Esta semana soube que um dos meus irmãos tem Covid-19. Lembro-me do dia em que nasceu. Lembro-me de me sentar ao lado do berço quando ficou extremamente doente em bebé. Lembro-me da felicidade quando teve a primeira filha. Não somos muito próximos e nunca nos demos particularmente bem, mas é meu irmão. Esta semana soube que quando tudo isto acabar quero vê-lo e falar com ele.
Esta semana soube que a minha mulher foi temporariamente dispensada do trabalho, de um emprego que ela ama, e o meu filho mais novo teve a primeira oferta de trabalho rescindida, ambas situações causadas pelo encerramento de atividade no Reino Unido. Era suposto eu também estar lá esta semana, mas tive de cancelar a viagem. Posso falar online com eles por Skype, mas não os posso abraçar nem consolar. Esta semana soube que quando tudo isto acabar tenho de aproveitar todas as oportunidades para demostrar o meu amor como marido e pai.
Esta semana soube que um amigo com o qual não falava há três anos morreu há dois anos atrás, sozinho na sua casa na Grécia. Descobri tal através de um tweet sobre uma morte relacionada com o Covid-19 que continha um vídeo que o meu amigo tinha feito para essa pessoa. Esta semana soube que nunca devo deixar passar a oportunidade de falar com os meus amigos.
Quando tudo isto acabar, será que as coisas voltarão ao que chamávamos de “normal”? Acho que não, e na verdade, espero que não. Estou rapidamente a aperceber-me de que isto não é uma pausa nessa “normalidade”, mas sim um fim e um novo início: início de uma nova “normalidade”. Através de pequenos sinais sinto que, enfrentado uma crise, descobrimos que algo nos importa mais do que a infinita procura de satisfazer as nossas próprias ambições e desejos a qualquer custo.
Descobrimos, ou até relembramos, a importância das nossas relações com amigos e família, colegas e conhecidos. Quando tudo isto acabar, espero, e rezo, para que a antiga normalidade, egoísta, com base em objetos e consumo crescente, desapareça, e que a nova normalidade a substitua.
