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Eleições em Angola: A guerra como trunfo e o poder para crescer na Lusofonia, UE e China

Gonçalo LopesGonçalo Lopes

As eleições gerais em Angola estão aí à porta, sendo que as mesmas têm data marcada para o próximo mês de agosto. Nos últimos meses têm havido vários tipos de sondagens e não há um favorito declarado à governação deste país africano. Se inicialmente Adalberto Costa Júnior, líder da oposição e da UNITA, surgia à frente das intenções de voto, nas últimas semanas o atual governante João Lourenço, e o seu MPLA, terá passado à frente, ainda que sem maioria absoluta, algo que seria histórico no país. Muitas incógnitas, lá está, mas também algumas certezas, nomeadamente no futuro que Angola terá de ter dentro do universo da Lusofonia e também da Europa e da Ásia.

O sufrágio angolano surge numa altura complicada em matéria política mundial, sobretudo devido à Guerra na Ucrânia, mas também a todas as contingências que a pandemia de Covid-19 tem provocado. No entanto, se o vírus é um problema mais sério para Angola e todos os países que economicamente têm sofrido mais com esta crise sanitária, a Guerra na Ucrânia poderá ser um trunfo para Angola e para quem ganhe as próximas eleições.

“Há ainda muito por fazer em Angola, muitas situações quase limites que têm de ser pensadas no imediato, mas é claro que a Guerra poderá beneficiar não só Angola como o continente angolano”, começou por dizer ao PLATAFORMA o politólogo Agostinho Frade, dando exemplos concretos dos ganhos que Angola poderá retirar deste conflito na Europa.

“Como comprovaram alguns analistas especialistas, com vários estudos e estatísticas, Angola, neste momento, tem o maior potencial para satisfazer as necessidades de energia da União Europeia, sendo também um dos poucos países africanos que também já exporta gás para mercados como o Brasil ou mesmo na Ásia, com China, Japão e Coreia do Sul”, disse, explicando depois a estratégia que o próximo vencedor das eleições poderá usar para ‘usar’ ainda mais a Guerra na Ucrânia.

João Lourenço

“O próximo presidente, seja ele qual for, sabe que o nosso país é o vencedor de uma mudança geopolítica devido a este conflito na Europa. Há outros países como a Guiné Equatorial, República Democrático do Congo ou o Senegal que também estão bem posicionados, mas Angola tem uma capacidade de aumentar a produção de gás e infraestruturas de exportação que esses neste momento não têm, além de que em Angola as principais companhias de petróleo são capazes de aumentar a produção, algo que não acontece em qualquer outro país africano”, salientou, apontando depois aquele que poderá ser o horizonte perfeito para o futuro de Angola.

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“O próximo líder de Angola tem agora uma grande oportunidade de fazer ver à união Europeia e aos parceiros europeus que o nosso país e as matérias primas que temos poderão ser determinantes para o futuro, não só o imediato como aquele a longo prazo. Não podemos apenas servir para tapar buracos, não podemos apenas ser aquele país que a Europa e a Ásia usam para suprir soluções urgentes para alguns países. O próximo líder de Angola tem de saber usar as armas que temos, se agora somos uma solução é sinal que no futuro também o poderemos continuar a ser. Não podemos ser negligenciados após o fim do conflito. Uma vitória neste quadro geopolítico fará de Angola um importante decisor futuro. Fará Angola crescer e ser vista como nunca foi, um país com enorme potencial”, referiu o politólogo e docente universitário em Angola e em França.

Resultados no combate à corrupção

Mas se a Guerra, ironicamente, é algo positivo para o futuro imediato de Angola, a verdade é que há outros assuntos urgentes a resolver neste país africano. Pedro Hipólito, outro politólogo e economista angolano, salienta mesmo que se os mesmos não forem solucionados, mesmo que em termos económicos Angola possa sair a ganhar com a invasão da Rússia à Ucrânia, dificilmente o país crescerá como expectável nos próximos anos.

“Desde há alguns anos que existe um combate à corrupção muito mediatizado, mas não é isso que queremos para Angola. O próximo presidente tem de continuar a lutar contra a corrupção, tem de continuar a exigir que devolvam o dinheiro que foi retirado dos cofres do estado, mas não pode fazer isso na praça pública. O trabalho tem sido feito, mas há que recolher mais resultados, discutir menos na praça pública e conseguir mais resultado”, referiu, dando como bom exemplo o trabalho que Angola tem feito com Portugal no processo de combate à corrupção.

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“Uma das parcerias que tem dado frutos no âmbito deste combate é com Portugal, nomeadamente a cooperação entre as autoridades judiciarás de Angola e este país irmão Falámos há pouco do que a guerra na Ucrânia poderá ajudar Angola, mas é claro que isso não basta. Um país para crescer, para evoluir, para ser bem visto dentro do universo da Lusofonia ou mesmo dentro da União Europeia ou China, o nosso grande aliado, não pode passar uma imagem clara de corrupção, como tem acontecido nas últimas décadas. Limpar essa imagem é essencial.”.

Adalberto Costa Júnior

Cooperação na Lusofonia e na Ásia

Angola está desde o ano passado na presidência da CPLP e este, de acordo com Agostinho Frade, é outro “grande trunfo” que o vencedor das eleições de agosto terá de usar bem para que o futuro de Angola seja risonho.

“Quando do início da presidência, João Lourenço, e muito bem, propôs a inclusão de um novo pilar económico e empresarial nos objetivos da CPLP, para o desenvolvimento sustentável e a expansão do mercado intra-comunitário, através de parcerias económicas e empresariais entre os Estados-membros. No entanto, dessa intenção temos agora de passar à prática. A CPLP é uma comunidade entre países lusófonos, que sugere parcerias e cooperação entre os mesmos. No entanto, Angola também tem de trabalhar para que a sua economia se torne mais atrativa para investimentos e investidores. Ter uma ‘arma’ como a CPLP é excelente para um país como Angola, que tem um grande potencial, e a CPLP e a Lusofonia pode, ou melhor, deve ser uma ponte para outros mercados, concretamente o Europeu. Temos de aumentar as trocas comerciais e os investimentos, esse será um dos principais trabalhos que o futuro presidente angolano terá em maus e que terá de ser considerado urgente”, afirmou, destacando depois a ligação de Angola à Ásia.

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“Temos uma excelente relação com a China e com Macau, como refere. São regiões que têm ajudado muito Angola, mas temos também de diversificar as relações com as mesmas. Não podemos estar sempre a aumenta a dívida com a China. Temos de fazer fazer à China e, por exemplo, a Macau que também eles têm em Angola muito por onde investir”, concluiu.

Contactado pelo PLATAFORMA, o governo angolano não quis responder a algumas das questões colocadas pelo nosso jornal, preferindo uma comunicação sobre as futuras ligações de Angola ao universo da Lusofonia e à China. “Angola irá cooperar com todos os países que até hoje serviram bem o nosso país. É claro que o universo da Lusofonia é um mercado que terá de continuar a ser explorado, assim como as fortes ligações com a China”, revelaram num curto comunicado.

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