
“Em tempos ‘normais’, encontramos nas artérias barulhentas e congestionadas de Nairobi, a capital do Quénia, dezenas de vestes safaris de cor creme, turistas em calções e bonés, a caminho de descobrir os famosos ‘Big Five’, os animais mais perigoso da savana. O mês de julho marca o pico da temporada, quando americanos, europeus e chineses estão prontos para pagar um preço alto para testemunhar em Masai Mara a ‘grande migração’, a perigosa travessia de milhares de animais entre a Tanzânia e o Quénia.”
Começa assim um texto do jornal Le Monde Afrique sobre o impacto do coronavírus no Quénia, um dos países mais desenvolvidos de África graças ao bom aproveitamento do seu potencial turístico.
Esta é uma imagem que pode ser transposta para qualquer ponto do planeta cujas economias dependam da actividade turística.
Nunca a normalidade me pareceu ser o passo mais próximo da felicidade
Quénia, Indonésia, Macau, Brasil, Itália e… Portugal. Países que se tiveram até há poucos meses o turismo como um ‘El Dorado’.
Retive a frase “em tempos normais” deste artigo. Em tempos normais numa ida ao local por excelência do turismo em Portugal, o Algarve, em dias de brisa quente, dias grandes e mar quase chão, as artérias estavam tão barulhentas como em Nairobi e as ruas seriam uma Babilónia de línguas e trajes.
Na entrada de uma loja, o rosto de um homem marcado pelo sol do Sul olha-me na esperança de que não saia dali sem lhe deixar uns euros. Contou-me, depois, que às cinco da tarde daquele dia, foram os únicos euros que lhe entraram na caixa. “É a minha primeira pessoa que hoje me entrou na loja”, disse e quase que lhe vi um lacrimejar. “Em tempos normais…”, disse-me em despedida.
Nunca a normalidade me pareceu ser o passo mais próximo da felicidade.
*Editora da edição portuguesa do Plataforma