exemplo, uma agência de turismo na Austrália recentemente promoveu viagens de “Férias Dentárias” para a Tailândia, permitindo que turistas recebam tratamento dentário durante as suas férias.

O Governo tailandês também oferece um visto médico com duração de um ano para alguns turistas que necessitam de tratamento médico, e um visto de longa duração de 10 anos para idosos de determinados países. Em novembro passado, também aprovou uma resolução para simplificar o processo de pedido de visto médico e prolongar o período de validade.

Escassez de mão de obra

Daniel Baptista-Hon, professor assistente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), afirmou durante a G2E Asia que a RAEM tem plenas condições de desenvolver o turismo de bem-estar e saúde. No entanto, alertou que, como Macau sofre atualmente de escassez de profissionais médicos, seria mais adequado desenvolver inicialmente o turismo de saúde com fins de lazer, como acupuntura, massagem e check-ups.

O número médio de médicos e enfermeiros por 1.000 habitantes continua a aumentar e está acima da média definida pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) para a região Ásia-Pacífico. No entanto, a relação entre enfermeiros e médicos em Macau ainda é uma das mais baixas da região.

No final do ano passado, havia 1.965 médicos no ativo em Macau (um aumento de 4,1 por cento em relação ao final de 2021) e 2.863 enfermeiros (um aumento de 4,4 por cento), de acordo com dados do Serviço de Estatísticas e Censos (DSEC).

Em 2022, a cidade tinha 2.9 médicos e 4.3 enfermeiros por 1.000 habitantes, aumentos anuais de 0.1 e 0.3, respetivamente.

Para Baptista-Hon, estabelecer outra faculdade de medicina local será útil para aliviar a escassez de profissionais médicos e manter o nível atual de tratamento médico em Macau. Atualmente, a MUST oferece o primeiro e único curso de Bacharelado em Medicina e Cirurgia (MBBS) na RAEM.

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