Início Atualidade Poderão as tecnologias inteligentes ser um novo farol em Macau?

Poderão as tecnologias inteligentes ser um novo farol em Macau?

Carol LawCarol Law

Os governos de Guangzhou, Zhuhai e Macau implementaram uma série de políticas que incluem candidaturas “transfronteiriças”. Porém, vários residentes de Macau continuam pouco familiarizados com os procedimentos na China. Johnson Ian, vice-presidente da Associação da Sinergia de Macau, defende que a tendência atual se prende ao desenvolvimento de uma cidade inteligente, esperando por isso que o Executivo ofereça acesso a grandes bases de dados para facilitar a sua criação.

Leong, uma residente de Macau, mudou-se para Hengqin em 2019. Em 2021, criou a sua própria empresa, sendo que atualmente viaja constante mente entre os dois locais. Em 2020, candidatou-se à residência em Hengqin, como muitos outros locais fizeram para evitar quarentenas entre as cidades, caso o desenvolvimento da pandemia obrigasse a um retrocesso no relaxamento das fronteiras. Contudo, o processo de autorização que permite viajar de carro entre Macau e Guangdong foi “muito complicado” no início. A residente alega “falta de clareza em todas as formalidades”.

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“Estamos habituados a ter acesso a toda a informação no Google. E no continente? O processo é feito através de uma folha de papel afixada em frente a um dos departamentos, que alguém depois fotografa e partilha no WeChat. Tudo depende dessa folha”, salienta. Leong refere ainda que para as pessoas de Macau “era um pouco confuso, por que não sabíamos onde procurar este tipo de informação no continente”.

“Só depois é que começaram a consolidar o processo, com a candidatura a ser feita numa única aplicação móvel, algo muito mais simples”, sublinha.

A residente lembra ainda que quando criou a sua empresa, sentiu que havia uma série de procedimentos que não eram muito práticos, incluindo o registo comercial e a declaração de impostos.

“A forma como os impostos são declarados no Interior da China é completamente diferente. É difícil para nós compreendermos, por isso contrato sempre alguém para os fazer por mim”, especifica. Segundo Leong, existe um fenómeno “interessante de serviços deste género no continente”, algo que não encontra em Macau.

“Porque é que surgiram estes serviços de ‘delegação’? Devido à dificuldade de todo o processo. Uma pessoa não sabe onde encontrar a devida informação, nem qual o primeiro e o segundo passo a tomar. Se quiser perguntar, pergunta a quem? Pode até fazer várias visitas em vão por falta de documentos, acabando por desperdiçar meses. Todos temos o nosso emprego, sendo que muitos não têm sequer tempo suficiente para se de dicar a este processo”, reitera.

Uma administração eletrónica


De acordo com o jornal Nanfang Daily, foi lançado em março o serviço de registo comercial único Guangzhou–Macau. Este serviço procura facilitar a candidatura de residentes de Macau a investimentos e registo comercial na cidade chinesa.

As autoridades da cidade conseguem completar a validação de candidaturas no mínimo em meio-dia, caso os documentos estejam completos e de acordo com os requisitos.

Este serviço depende de um modelo inteligente 5G, que através da resposta em tempo real de um robô, faz com que seja possível oferecer respostas atempadamente com um serviço de apoio tecnológico para várias questões.

Desta forma, será “prevenindo que investidores de Macau façam várias viagens entre Guangzhou e Macau durante a pandemia, resolvendo os problemas que possam surgir no seu investimento transfronteiriço, como o esclarecimento sobre medidas e procedimentos”, refere o mesmo jornal.

Candidatos que precisem de orientação ou aconselhamento durante o processo poderão visitar a Associação de Promoção Comercial de Indústria Financeira Eletrónica de Macau para receberem mais informação sobre o modo de cria ção de um negócio em Guangzhou, assim como todo o processo de apresentação de documentos.

O Governo de Zhuhai lançou também um plano de reforma e construção de um Governo Digital, segundo o 14º Plano Quinquenal, onde esclarece que a principal função desta reforma é acelerar a construção e projetos de apoio aos serviços administrativos na cloud e 5G.

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Segundo o plano, a construção da Zona de Cooperação Aprofundada entre Guangdong e Macau em Hengqin será usada para promover a operação transfronteiriça de serviços administrativos e facilitar a partilha de informação e dados entre os dois locais.

Zhuhai já transferiu 143 serviços, incluindo o registo comercial, tributação, imobiliário, segurança social e seguros de saúde para Macau.

Liderados pelas Autoridades de Serviços de Dados da província, Zhuhai e Macau lançaram em conjunto a aplicação móvel Ligação Zhuhai-Macau, que integra vários serviços administrativos e públicos de ambas as regiões. Além disso, está também integrada informação sobre empresas terceiras com mais de 100 serviços e 200 guias sobre como criar um negócio.

Sou, um residente de Macau que planeia candidatar-se a um título de residência e segurança social em Zhuhai, afirma que não sabia da existência destes canais de
informação.

Aquilo que pedimos é que seja construída uma cidade verdadeiramente inteligente, que tire partido de grandes bases de dados para melhorar a qualidade de vida, comércio e administração em Macau, mas ainda temos um longo período a percorrer

Johnson Ian, vice-presidente da Associação da Sinergia de Macau

Contudo, quando procurou a aplicação, descobriu que esta não estava disponível no sistema iOS, estando limitada apenas ao sistema Android.

O residente afirma que a maioria dos residentes locais descarrega aplicações móveis através da App Store ou Play Store, da Apple e Google, respetivamente. Já no continente, são utilizados os websites oficiais dos departamentos implicados. “Mas sendo eu de Macau, como é que encontro este website oficial?”, indaga.

O mesmo espera que a aplicação seja mais do que um guia, sendo também um sistema de acesso direto a uma série de procedimentos mais convenientes para os residentes de Macau. Sugere ainda que seja melhorada a promoção destes canais entre a população local.

Cidades inteligentes

No que diz respeito ao desenvolvimento de cidades inteligentes na Grande Baía, Leong menciona que apesar da tecnologia 5G estar numa fase avançada no continente, o contexto atual ainda não é o mais conveniente para residentes de Macau.

“Por exemplo, atualmente na China é preciso registar um código QR que mantém o registo do nosso percurso nos últimos 14 dias. Contudo, em Macau muitas empresas de telecomunicações oferecem o serviço de ‘um cartão, dois números’, que impossibilita a criação de um código com um número do continente. Isto leva-me a explicar constantemente que utilizo um número de Macau. Os oficiais do controlo fronteiriço já estão habituados à situação e deixam-me passar. No entanto, se for para algum lugar longe da fronteira, por vezes não compreendem porque não tenho o código, o que é um pouco inconveniente”, revela.

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Sou, que trabalha na indústria de tecnologia de informação, acredita que existe muito para aprender com o desenvolvimento da tecnologia 5G no continente.

O mesmo espera que o Governo não se foque apenas na Conta Única – uma plataforma digital disponibilizada aos residentes de acesso comum aos serviços públicos da RAEM – e que procure desenvolver a cidade simplificando uma série de procedimentos e melhorando os transportes.

O residente cita Hangzhou como exemplo de uma cidade onde grandes bases de dados estão já a ser usadas na reforma do sistema transportes.

Johnson Ian, vice-presidente da Associação da Sinergia de Macau

“Macau está maioritariamente a comprar serviços de tecnologia de informação ao continente. No entanto, a questão sobre que serviço, operador e plano escolher, a forma de implementação, assim como futuro e início dos mesmos (…), até agora nada”.

Johnson Ian, vice-presidente da Associação da Sinergia de Macau, afirma que estão atualmente a ser desenvolvidas cidades inteligentes na Grande Baía e Macau. O mesmo acredita que apesar dos problemas com a Conta Única de Macau, tem havido progresso no que diz respeito à experiência dos utilizadores e serviços públicos.

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“Estas são apenas as bases de uma administração eletrónica. Aquilo que pedimos é que seja construída uma cidade verdadeiramente inteligente, que tire partido de grandes bases de dados para melhorar a qualidade de vida, comércio e administração em Macau, mas ainda temos um longo período a percorrer”, sublinha ao PLATAFORMA.

O mesmo responsável sugere que o Governo implemente a participação da comunidade, através do recrutamento de utilizadores-teste para aplicações móveis que ofereçam feedback sobre a sua experiência, assim como a abertura destes dados ao grande público.

Apesar de acreditar que é isto que o Executivo já está a fazer, até agora não foi publicada nenhuma informação relacionada.

“O Governo apenas poderá promover o conceito de ‘Smart+’ se garantir o acesso aberto a estes dados”, conclui.

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