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Emissão de gases de efeito estufa ainda elevada

Nelson Moura

Apesar das melhorias registadas na qualidade do ar da RAEM em 2022 e na redução de resíduos sólidos, Macau continua a gerar grandes quantidades de gases de efeito estufa e de lixo quando comparado com as cidades vizinhas

De acordo com o relatório, o consumo de água, o consumo de eletricidade, os resíduos sólidos urbanos e as concentrações médias anuais dos vários poluentes atmosféricos diminuíram em 2022. No entanto, as emissões locais de gases com efeito de estufa aumentaram devido ao aumento da produção de energia elétrica local.

Em 2022, os dias com a qualidade do ar classificada de “bom” e “moderado”, registados nas 6 estações de monitorização da qualidade do ar de Macau, atingiram 90 por cento, refletindo uma ligeira queda em comparação com 2021.

No ano passado foram registados entre 8 e 33 dias classificados de ‘insalubre’ em todas as estações de monitorização da qualidade do ar de Macau”, face ao registo de entre 10 e 24 dias em 2021.

A DSAP revelou também que foram registados entre 1 e 3 dias ‘muito insalubres’ em 2022 nas estações ambientais da Taipa e Coloane, e na Berma da Estrada de Ká-Hó.

De um modo geral, as concentrações médias anuais dos poluentes atmosféricos na RAEM (exceto O3) registadas em 2022 reduziram face a 2021.

Apesar de na última década a percentagem de dias com qualidade do ar ‘insalubre’ ou ‘muito insalubre’ apresentar uma trajetória de descida, as concentrações médias anuais de ozono mostraram “uma tendência ascendente”.

Veículos elétricos

Em comentários ao PLATAFORMA, o líder da União Macau Green Students, Joe Chan, diz que as melhorias devem-se ao controlo da qualidade do ar em Zhuhai.

“O Governo tem trabalhado muito esta questão, com o foco em melhorar a qualidade da gasolina e limitar as maiores fontes de poluição”, indica, referindo que “ainda há muito espaço para melhorar, como a transformação de veículos antigos altamente poluentes para novos modelos”.

As autoridades indicam também que planeiam manter as direções avançadas no Plano da Protecção Ambiental para 2021-2025, como a otimização da estrutura energética e da promoção da utilização de veículos eléctricos.

Estes esforços incluem a restrição das normas de emissão de gases de escape de veículos motorizados e do controlo das emissões de compostos orgânicos voláteis, e ainda a otimização das redes de reciclagem e da implementação do princípio de poluidor pagador.

No que respeita aos valores estimados das emissões de poluentes atmosféricos e das emissões de gases com efeito de estufa, em 2022, salvo a subida registada nas emissões de NH3 e de Pb, o valor estimado das emissões dos restantes poluentes desceu.

No entanto, o valor estimado das emissões que contribuem para o efeito estuda aumentou, muito graças a um aumento de cerca de 40 por cento da produção de eletricidade.

O dióxido de carbono (CO2) dominou as emissões de Gases de Efeito Estufa de Macau, correspondendo a mais de 94,7 por cento do total de emissões, enquanto o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4) representaram as restantes.

Já as fontes principais de GEE e CO2 foram os transportes terrestres, a produção local de eletricidade, o comércio, consumo doméstico e serviços, e a incineração de resíduos.

Ao PLATAFORMA, Joe Chan destaca que apesar de o Governo enfatizar a aposta em veículos elétricos e as melhorias na qualidade do ar da região, as emissões de dióxido de carbono ainda são significativas.

O número total de veículos motorizados na cidade continuou a aumentar em 2022, chegando a 249.581, ou cerca de 532 veículos por quilómetro quadrado.

Em 2022, o “Plano de concessão de apoio financeiro ao abate de motociclos obsoletos e à sua substituição por motociclos eléctricos novos” foi anunciado, no sentido de elevar a taxa de generalização do uso de motociclos elétricos.

As autoridades instalaram equipamentos de carregamento de eletricidade destinados aos veículos, motociclos e ciclomotores elétricos em auto-silos públicos adequados, de forma a otimizar esta rede.

Um plano de apoio financeiro ao abate de veículos antigos movidos a gasóleo foi também anunciado, e foram elevados ainda mais os valores-limite de emissão de gases de escape pelos motociclos e ciclomotores novos importados, bem como ficaram mais restringidos os valores-limite de emissão de gases de escape pelos veículos em circulação, de modo a reduzir os poluentes atmosféricos nas vias rodoviárias.

O número de veículos elétricos na cidade passou de 73 em 2013 para 5.031 no final de 2022.

Lixo e mais lixo

A DSPA destaca no relatório que a pandemia levou a um declínio significativo na quantidade de resíduos sólidos urbanos descartados e a quantidade de resíduos sólidos urbanos per capita, entre 2020 e 2022.

Cerca de 436.828 toneladas de resíduos sólidos urbanos foram descartados em 2022, uma diminuição de 3.6 por cento face ao ano passado, com o valor per capita de resíduos sólidos urbanos descartados a decrescer para 1,77.

Mesmo assim, essa quantidade ainda é mais elevada do que a das cidades vizinhas, com Hong Kong a registar valores per capita de 1,53, Cantão 0.86 e Pequim 0.98.

A taxa de recolha de resíduos recicláveis nos últimos 10 anos manteve-se também a um nível de cerca de 20 por cento. Em 2022 a taxa de recolha de resíduos recicláveis foi de 22,5 por cento, mais baixa do que a de 2021.

“Nestes últimos anos, a taxa de recolha tem oscilado devido ao ajustamento das políticas do Interior da China em relação à importação e exportação de resíduos e à paralisação social provocada pela pandemia, entre outros fatores”, aponta o relatório.

A quantidade de resíduos recicláveis (exceto os vidros) recolhida pela DSPA e pelo IAM em 2022 registou uma subida face a 2021, nomeadamente os metais, 62,2 por cento, enquanto os vidros reduziram 19,2.

A recolha de lâmpadas fluorescentes/lâmpadas e de equipamentos eletrónicos e elétricos baixou 2,3 e 10 por cento respetivamente, face a 2021, mas a quantidade de recolha de pilhas e baterias usadas subiu 24 por cento.

Apesar destes esforços, Chan avisa que o estilo de vida da cidade nunca mudou. “O Governo não tem muita educação sobre as mudanças climáticas, bem como a ameaça que enfrentamos. Promovemos o consumismo em vez da conservação,” destaca, referindo também que “no que toca a política de gestão de resíduos municipais, seja no Japão, Taiwan, Singapura, Coreia do Sul, todos implementam um sistema de poluidor pagador. Até Hong Kong está a legislar isto, mas em Macau nada se faz exceto aumentar a taxa de reciclagem limpa voluntária”.

De acordo com a DSPA, o princípio “poluidor-pagador” é essencial para promover a redução de resíduos, destacando a implementação de “restrições ao fornecimento de sacos de plástico” e o “regime de gestão de resíduos de materiais de construção”.

“Propõe-se que o próximo passo seja a cobrança de taxas junto dos utilizadores da Estação de Tratamento de Resíduos Especiais e Perigosos de Macau, de forma a concretizar a utilização correta de recursos e a redução de resíduos”, lê-se no relatório.

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