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Passeios pouco amigos das cadeiras de rodas

Carol LawCarol Law

A colisão entre uma cadeira de rodas elétrica e um táxi foi alvo de grande discussão na RAEM, com a Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego a revelar que a retificação da Lei do Trânsito Rodoviário irá incluir limitações à velocidade destes veículos. Contudo, várias associações alertam para os problemas da calçada, algo que obriga o uso da estrada, e apelam também à intervenção do Governo

A colisão entre uma cadeira de rodas elétrica e um táxi na Zona Norte da cidade levou à partilha de vários vídeos deste tipo de veículos a circular nas estradas ou em alta velocidade nos passeios, levando muitos a questionar a sua segurança rodoviária. Wong Man Pan afirmou ao Jornal do Cidadão que as autoridades são, em certa medida, responsáveis pelo acidente ocorrido. O membro do Conselho Consultivo do Trânsito referiu que a questão da velocidade das cadeiras de rodas foi levantada durante a consulta pública da Lei do Trânsito Rodoviário em 2018. Vários intervenientes alertaram para a capacidade de alguns veículos atingirem velocidades de 30 a 40km/h, algo que dizem representar uma ameaça à segurança de peões e condutores.

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A consulta incluiu a discussão de limites de peso e velocidade, tendo sido mencionada a necessidade de alterar a lei, algo apoiado pela maioria, defende Wong Man Pan. Todavia, três anos após a consulta, as autoridades continuaram a adiar a sua implementação. Apesar da Direcção dos Serviços para os Assuntos de Tráfego (DSAT) afirmar que a revisão será apresentada este ano, ainda não assistimos a qualquer progresso na revisão do documento. O diretor da DSAT anunciou que as atuais regulamentações de trânsito não abrangem o uso de cadeiras de rodas elétricas.

Lam Hin San salientou ainda que futuras revisões à Lei do Trânsito Rodoviário irão incluir propostas para limitar a velocidade de circulação destes veículos e será usada a métrica dos seis quilómetros por hora como referência, algo aplicado em grande parte do mundo. O incidente em causa revela a insuficiência de espaços acessíveis em Macau. O vice-presidente da Associação de Apoio aos Deficientes explicou ao All About Macau que o acidente foi um caso isolado, salientando que é apenas uma minoria a ter uma “cobiça pela conveniência”.

Contudo, Cheng Fok Um não deixou também de reiterar a existência de uma litania de problemas a obrigar os utilizadores destes veículos a sair dos passeios, sendo que os mais comuns são obras, sinais de trânsito e estacionamentos ilegais. Quando se encontram perante este tipo de situações “são obrigados a sair do passeio e andar em contramão para conseguir passar”, explica. Já o presidente da mesma associação deu o exemplo do surgimento de várias cadeiras de rodas elétricas criadas para as ruas largas do Interior da China, capacitadas para atingir velocidades elevadas, segundo o Jornal Ou Mun.

Ho Weng Hong, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central

Vong Kuoc Ieng afirma que estas cadeiras representam um risco para Macau e os modelos destes veículos e o seu limite de velocidade devem ser alvo de regulamentação. Cheong Sok Leng, membra do Conselho Consultivo do Trânsito, explicou ao Jornal Ou Mun que os veículos podem representar um risco para os restantes peões se circularem a velocidades altas ou com uma carga pesada.

Segundo Cheong, a atual regulamentação não obriga as cadeiras de rodas a circular nos passeios, mas sugere a realização de um estudo sobre as especificações destes veículos importados. A responsável advoga também restrições à velocidade dos veículos, modificando-os para que não haja qualquer uso adulterado das cadeiras ou acidentes. A representante do Conselho Consultivo do Trânsito sugere que as autoridades modifiquem as normas de supressão de barreiras arquitetónicas para melhorar as vias dos peões em várias zonas da cidade e prevenir a circulação das cadeiras nas estradas. Os problemas referentes a este tipo de circulação rodoviária não são exclusivos a Macau.

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No Interior da China, foi já discutida a falta de regulamentação e o perigo dos veículos de mobilidade para idosos. Atualmente, já são várias as regiões a implementar medidas de resposta à popularidade das cadeiras de rodas elétricas, segundo afirmou Ho Weng Hong, membro do Conselho Consultivo de Serviços Comunitários da Zona Central, ao Jornal Chengpou. A cidade de Guangzhou, por exemplo, anunciou um conjunto de regulamentações para a administração destas cadeiras para pessoas com mobilidade reduzida de forma a poder lidar com a situação.

Ho Weng Hong alerta para o facto de Singapura, Reino Unido e os Estados Unidos da América terem emitido regulamentações e limites de velocidade para cadeiras de rodas elétricas, permitindo que sejam amplamente empregues sem riscos. O mesmo acredita que o Governo deve usar estas medidas como referência e regular estes veículos na cidade o mais cedo possível, para conseguir prevenir acidentes fatais causados pelo seu uso impróprio. Ho Weng Hong defende ainda que pessoas com mobilidade reduzida devem ter acesso a cadeiras seguras, de qualidade e sem quaisquer modificações ilegais, aprovadas pelo Executivo.

“A comunidade deve assumir uma atitude flexível na forma como interage com estas cadeiras. Devemos mostrar empatia pelo outro e continuar a desenvolver a cidade de forma inclusiva, mas o Governo deve continuar a melhorar a qualidade das ruas da cidade para que as cadeiras de rodas elétricas consigam ser usadas de forma alargada e legal”, especificou.

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