São quatro as expectativas expostas pelo Presidente Xi Jinping no discurso após a tomada de posse de Ho Iat Seng como Chefe do Executivo da Região Administrativa Especial de Macau, que há uma semana celebrava o 20o aniversário. Mais que expectativas são linhas gerais para um caderno de encargos para a equipa liderada por Ho Iat Seng colocar em prática nos próximos cinco anos. Melhorar a governação, o desenvolvimento sustentável da economia, a vida dos cidadãos e prosseguir com a inclusão social, consolidando a harmonia e estabilidade social. De forma não surpreendente, as expectativas expressas por Xi estavam já plasmadas, em grande medida, no programa eleitoral de Ho quando se candidatou a Chefe do Executivo, faltando agora a tradução destas traves mestras em medidas concretas que deverão ser anunciadas com mais detalhe nas Linhas de Ação Governativa dentro de três a quatro meses.
A primeira expectativa traçada pelo Presidente deverá assumir prioridade desde a primeira hora. A reforma administrativa rumo a uma governação mais eficiente, moderna, honesta e com amplo recurso às novas tecnologias será um desafio de monta. Seria também importante, a este nível, realizar avanços graduais ao nível de mecanismos democráticos, algo que, todavia, esteve ausente nos discursos quer de Xi quer de Ho.
A grande empreitada que vem sendo adiada é uma moderada mas substancial diversificação da economia. Não há poções mágicas para esse efeito, mas a direção está traçada e há que acelerar o passo. E o alinhamento com as estratégias nacionais do plano de desenvolvimento da Grande Baía, e a Iniciativa Faixa e Rota é seguramente essencial. Todavia é necessário ir bem para além das proclamações. É preciso agir no concreto com inteligência, determinação e voz própria. No eixo “um Centro, uma Plataforma, uma Base” – salientado por Xi Jinping – a cooperação com os países de língua portuguesa é não apenas uma mais-valia mas um projeto cujo potencial está ainda subaproveitado, não obstante os passos importante que já foram dados. Com empenho e sem complexos enferrujados, uma aposta mais profunda na dimensão sino-lusófona de Macau permitirá a criação de um ciclo virtuoso. É uma via estruturante de longo-prazo para diversificação económica de Macau, estimula a capacitação de capital humano bilingue local, confere identidade e escala à participação da RAEM na integração regional e na Nova Rota Marítima da Seda, é um instrumento, por excelência, do soft power de Pequim num contexto externo complicado e enriquece a prática do princípio Um País Dois Sistemas. Havendo visão, metas concretas, investimento e instrumentos, não há que enganar. É aposta segura. A casa vai ganhar. Todos vão beneficiar.
José Carlos Matias 27.12.2019